A tropa na miséria

Em 27 de agosto de 1835, o major João da Gama Lobo d’Anvers, comandante da fragata Imperatriz, relata ao marechal Manoel Jorge Rodrigues, presidente da província e comandante das armas, a situação de “extrema miséria e necessidade” na qual e encontravam os oficiais do batalhão nº 5 de caçadores de 1ª linha, “que ora jazem pelas circunstâncias de serem roubados”, nada mais lhes restando, assim como às suas “desgraçadas famílias”, que levaram para bordo,

O comandante “implora” ao marechal que mande pagar “alguns meses de soldo, que se lhes estão devendo, para poderem assim socorrer suas famílias”.

(Códice 526 do Arquivo Público do Pará)

17 comentários sobre “A tropa na miséria

  1. ricardoconduru 15 de julho de 2022 / 12:35

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    A Revolta da Vila de Cametá de 1826

    Jornal “Gazeta de Lisboa”, nº 164, de 15 de julho de 1826, folhas 3 e 4, divulga notícias sobre a revolta ocorrida na vila de Cametá em abril de 1826, contra os europeus, quando muitos foram mortos e presos. Também trata da reação do governo da província frente aos acontecimentos.

    NOTÍCIAS MARÍTIMAS

    Entradas de navios

    (…)

    Idem (julho) 12. Português, bergantim Pensamento Feliz, do Pará em 46 dias, com arroz e algodão, e 4 passageiros.

    Por este Bergantim constou que no dia 22 de abril ti­nha rebentado uma revolução na Vila de Cametá con­tra os europeus , dos quais mataram uns e prenderam outros, apoderando-se os revolucionários das autoridades. Logo que esta noticia chegou à cidade, o governa­dor fez partir para aquela vila a escuna de guerra Carolina, com 250 homens de tropa, comandada pelo Major de Artilharia Antônio Ladislau; mas por causa da má navegação que fez, só depois de 15 dias é que che­gara a Cametá, dando tempo com esta demora a que os revoltados estivessem fortificados, de sorte que ao desem­barque da expedição, foi esta completamente derrotada, ficando muitos prisioneiros, e sendo obrigada a escuna a retirar-se com os poucos que escaparam. No dia 14 de maio, quando se tratava de outra expedição mais forte, os mesmos prisioneiros que estavam em Cametá, juntos com os muitos descontentes que ali havia, fizeram uma contrarrevolução , e conseguirão prender alguns dos che­fes da revolta, e outros, em numero de 40, e restabeleceram novamente a ordem. Apesar disto, a expedição que se estava aprontando sempre partirá para aquela vila, a fim de conservar a tranquilidade, e fazer executar as sentenças dos culpados, que ali mesmo hão de ser julga­dos.

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  2. ricardoconduru 15 de julho de 2022 / 12:36

    BLOG CABANAGEM REDESCOBERTA – Por Ricardo Condurú

    O Grito de Guerra Cabano ecoa em Portugal

    Jornal “Diário do Governo”, de Lisboa, Portugal, nº 280, de 27 de novembro de 1835, página 4, publica sobre a segunda tomada de Belém pelos cabanos, em agosto de 1835, do bloqueio do porto de Belém pelas forças imperiais, do transporte de mulheres e crianças para a ilha do Marajó e do grito de guerra dos revoltosos.

    PARTE NÃO OFICIAL

    Notícias Estrangeiras

    (…)

    América Meridional

    Pará, 2 de Setembro.

    Um bergantim trouxe a noticia de que a 24 de agosto, os índios foram arrojados da cidade do Pará depois de uma resistência de oito dias. O presidente não fez nenhum preparativo de defensa. As suas forças sem embargo disso com­ punham-se de 300 homens de tropas regulares e 400 voluntários. Os índios não excediam a mais de 100 a 200 guerrilheiros. A 23 foi en­tregue a cidade a este punhado de inimigos; o presidente com as suas tropas retirou-se para bordo. A maior parte das peças de artilharia que deixaram no palácio da presidência, sem terem tido a precaução de encrava-las, foram dirigidas contra os navios que estavam-no por­to. Os estrangeiros que-confiavam na vigilância do governador e da marinha, tiveram que embarcar-se precipitadamente sem poder fazê-lo com os seus haveres e efeitos. A cidade esteve entregue ao ferro e fogo durante todo o dia 24. O grito guerreiro dos índios era: extermínio dos brancos.

    O Comodoro Taylor chegou diante da cidade com quatro fragatas, e declarou o porto em estado de bloqueio. Depois recebeu a bor­do da sua esquadrilha mais de 3.000 pessoas. As mulheres e meninos foram transportados com boa escolta para a ilha de Marajó.

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  3. ricardoconduru 15 de julho de 2022 / 12:38

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Proclamação da Câmara da Vila de Vigia de 1823

    Jornal “Gazeta de Lisboa”, nº 67, de 18 de março de 1824, folha 3, publica a Proclamação da Câmara da Vila de Vigia, de 15 de novembro 1823, extraída de um periódico brasileiro cujo nome não é mencionado. A proclamação alerta sobre os insurgentes que ameaçam várias vilas paraenses, e da necessidade dos cidadãos seguirem as determinações da Câmara como forma de repelir e/ou neutralizar as ameaças. O documento cita como exemplo de catástrofe a revolução dos escravos ocorrida na ilha de São Domingos, externando assim o temor de que este movimento pudesse de alguma forma influenciar os insurgentes, exortando então sobre a necessidade da união em torno do trono de D. Pedro I.

    PORTUGAL

    Porto, 10 de março

    Em um dos periódicos que conduziu o Bergantim General Rego, entrado do Pará, se lê um documento que bem mostra as inquietações que se experimentam nas vilas daquela província: enquanto pois os brasileiros não abraçarem e seguirem um só sistema (e este o monárquico, que unicamente lhe convém), sujeitando-se às leis, respeitando as autoridades, e procurando conservar a paz e harmonia, unindo-se aos europeus em fraternidade, nunca encontrarão sossego; antes sim verão suas habitações expostas aos mal-intencionados, vivendo em contínuas anarquias, de que são consequências certas, violências, saques e mortes. O referido documento é o seguinte.

    Proclamação da Câmara da Vila da Vigia aos habitantes da mesma

    “Ilustres vigienses, cidadãos honrados, a nossa pátria está em sossego; porém ela se vê em perigo; os insurgentes andam espalhados: Cametá, Muaná, Cintra, e a nossa vizinha Vila-Nova, têm sido a presa da impostura e da anarquia; o contágio lavra, e a nossa terra se vê ameaçada! A Câmara tem receio, o qual é bem fundado. Vós murmurais das suas providências à maneira do povo hebreu no deserto! Quereis acaso comparar-vos com aquele povo carnal, que não cria no Deus dos Exércitos, quando ele visivelmente os protegia, e obrava milagres a seu favor? Ah, sim, sedes diferentes no nome, mas não na fraqueza! Acaso a falta da lição da história vos tem arrastado à murmuração? Não por certo, porque entre vós giram homens que sem dúvida vos terão contado alguma coisa mais memorável dela, da revolução das nações; e enfim da grande miséria da França no tempo da sua república, ou governo democrático; mas para que nos remontamos se temos a desastrosa catástrofe da Ilha de São Domingos, que é adjacente ao mundo novo que pisamos! Acaso falta em vós aquela razão natural de que Deus dotou o racional? Acaso pensais que a Câmara com o comandante da força armada toma expedientes de defesa a vossa custa, para vos incomodar somente sem causa urgente? Enganais-vos, a experiência, esta mestra universal, guiada pela razão reflexionada, vos pode mostrar em quadros bem dolorosos na capital, e em algumas das vilas da província, e que a Vigia hoje pacífica, como em outro tempo aquelas, se pode tornar como elas em um momento a morada do terror, do crime e da morte!!! A Câmara fazendo melhor conceitos dos ânimos pacíficos dos cidadãos não confunde o justo com o injusto; porém, ela vê, ouve, observa, reflexiona, e conhece o veneno da discórdia voadora, da cobiça, da vingança, do clima, das paixões, todas próprias dos ânimos fracos das almas apoucadas; reconhece, enfim, que quando o físico do corpo não está bom, não podem as partes mais mínimas estarem em equilíbrio com os humores; enfim, concidadãos, se pensais que os insurgentes costumam guardar os direitos das gentes, se pensais que para vos acometer, e as vossas propriedades, honra, e vida, eles usam de alguma formalidade política primeiro que ataquem, estais enganados; a sua invasão é pronta e tumultuária, sem mais formalidade que a satisfação das suas desenfreadas paixões, de matar, roubar, violar a honra, e reduzir tudo a cinzas. Não! Pensai bem, e vereis as determinações da Câmara bem acertada. Não é de inimigos estrangeiros que devemos recear; o nosso receio é de inimigos internos, e nós talvez os alimentemos, que desgraça!… Para se arredarem para mais longe as desgraças é que a Câmara se tem deliberado, com o comandante da força armada nesta vila, a por um corpo de guarda com sentinelas avançadas, e patrulhas rondantes; assim se sustentará sem dúvida a tranquilidade de que até aqui felizmente temos gozado, para cujo fim esta Câmara com as mais autoridades tem determinado, que o corpo dos cidadãos seja alistado, e repartido em 3 detalhes; que cada um destes interpoladamente façam rondas, e guardas, junto com o corpo miliciano; cujo detalhe depois de feito, e avisado, seja entregue ao capitão Francisco Antônio Galvão, a quem a mesma Câmara encarrega a sua execução, e juntamente o poder de castigar à voz do senado com três dias de prisão a todo aquele que prontamente não concorrer sendo avisado, não podendo o mesmo capitão aumentar, nem diminuir os castigo, além do determinado, e isto pela primeira vez; pela segunda o dobro; e pela terceira processado como desobediente às autoridades constituídas. Cidadãos, uma vez que vos conformeis com as providências dadas, e não murmureis das autoridades que vos governam, antes confiando nelas obedeçais, não podeis ter que recear. Lembrai-vos, concidadãos, que olhando só para os interesses particulares, não podeis cooperar para o bem comum, que é ao presente de que tratamos; porém a obediência às autoridades é o único meio de conservar-vos a tranquilidade pública que gozamos.

    Esta Câmara assim o espera de um povo tão civilizado, que faz timbre em sustentar firme o trono do seu Augusto Monarca. Viva a nossa Santa Religião; Viva o nosso Augusto Imperador o Senhor D. Pedro I; Viva a nossa Augusta Imperatriz; Viva a Dinastia Imperial Brasileira; Vivam os honrados vigienses, portugueses, brasileiros e europeus em indissolúvel união; Viva a paz; Viva a concórdia na Vigia. Feita em Câmara de 15 de novembro de 1823. (seguem-se as assinaturas).

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  4. ricardoconduru 15 de julho de 2022 / 13:59

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Acusações de desmandos contra José de Araújo Rozo

    Jornal “O Spectador Brasileiro”, nº 196, de 7 de novembro de 1825, folha 1, publica correspondência de Francisco Caldeira Geraldis denunciando que havia sido preso sem culpa formada pelo Presidente da província do Pará, José de Araújo Rozo. Ressalta-se que a correspondência de Francisco é de 29 de outubro de 1825, sendo que a gestão de Rozo findou em 25 de maio, assumindo em 28 do mesmo mês José Félix Pereira de Burgos, o barão de Itapicuru-Mirim

    CORRESPONDÊNCIAS

    Sr. Redator,

    Rogo-lhe a mercê de inserir em sua luminosa folha o seguinte para a ilustração do sensato público. Sou paraense, e por nascimento pertenço àquela infeliz província, patrimônio dos mandões, e dos tiranos; o último, e que agora se acha nesta Corte, o decantado José de Araújo Rozo, mandou-me prender naquela província, sem culpa formada, nem por formar, teve-me incomunicável muito tempo, e depois de escapar das rodas de pau, que levaram alguns miseráveis à eternidade, mandou-me meter a bordo do brigue Cacique em 25 de março deste ano, o qual ia navegar para Maranhão, cheguei ali fui baldedo para a nau Pedro I, nela vim à Bahia, e dali a esta Corte onde cheguei em a 24 de junho, sendo passado para a nau Presiganga, onde me acho em ferros, porque em ferros vim! Eis aqui um servição de Rozo, não me acompanhou processo, porque não tinha de que formar, e já se achava morto o seu juiz de fora, Pedro Rodrigues Henriques, o qual embrulhava a quantos ele queria em papeis, não me acompanhou participação alguma porque Rozo só me queria desterrar do Pará, sua propriedade. O mesmo que me sucede acontece com Anastácio José dos Passos, que foi meu companheiro em viagem, com a diferença que este tinha chegado a pouco à província, tendo naufragado próximo a Maranhão quando desta Corte foi justificado das calúnias e injustiças que lhe armou José Ribeiro Guimarães Comim, que também aqui se acha, sendo secretário do governo provisório. Agora convido aquele mandão, aquele déspota para que declare ao público qual é o meu crime, onde existe o meu processo, ou qual o destino que me queira dar; ficando ele certo que S. M. I. já mandou informar-se no Pará. Nau Presiganga, 29 de outubro de 1825.

    Francisco Caldeira Geraldis.

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  5. ricardoconduru 15 de julho de 2022 / 15:21

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Félix Malcher, o Tigre Acaraense

    Jornal “O Spectador Brasileiro”, do Rio de Janeiro, nº 228, de 27 de janeiro de 1826, folhas 2 e 3, publica violenta carta do intitulado “Pimpa” contra Félix Antônio Clemente Malcher, a quem acusa de promover o roubo, a perseguição e morte de portugueses, de ser republicano, e até de ter responsabilidade na morte de mais de 250 pessoas no navio brigue Palhaço. Sendo Pimpa um declarado inimigo de Malcher, todas as reservas são necessárias na leitura e interpretação da escrita; porém, dados os devidos descontos aos possíveis exageros, vislumbra-se fatos novos no período que se seguiu à adesão do Pará à independência do Brasil, como a existência de um forte grupo republicano, tendo como um dos líderes Malcher, já descrito em outra carta de Pimpa como almejador da presidência da república. Ressalta-se ainda a descrição de Malcher como o “tigre Acaraense”. Esse apelido irá ressurgir em diversos periódicos por ocasião da eclosão da cabanagem.

    Senhor Administrador,

    Ainda hoje as nações com desprezo se recordam da memória de Heróstrato, por haver reduzido a cinzas o magnífico templo de Diana [Ártemis] em Éfeso. Heróstrato, de nascimento vil, nada empreendia fazer, que fosse capaz de granjear-lhe crédito, a excessão de por em prática aquilo que a sua natural vileza lhe ditava. Por isso, reduzindo o templo a chamas, julgou adquirir um nome mais durável que o mármore e bronze, não se lembrando que com ele só o alcançaria uma fama tanto abominável quanto eterna.

    Assim aconteceu ao execrável e sempre malvado Tigre Acaraense (*), que por seus detestáveis procedimentos é geralmente conhecido no céu, no inferno, e no mundo velho e novo por sanguinário monstro da humanidade. Este malvado tigre acaraense, não possuindo proporções para fazer-se ilustre pelas ciências, artes, e virtudes, por lhe haver negado a natureza tão singulares dons, que só concede a estes de espíritos bem formados, pretendeu fazer-se célebre, constituindo-se principal instrumento de mil coisas, que cada uma delas mais nefanda é que a destruição do templo de Diana.

    Aparece vil criatura, trinta mil vezes mais vil que Heróstrato, e ouve a justa narração de uma pequena parte que forma a tremenda e horrível série dos mais iníquios fatos de que é autor. Heróstrato se limitou a destruir um edifício material, porém, tu avançaste a mais; conchavaste a muitos inexperientes teus patrícios para votarem em teu favor quando se tratava de organizar uma junta governativa, que bem administrasse a província. Conseguiste criminosamente ser membro do governo, e manhoso promoves a sizânia e a rivalidade entre o bom povo da capital. Dado este 1º passo rápido navegas em direitura à vila de Cametá, e ali de acordo com o sempre mau, ladrão, matador, o execrável Roxinho, decretas o roubo, a morte, e a perseguição eterna contra os filhos de Portugal, já então cidadãos brasileiros. Ao teu regresso para a capital os cametaenses, aqueles, digo, só discípulos da tua doutrina, se transformam em feras, declaram a anarquia e a porfia, roubam bens e vidas de um grande número de indivíduos sumamente úteis à sociedade! O dinheiro extorquido e o luso sangue derramado naquele só distrito não farta tua vontade; e por isso de cá mesmo animas e recomendas aos chefes daquelas legiões de demônios levem o mesmo gênero de estragos às vilas de Oeiras, Portel, Melgaço, Ilha de Joanes, Igarapé-Miri e outros pontos da província, e por último se dirigissem à capital a fim de operarem as mesmas atrocidades. Aferventas a discórdia na cidade, declaras-te inimigo acérrimo do então presidente da junta [Geraldo José de Abreu], por ser só o único que obstava a execução dos teus iníquios projetos. Vomitas os mais escandalosos impropérios contra o Exmo. prelado diocesano, calunias desapiedadamente a pessoa do arcediago, desfechaste a raiva e o ódio contra todos os cidadãos, como estes, honrados, tementes a Deus, fieis ao Soberano e às suas leis, aferrolharte em ediondos cárceres a virtude, premiaste o vício, e com estusiasmo fazes aparecer e vigorar a confusão pavorosas entre filhos e pais, entre irmãos e parentes, entre maridos e esposas, entre brancos e pretos, entre senhores e escravos! Depois de haveres feito em pedaços os laços da freternal Sociedade Paraense, ainda não satisfeito apresentas contra esta já em extremo consternada Belém o roubo e o assassínio!!! Foste causa de passarem desta para a outra vida 250 e tantos brasileiros a bordo do navio Palhaço. Baniste das nossas fileiras os mais hábeis oficiais. Demitistes dos lugares civis aos mais honrados indivíduos, investindo nos empregos vagos a apaniguados teus, tão perversos como tu. Degradastes 700 e tantos chefes de famílias ficando estas assaz expostas às tristes consequencias de uma época de fatalidades. Somas avultadas de dinheiro arrecadastes de muitos indivíduos a quem tinhas dado palavra de não entrarem na lista dos deportados, o que todavia assim não sucedeu. Sepultaste finalmente a pátria, e sobre a ensanguentada campa tentaste levantar a estátua emblema da república, e proclamares-te absoluto chefe dela!!! Que responde a isto, horrendo monstro republicano? Ah, que glória não seria a tua se conseguisses a consumação dos teus projetos, e que dia viesse que ditasses a lei que deverá reger a opulenta república do vasto Amazonas! Diz-me, furioso vovô republicano, quanto não exultarias vendo-te no trono rodeado de teus súditos, e que estes te entoassem hinos de Paiquicé, Tupinambá, Comeran [Camecran?], e …. acompanhados de rebeca de branco, flauta de pardo, e marimba de preto!!! Etc., etc., etc.

    Horroroso monstro, cruel matricida! Põe termo às tuas iniquidades, abandona esses vis espectros, tais como tu, qua ainda entre nós vagueiam, dá graças à Providência, e tributa guardião ao Augusto Soberano que benigno te concede ainda essa escalvada cabeça sobre os ombros.

    Sr. Administrador, sou seu.

    O duas vezes Pimpa.

    (*) O apelido desta fera principia pela palavras com que se escreve mal, malvado, maldito e assemelha-se com a palavra francesa Malchus, que significa alfange curvo: parece que é aquela besta de dois cornos que trata o apocalipse chamada iperaspiste, que significa escudeiro do anticristo, de cuja boca viu o evangelista vomitar negras blasfêmias.

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  6. ricardoconduru 9 de agosto de 2022 / 19:21

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Os representantes do Grão-Pará nas Cortes de Lisboa em 1821

    Jornal “O Paiz”, do Rio de Janeiro, nº 15716, de 1 de novembro de 1927, folha 1, publica a relação dos deputados brasileiros nas cortes de Lisboa em 1823, da qual destacamos os representantes do Grão-Pará e do Rio Negro.

    REPRESENTANTES DO BRASIL NAS CORTES DE LISBOA EM 1821

    (…)

    Pelo Deputado Nelson de Senna.

    (…)

    Pela então comarca do Rio Negro (depois, em 1843, denominada província do Amazonas), embora ainda fizesse parte da vasta província do Grão-Pará, foram então eleitos um deputado e seu suplente:

    1 – João Lopes da Cunha (Tomou assento algumas vezes como deputado suplente, nas Cortes de Lisboa, enquanto durou a ausência do deputado efetivo José Cavalcante de Albuquerque);

    2 – José Cavalcante de Albuquerque (Compareceu afinal às Cortes Constituintes e se manteve nela pelo resto da sessão legislativa do Parlamento Português, até 1823, tendo com a sua presença cessado o desempenho do mandato do seu suplente já referido).

    Pela província do Pará (então denominada Grão-Pará) foram eleitos dois deputados, embora ali tivessem assento três representantes paraenses propriamente ditos, aos quais fora mais curial reunir também os representantes amazonenses, cujo território estava sujeito a jurisdição do Pará:

    1 – Felippe Alberto Patroni Martins Maciel Parente, bacharel em Direito. (Este não foi propriamente “deputado regularmente eleito pelo Pará”, mas foi admitido apenas a tomar assento e falar uma vez perante as Cortes, como especial homenagem à província de que era filho e delegado e por haver sido ela a “primeira que aderira à revolução portuguesa de 1820”). Em nota apensa, melhor diremos da personalidade interessante de Patroni, noutro capítulo deste estudo;

    2 – D. Romualdo de Souza Coelho, bispo do Pará. (Compareceu às Cortes de Lisboa e assinou e jurou à Constituição por elas votadas). Foi um obediente partidário dos interesses da metrópole. Na obra de Gomes de Carvalho – Os deputados brasileiros nas Cortes Gerais de 1821 – vem referido o nome de outro representante paraense, Joaquim Clemente da Silva Pombo, escolhido como suplente para substituir eventualmente a qualquer dos deputados efetivos (D. Romualdo ou Souza Moreira);

    3 – Francisco de Souza Moreira (Foi deputado efetivo e ocupou a sua cadeira até final encerramento das Cortes constituintes e do Congresso de Lisboa). Destacou-se como ardoroso e fiel defensor dos interesses brasileiros, sempre que a causa da pátria ali esteve em jogo.

    (…)

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  7. ricardoconduru 19 de agosto de 2022 / 19:25

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Os Batalhões de Trabalhadores Civis criados durante a Cabanagem

    Revista “Diretrizes: Política, Economia, Cultura” (RJ), Edição nº 8, de novembro de 1938, folhas 12 e 13, publica artigo do estudioso de questões militares, coronel Luís Lobo, sobre o exército e o problema do cangaço, de onde extraímos trecho que cita a criação de batalhões de trabalhadores civis pelo então presidente da província do Pará em 1836, Francisco José de Sousa Soares de Andrea, o qual teria se antecipado aos alemães, que durante a 1ª grande guerra fizeram uso desse mesmo tipo de organização.

    O Exército e o problema do cangaço

    Coronel Luís Lobo

    A função social do exército em face dos problemas mais agudos da realidade brasileira é aqui analisada por um de seus membros, coronel Luís Lobo, cuja cultura geral e como dos mais conscientes estudiosos de nossas questões militares, dá às suas palavras uma importância excepcional.

    (…)

    Quando o grande administrador que foi Soares de Andrea dominou os cabanos do Pará, à mingua de tropas suficientes para consolidar a vitória, realizou com batalhões de trabalhadores civis que teve a ideia feliz de criar, a obra de reconstituição econômica da dessorada província da Amazônia.

    Durante e após a guerra mundial de 1914, os alemães fizeram largo uso dessa organização, tida então como original, quando nós já a havíamos possuído pelas priscas eras de 1835. (…)

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  8. ricardoconduru 25 de agosto de 2022 / 21:57

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    O Cabano Dhitome Donate

    “Jornal do Commercio”, de Manaus (AM) nº 2176, de 22 de abril de 1910, folha 2, publica que em 22 de abril de 1835 o cabano Dhitome Donate percorria as imediações do porto da localidade de Serpa.

    GRÃOS HISTÓRICOS

    22 DE ABRIL

    (…)

    1835 – José Antônio da Fonseca, comandante do posto militar de Serpa, hoje Itacoatiara, comunica ao capitão Ambrósio Antônio Ayres, por antonomásia Bararoá, que o chefe dos cabanos, Dhitome Donate, percorria nas imediações daquele mesmo porto.

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  9. ricardoconduru 3 de setembro de 2022 / 19:32

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Vila de Santarém é acometida por mil cabanos em agosto de 1837

    Jornal “O Universal”, de Ouro preto, Minas Gerais, nº 79, de 11 de agosto de 1837, folhas 3 e 4, publica uma correspondência tratando sobre a situação da província do Pará em junho de 1837. Em certo trecho, o correspondente informa sobre a invasão da vila de Santarém por mil cabanos, em 6 de agosto de 1837, com um saldo de dezenas de mortos.

    (…)

    O Amazonas está sublevado; e a vila de Santarém foi a 6 deste mês acometida por mil cabanos que retrocederam; deixando nas nossas trincheiras 80 mortos, e a nossa força teve 8 mortos e 18 feridos. À vista deste choque e no que sucedeu na vila de Oeiras, quem dirá que a província do Pará está tranquila? Se o atual presidente não ativar sua vigilância e energia, teremos de ver representadas as mesmas de 7 de fevereiro [janeiro] de 1835; mas os anarquistas do Pará lembram-se que os oficiais e tropa que então existiam no Pará não era a mesma que agora existe…etc. (Diário de Pernambuco).

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  10. ricardoconduru 6 de setembro de 2022 / 23:17

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    A dramática tomada da Vila de Oeiras pelos imperiais

    Jornal “O Universal”, de Ouro Preto (MG), nº 151, de 19 de dezembro de 1836, folhas 1 e 2, publica expediente do primeiro-tenente Carlos Roze ao Presidente da Província do Pará, Francisco José de Souza soares de Andrea, narrando os dramáticos acontecimentos sobre a tomada da vila de Oeiras pelas forças imperiais em setembro de 1836. O primeiro-tenente informa ainda ter recolhido a bandeira encarnada cabana e flechas atiradas pelos rebeldes, sendo tudo enviado para o Presidente Andrea.

    NOTÍCIAS DO PARÁ

    Tomada de Oeiras

    Ilmo. e Exmo. Sr. – Com muita satisfação participo a V. Exa. que a vila de Oeiras se acha restaurada. Os sucessos gloriosos que coroaram essa proeza, que ao princípio apresentou uma face bastante feia, são os seguintes. No dia 17 do corrente dei fundo no rio de Oeiras pelas onze horas da manhã, depois de alguns incômodos, em consequência dos muitos baixos; aqui se reuniu toda a força vinda de Cametá, destinada para o ataque de Oeiras, acompanhando a esta lancha, e um escaler do Cacique, com 50 marinheiros comandados pelo 1º tenente José Thomaz Sabino, e 2º tenente Hermenegildo da Cunha Ribeiro. Este dia, e o dia 18, foram empregados em preparar a gente para o combate. No dia 19, pelas 5 horas e meia da manhã, suspendemos, e demos fundo em frente da vila pelas 7 horas; uma grande multidão de cabanos, vestida de muruxi (sic), guarneciam a ilha em todo o comprimento da sua frente, e por detrás uma forte trincheira de murutizeiro de 5 pés de altura e 8 de largura. Mandei fazer um tipo com rodízio, de que os malvados mofaram, desafiando a nossa gente por terra, içando uma bandeira encarnada, cuja envio a V. Exa., determinei que continuasse o fogo de artilharia, o qual fez bastante estrago nas poucas e já arruinadas casas que existiam, aonde eles também se entrincheiravam para dominar o desembarque. Icei o distintivo para esse fim, imediatamente avançou a lancha do Cacique com um escaler do mesmo, comandados pelos dignos 1º tenente José Thomaz Sabino e 2º tenente Hermenegildo da Cunha Ribeiro. Estes dois oficiais e os seus comandados portaram-se coma maior bravura possível, chegando a abicar em terra contra o muito e vivo fogo de mosquetaria que os rebeldes sobre eles fizeram, acompanhado de inumeráveis frexas [flechas], como as que tenho a honra de enviar a V. Exa., e o desembarque se teria efetuado neste dia se as igarités em que iam os paisanos seguissem o exemplo da lancha e escaler, apesar do comandante da força de terra, o 1º tenente de artilharia Higino José Coelho, fazer todas as diligências para que desembarcassem. Porém, elas, já alguma coisa atenuada, e tendo gasto quase toda a munição em responder aos tiros dos rebeldes, retiraram-se, deixando quase sacrificada a lancha e escaler, que se viram obrigados a retirar, tendo eu feito sinal para isso, para que de todo não ficassem sacrificados, tendo perdido 5 marinheiros e seis feridos, só um gravemente. A gente de terra também perdeu três homens e dez feridos, sendo cinco gravemente: os rebeldes cessaram fogo, tendo durante esta luta por espaço de uma hora, continuando eu com o fogo de artilharia, até a uma hora. Tudo isto, Exmo. Sr., não impedia um segundo desembarque no mesmo dia, se 10 mil cartuchos que recebemos no Pará não se achassem arruinados, em consequência do que transferi o desembarque para o dia seguinte, 20 do corrente. O tenente Higino José Coelho, comandante dos paisanos, municiou-os novamente a bordo deste brigue. Pelas 11 horas do dia 20, com a preamar rompi o fogo para as trincheiras do inimigo, e pelas duas horas da tarde, com a maré meio baixamar, determinei o desembarque; formaram-se então todas as igarités; e uma linha aproadas a terra, uma comandada pelo meu imediato, a lancha do Cacique comandada pelo digno 2º tenente Hermenegildo da Cunha Ribeiro, o escaler deste brigue comandado pelo piloto William Mc. Ewing, e o escrivão deste brigue; uma igarité comandada pelo tenente Higino, comandante da força de terra, e as outras comandadas por paisano, e o guardião, que ao sinal deste brigue avançaram na mesma ordem que se achavam desembarcando em frente de uma trincheira que se achava mais derrotada pela nossa artilharia. Os rebeldes, em grande quantidade, acudiram ao ponto atacado, e travou-se um renhido combate; parte da nossa gente saltou às trincheiras, e o 2º tenente Hermenegildo da Cunha Ribeiro, o piloto, e o escrivão, sendo os primeiros a darem exemplo à tropa, foram também os primeiros que assaltando as trincheiras, fizeram tremular a bandeira brasileira. A nossa tropa então com mais coragem avançava sobre o inimigo, o quais vendo-se atacados por todos os lados abandonaram a vila, pondo-se em fuga; a nossa tropa perseguio-os três léguas distante da vila pelo interior, perdendo o inimigo quinze homens, além dos feridos que haviam de ter, pelos vestígios de sangue que deixaram pelos caminhos. Nós tivemos 20 feridos, inclusive o imediato deste brigue, o qual foi ferido de uma bala que lhe passou as duas nádegas; dois marinheiros do Cacique e o piloto deste brigue que também foi ferido levemente. Tivemos dois paisanos mortos, e quatro dos que tinham ficado feridos no dia antecedente. Existem a bordo deste brigue 27 feridos, que os remeto para Cametá. Esta é, Exmo. Sr., a narração que tenho a fazer a V. Exa. sobre a tomada de Oeiras, participando também a V. Exa. que, deitando fogo às trincheiras, sobreveio vento fresco do mar, que fez pegar o fogo em todas as já arruinadas casas, inclusive a igreja, que só tinha o teto meio de palha, meio de telha, salvando eu as imagens; e fico esperando as ordens de V. Exa.

    Deus guarde a V. Exa. Bordo do brigue Brasileiro, surto em frente da vila de Oeiras, 21 de setembro de 1836. – Ilmo. e Exmo. Sr. Francisco José de Sousa Soares de Andrea. D. Presidente e Comandante das Armas do Pará. – Carlos Roze. – 1º tenente comandante.

    N. B. Tendo novamente contado os feridos que existem a bordo, achei serem 38, e não 27 como acima narrei, além dos que se estreparam nas ciladas dos inimigos. A precisão da brevidade que tenho que fazer partir o barco com os feridos por causa da maré, obriga-me a pedir a V. Exa. desculpa de não fazer novo ofício. – Está conforme. – Bernardo Joaquim de Matos, Secretário do Governo.

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  11. ricardoconduru 20 de setembro de 2022 / 21:14

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    O impacto da cabanagem na pecuária da ilha do Marajó

    Jornal “Gazeta Oficial”, de Belém (PA), nº 34, de 11 de fevereiro de 1860, folha 3, publica comunicado que trata da criação de gado na ilha do Marajó, de onde destacamos trecho que trato sobre o impacto da cabanagem na pecuária da ilha. O autor não está identificado.

    COMUNICADO

    Chaves… de…

    Tendo exposto a V. S. na minha antecedente qual o rendimento do gado nesta ilha, direi agora algumas palavras acerca do método de sua criação, e da economia dos nossos criadores; porém, farei antes uma pequena digressão.

    Creio que ainda se recorda do tempo em que veio a esta pelo Muaná, em fins de 1837, e que juntos percorremos os campos de Anajás, Anabiju, Arari, igarapé-Grande, e os deste distrito. Eram então vastos desertos. Os ladrões efetivos, a cabanagem, e afinal a legalidade, despovoara-nos quase do gado vacum, estando a esse tempo extinto o cavalar pela peste.

    Famílias inteiras sucumbiram tanto pelo ferro traiçoeiro dos cabanos, como pela miséria e enfermidades em Tatuoca, Cametá, Abaeté e Maranhão.

    Aqueles que tiveram a ventura de voltar aos seus penates, de tudo quanto possuiam, a maior parte só achou os campos!

    Ora, os criadores acostumados a viver na bastança e prodigalidade, nunca tinham experimentado o que é “necessidade”; para eles, economia e redicularia eram sinônimos, e por isso levavam a imprevidência além das últimas balizas. Quase nunca tinham nem 25$000! Sucedia isto aqueles mesmos que possuiam fortunas de 20 a 30 contos de réis. Fica subintendido que havia exceções.

    A revolução colhe-os naquele estado; então é que deploravam o seu horror à economia, e viram que em tempo de anarquia é “cada um por si e Deus por todos”. Quatro ou cinco desses que voltaram, e que ainda acharam bons restos de sua fortuna, tornaram-se mais dissipadores e perdulários do que antes (e também houve alguns que ficaram entre os rebeldes, esses em nove meses quadriplicaram o que tinham); mas a maioria dos que voltaram, aproveitou a lição da adversidade, conheceu praticamente o valor do dinheiro, especialmente em circunstâncias aflitivas, lancou-se com avidez ao trabalho da criação. Os cavalos não estavam mui caros, e ainda em 1845 compraram algumas partidas deles, aos Srs. Francisco Antônio Gregório e Moura, tanto do Amazonas quanto de Macapá a 38$000. A peste destruía-os, mas aqueles criadores dobravam de coragem e perseverança. Contavam obter o prêmio do seu trabalho.

    Apareceu o ano de 1842, ano fatal aos criadores! Havia falta de carne verde no mercado, resultado da devastação cabanal. Passava este gênero pelas fases de todas as mercadorias que escasseiam, e a procura é grande. (…)

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  12. ricardoconduru 20 de setembro de 2022 / 21:16

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Basílio Magno da Silva nomeado secretário de Batalhão Pernambucano

    Jornal “A Quotidiana Fidedigna”, nº 259, de 1º de dezembro de 1835, folha 2, publica expediente do Presidente da Província de Pernambuco, Francisco de Paula Cavalcanti de Albuquerque, ao Inspetor de Tesouraria, tratando sobre os vencimentos e vantagens de Basílio Magno da Silva, nomeado como secretário de um dos batalhões expedicionários enviados ao Pará, com experiência no combate aos cabanos de Pernambuco.

    EXPEDIENTE DO GOVERNO

    (…)

    Ofícios

    (…)

    Participo a V. Sa., para sua inteligência, que Basílio Magno da Silva foi por este governo nomeado para secretário de um dos batalhões expedicionários à província do Pará, com os mesmos vencimentos e vantagens que gozou no acampamento de Água Preta, ou na guerra dos cabanos. A habilidade deste indivíduo, abonada pelo comandante de expedição, que dignamente o requisitou, me levou a esta médida, que é ainda fundada no Aviso de 17 de novembro do ano próximo passado, expedido pela Secretaria se Guerra. V. Sa. mandará, pois, abonar os competentes vencimentos.

    Ao Ilmo. Inspetor de Tesouraria.

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  13. ricardoconduru 20 de setembro de 2022 / 21:18

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    José de Alencar supriu o Pará com tropas, armamentos e munições

    “Revista Trimestral do Instituto do Ceará”, Edição nº 3, de 1899, folha 204, publica sobre a biografia de José Martiniano Pereira de Alencar, que se encontrava na presidência da província do Ceará durante a Cabanagem, de onde extraímos trecho que relata que Alencar supriu o Pará com tropas, armamentos e munições.

    (…)

    Assim aconteceu a Alencar, si magna componere parvis licet. O patriota cearense recebeu as rédeas da administração em tal penúria que a tesouraria de Pernambuco a socorria com vinte e quatro contos de réis anualmente. Entretanto, fez muitas obras, montou todos os serviços resultantes da promulgação do Ato Adicional, supriu o Pará com tropas, armamentos e munições (1), e mandou aplicar ainda ao resgate da dívida nacional externa vinte e seis contos de réis, que remeteu em algodão para a Inglaterra.

    (1) O Sr. Gonzaga Duarte, nas suas Revoluções Brasileiras citadas, tratando dos Cabanos do Pará, diz à pág. 165: “As províncias do norte faziam verdadeiros esforços para o socorro dos verdadeiros legalistas paraenses. A do Maranhão mandou dinheiro e organizou contingentes de tropas. O padre José Martiniano de Alencar, Presidente do Ceará, formou uma força expedicionária dirigida por um sobrinho seu, por não ter um filho que marchasse à frente dela, disse ele.”

    O sobrinho de Alencar, Xilderico Cícero de Alencar Araripe, era alferes nesse tempo, não podia comandar uma força de 100 praças, como a que seguiu. Quem a comandou foi o major Francisco Xavier Torres.

    Nota do Blog: José Martiniano Pereira de Alencar presidiu a província do Ceará em dois períodos: de 1834 a 1837 e de 1840 a 1841.

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  14. ricardoconduru 25 de setembro de 2022 / 12:09

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    A busca pelos despojos dourados da guerra civil

    Jornal “O Liberal do Pará”, de Belém (PA), nº 248, de 3 de novembro de 1887, folha 2, publica sobre um inusitado pedido do Sr. Florência da Silva Represa ao ministro da agricultura do império, pedindo permissão para desenterrar das ruas de Belém possíveis tesouros ocultados pelos cabanos.

    OUTRO OFÍCIO SR. REPRESA

    Refere o [jornal] “Paiz”. – O Sr. Florêncio da Silva Represa, residente no Pará, requereu ao Sr. Ministro da Agricultura permissão para desenterrar e tirar das ruas de Belém as latas, potes e igaçabas com dinheiro, que acredita terem ali ocultas por ocasião da guerra civil dos cabanos de 1835.

    Não avaliando bem por si a importância daquela exumação dos despojos dourados da guerra civil, entendeu o Sr. Ministro da Agricultura que devia ouvir o presidente do Pará para resolver”.

    Será melhor que fazer sapatos?

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  15. ricardoconduru 27 de setembro de 2022 / 21:35

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Cabanos se abrigaram nos lugares de Anajás e Mocoons

    Jornal “O Liberal do Pará”, de Belém (PA), nº 35, de 15 de fevereiro de 1872, folhas 1 e 2, publica carta de um leitor não identificado, onde este transmite suas impressões dos lugares percorridos pelos rios Anajás e Mocoons, na ilha de Marajó. Em certo trecho, é descrito que tais lugares serviram de abrigo para os cabanos fugitivos das forças legais. Apenas parte da correspondência é aqui reproduzida.

    Sr. Redator,

    Acabo de chegar dos rios Anajás e Mocoons, onde demorei-me algum tempo. Admirado do que por aqueles lugares vi, não posso deixar de dar ao público um ligeiro conhecimento, a fim de bem apreciarem o que vai por esses cantinhos do nosso Pará. Por isso, peço-lhe que queira inserir no seu muito conceituado jornal estas insulsas linhas, por cujo favor lhe serei sumamente grato. Não sabendo por onde deva começar, começarei pelas posses de terras.

    Encontrei ali juízes comissionários, alguns agrimensores demarcando terreno onde há 200 e 300 estradas de seringas e dando deles posse a diversos indivíduos. Estes indivíduos não possuem mais que uma barraca provisória, sem plantações alguma, e sem forças para cultivar a terra, como exige a lei; apenas moram e desfrutam os seringais, caças, peixe etc., há 20 ou 30 anos. Essas posses chegam a 4, 5, 6 léguas de terra.

    Disseram-me ao certo que alguns desses moradores, ou muitos, ali há 30 anos passado, foram cabanos, criminosos e desertores, que em tempos idos buscavam aqueles lugares, como remotos, que então eram, para se abrigarem e viverem sem ser incomodados pelas tropas legais.

    Serão merecedores de um tal patrimônio por terem sido malvados? Isso é que desejamos saber, porque muitos o quererão imitar; o que não duvido, porque neste nosso Brasil tudo é inverso. O bem paga-se com o mal, o mal com o bem. De certo que brevemente não haverá quem faça bem.

    (…)

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  16. ricardoconduru 28 de setembro de 2022 / 21:55

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    O homem de Tatuoca

    Jornal “O Liberal do Pará”, de Belém (PA), nº 223, de 4 de outubro de 1872, folhas 1 e 2, publica críticas ao Sr. Victorio de Figueiredo e Vasconcelos, o qual teria servido como tesoureiro da fazenda da província tanto no governo cabano de Francisco Vinagre como no do legalista Manoel Jorge Rodrigues. A publicação tem também o mérito de reproduzir expediente inédito de Francisco Vinagre, de 11 de março de 1835.

    SEÇÃO NÃO EDITORIAL

    O desfrutável Sr. Victorio de Figueiredo e Vasconcelos

    Reapareceu anteontem na imprensa o homem de Tatuoca, armado, não da sua bengala mágica, mas de uma multidão tal de documentos, que causam calafrios, com o fim, diz o histrião, de esmagar (!) o distinto chefe liberal, o Exmo. Sr. Dr. Malcher, depois de proclamar-se o protótipo de todas as virtudes, mas uma vez atreve-se a atassalhar com os hidrofóbicos dentes a ilibada reputação daquele honrado cidadão.

    Prometemos uma vez quebrar os venenosos dentes dessa serpente, e temos esperança de que havemos [de] consegui-lo.

    Provaremos que ainda mais uma vez mentiu cinicamente o herói do dia 8 de setembro.

    Para mostrar-se alheio às coisas da revolução de 1835, diz ele com o maior desplante:

    “Querendo salvar o crédito de meu sogro, que corria risco de ser comprometido, visto que não podia aceitar a demissão de um governo intruso, representei a respeito ao ilustre general Manoel Jorge [Rodrigues], que, atendendo às razões da minha representação, não trepidou em nomear-me interinamente, até que pelo tesouro nacional se verificasse a minha nomeação, na forma da lei, servindo eu debaixo da fiança, que prestei.”

    Depois deste bonito pedaço, transcreve o homem da bengala mágica o ofício do presidente dessa época de suas melhores brilhanturas, para mostrar, a sua preconizada honradez.

    Esquecido e ingrato que é o homem! Não há remédio, pois, senão avivar-lhe a memória com o seguinte ofício do presidente dessa época, em que o Sr. Vinagre, a quem hoje chama ele de governo intruso, comunicou ao inspetor da tesouraria a sua nomeação para o lugar em questão.

    “Nº 17 – Tendo eu concedido demissão de emprego de tesoureiro da fazenda desta província a João Antônio Correia Bulhão por assim me haver requerido em razão de suas moléstias, e havendo nomeado para exercer as funções do mesmo emprego a Victorio de Figueiredo e Vasconcelos, o comunico a V. Sa. para sua inteligência e execução. – Deus guarde a V. Sa. – Palácio do Governo do Pará, 11 de março de 1835. – Francisco Pedro Vinagre, presidente. – Sr. inspetor da tesouraria desta província, Lourenço Lucidoro da Mota.”

    O que nos dirá a isto o honradíssimo Sr. Victorio?

    O que se infere daí, quanto a nós, é que o homem já nesse tempo era fiel tipo de muitos políticos de hoje: pau para toda obra.

    Em março era nomeado por um governo intruso e em agosto do mesmo ano pelo governo do ilustre sr. Manoel Jorge!

    E chamam-lhe toleirão!

    Pois então um homem desta têmpera é tolo? Deixem passar o crônico palito e a bengala mágica, que isso nada importa ao caso. Basbaque não é ele por certo; pelo menos de tal não me poderão convencer.

    Mas… vamos a outras provas da honestidade do subdelegado de Santana:

    Com a nomeação de que falamos percebeu ele para alfinetes 376$665 réis, ordenado correspondente ao tempo de seu exercício sob o domínio do governo intruso, segundo a sua própria expressão, isto é, de 11 de março a 13 de julho de 1835.

    E s. s. esdrúxula, Sr. Victorio, veio a licar-se com esses poses? (sic)

    – Não; pois o homem de uma honradez como a minha seria capaz de tal?

    Parece que estamos a ouvir esta pronta resposta do homem, seguida de um de seus intermináveis e muito espirituosos discursos.

    Alto lá, meu homem; não é com essa.

    Ouça mais estes pedacinhos, tão verdadeiros como a existência perpétua do seu palito.

    O Sr. Victorio de Figueiredo e Vasconcelos, tesoureiro geral, de nomeação do governo intruso, veio a restituir os tais 376$665 réis (de alfinetes) em 25 de abril de 1843, a apenas oito anos depois, e isso POR MEIO DE EXECUÇÃO PROMOVIDA PELO JUIZO DOS FEITOS DA FAZENDA, em virtude das ordens do Tribunal do Tesouro Nacional de 3 de dezembro de 1835 a 22 de setembro de 1836!!!!

    Miserável!

    E é um homem que assim joga com a política, e que não peja-se de ser publicamente considerado mentiroso, que ousa encher o mundo com a sua honradez, probidade e virtudes, e que se atreve a atassalhar a reputação de um venerando cidadão, cujas virtudes cívicas, só entes abjetos como o de que nos ocupamos serão capazes de pôr em dúvida.

    Cá o esperamos, entende-nos?

    O palito crônico.

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  17. ricardoconduru 3 de outubro de 2022 / 22:13

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Moedas de ouro enterradas em igarapé-Miri

    Jornal “O Liberal”, de Belém (PA), nº 299, de 15 de novembro de 1947, folha 29, ao tratar sobre a administração de Alberto Trindade Almeida, discorre sobre a história da cidade de Igarapé-Miri, de onde extraímos trecho que trata da fuga dos cabanos da antiga freguesia quando da chegada das tropas imperiais do general Andrea. O texto informa que muitos moradores em fuga enterraram grande quantidade de moedas de ouro.

    PROFÍCUA ADMINISTRAÇÃO EM IGARAPÉ-MIRI

    Ação patriótica e louvável do Sr. Alberto da Trindade Almeida

    (…)

    RECHAÇADOS ALI OS CABANOS

    A freguesia progrediu assustadoramente, quando em 1835, os cabanos foram rechaçados pelas forças que guarneciam Cametá, indo se homiziar em Igarapé-Miri, em cuja sede encontraram pouca resistência. Os moradores compreendendo que os atacantes eram superiores em número e munição, resolveram enterrar grande quantidade de moedas de ouro, em diverso pontos, fugindo em seguida.

    Os cabanos, senhores da situação, instalaram o seu “quartel-general”.

    Quando as forças expedicionárias do General [Francisco José de Sousa Soares de] Andrea entraram na freguesia, os masorqueiros (sic) subiram o rio Moju, abandonando o ponto conquistado.

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