O revolucionário Patroni

Junto-me a Ricardo Condurú no empenho dele, como meu, de atiçar o interesse dos leitores por Felipe Patroni. Ricardo remeteu mais documentos do seu imenso, rico e olvidado acervo, que ele tem formado com a diligência e a constância do verdadeiro pesquisador.

A nova leva atesta o empenho do poder imperial, impregnado pela sua origem metropolitana portuguesa, em desmerecer e ridicularizar os líderes do movimento nativista no Pará. Seus objetivos principais não eram a independência da província nem a república. Era eliminar o despotismo em todas as suas formas – políticas, econômicas e sociais, numa guerra dos que não têm contra os que têm, na fulminante definição de Handelmann. E se havia alguma ideologia de combate, mesmo que nem sempre manejada pelos líderes da revolta, era o liberalismo. Uma combinação esdrúxula de fatores e uma complexidade mal escondida pelas versões oficiais, ontem, como hoje, tentando impedir o melhor conhecimento dos fatos. A despeito desse empenho, Patroni já começa a ser reconhecido, pela historiografia nacional, como precursor do pensamento social no Brasil.

Passo a palavra ao Ricardo Condurú.

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Isto posto, sou da opinião também que o liberalismo era o ponto que unia Malcher a Patroni. Aliás, a ligação de Malcher com Patroni já vinha de muitos anos, havendo escritos por mim levantados que demonstram isso. Para comprovar, citarei primeiramente a existência do seguinte documento registrado nos Anais da Biblioteca Nacional (RJ), 1876 a 2018, folha 631.

(…)

7211 – Defesa de Félix Antônio Clemente Malcher (*), tenente-coronel de milícias do Pará, um dos presos remetidos daquela província à corte do Império. Rio de Janeiro, Silva Porto & Cia., 1824, in-fol. de 8 pp. (B. N.).

Não obstante o registro acima não citar quem foi o responsável pela defesa de Malcher, descobrimos através do Jornal “O Spectador Brasileiro”, do Rio de Janeiro, nº 228, de 27 de janeiro de 1826, páginas 1 e 2, o qual reproduz extratos de jornais paraenses, que revelam intrigas e denúncias envolvendo o Cônego Serra, o Major Tupinambá, Félix Malcher e Felipe Patroni. Em certo trecho, cita até uma trama que tinha por objetivo a proclamação da república no Grão-Pará, cujo presidente seria Malcher. Vejamos:

EXTRATOS DOS JORNAIS DO PARÁ

Sr. Administrador da Imprensa,

Espero que V.m. me faça o obséquio inserir quanto antes na sua folha o seguinte parágrafo de uma carta do Rio de Janeiro de pessoa fidedigna, e juntamente as reflexões que o acompanham, e para não tomar a V.m. o tempo com mais preâmbulos, aí vai já o parágrafo que diz assim:

– Cônego Serra e Major Tupinambá estão ainda aqui retidos pelo governo em consequência de uma denúncia de [Félix] Malcher ligado com o [Felipe] Patroni de quem são inimigos capitais. – Eis aí as formais palavras transcritas tais e quais. Que lhe parece? Que tais são os patifes? Mas que digo! Isto não é caso de admiração, harmonia entre perversos é pouco durável, e é o que nos vale. Se alguma coisa me houvesse de causar espanto seria antes ver subsistir entre eles amizade por muito tempo, e para que V.m. veja se tenho razão vou em poucas palavras expor-lhe o que eu souber do caráter destes distintos personagens principiando por Patroni. Dotado de uma imaginação exaltada, de um caráter volúvel, foi este patusco sucessivamente constitucional, realista, e hoje independente, que é o mesmo que dizer que nunca foi nada, e nada é. Alternativamente liberal e servil, passando rapidamente de um a outro extremo, seria a sua conduta um fenômeno incompreensível, se não soubéssemos que há homens para tudo. Mas, enfim, não me quero alargar muito para que não vá a sua folha só ocupada com o panegírico destes heróis, portanto, deixando coisas antigas, vamos ao que serve nosso caso de agora.

Patroni, denunciante do cônego Serra, é o mesmo indivíduo que há pouco acaba de advogar a causa do mesmo cônego. V.m., Sr. administrador, não poderá acreditar esta, porém, para remover toda a dúvida que V.m. pudesse ter a esse respeito, queira ler as seguintes palavras fielmente copiadas de uma nota que vem em um impresso intitulado Defesa do Tenente Coronel Malcher, obra do célebre Patroni.

O cônego Silveira Antunes Pereira da Serra sofreu igualmente muitos sacrifícios por causa da independência, e em virtude de lhe haver prestado serviços grandes mereceu que o cabido o encarregasse da honrosa mensagem de vir à Corte felicitar a S. M. Imperial.

Que diz a isto, Sr. Administrador? O homem será maníaco? E terá o seu cérebro sujeito às influências da lua? Neste caso esperamos que brevemente se desdiga da denúncia dada, e se algum apaixonado do Sr. bacharel de eu o qualificar de maluco, desde já digo que a não ser alguma lesão dos órgãos intelectuais, é forçoso confessar que foi o Sr. Patroni impelido a proceder dessa maneira contra o seu presado amigo e patrício, por espírito de maleficência, ou por satisfazer alguma vingança particular. Mas, enfim, seja como for, o certo é que os tais sujeitinhos se vão dando a conhecer uns aos outros.

Que diremos do grande Malcher, que é outro acusador do Serra e do Tupinambá. Este indivíduo que de homem só tem a configuração, participa da natureza do jumento; e assemelha-se ao tigre pela ferocidade, pois, assim mesmo, com estes predicados, tal é o herói que estava designado pelos de sua facção para Presidente da R…..República, que aqui pretendiam proclamar, por mais que agora o queira negar, e que tal lhe parece? Não acha ser própria para o pescoço de um burro esta joia:

Eu ainda espero que isto não fique aqui, ainda espero desunidos Patroni e Malcher, e acusarem-se mutuamente um ao outro. Seguiria-se naturalmente agora dizer alguma coisa dos outros dois, mas creio que por vir já tarde não acharei lugar suficiente na sua folha, além disso, quem viu um, viu todos, pelo que fica dito de Patroni podem formar ideia dos outros. Mesma falta de caráter, mesma inconstância em tudo, só com a diferença que, com efeito, Malcher e Tupinambá são mais cruéis e ignorantes que o pobre bacharel, que não tem mais outro defeito que o de cabeça esquentada, bagatela, bagatela.

Finalmente subiu o Sr. Malcher com a enchente, e desceu outro que tal com a vazante de maneira que simultaneamente puseram pés em terra num dia de glória para os imperiais, e de confusão para os carvalhais. Bem será que estes amigos (do bom e barato) se apliquem a leitura do Vovô Maçom, que como netos ali encontrarão barrete e cassete.

O Pimpa.

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Como podemos constatar, a história está constantemente sendo reescrita, e a reconstituição da história da cabanagem passa necessariamente pelo resgate da figura de Felipe Patroni. Tratá-lo como um mero “louco” reduz sua importância para a história do Pará e do Brasil. Há farto material mostrando Patroni com diversas faces: Demente, Liberal, Absolutista etc. Mas, afinal, quem é Patroni? Em breve, espero conseguir divulgar tudo o que já levantei sobre essa figura histórica, mas a cada dia surge algo novo. Estudar Patroni é um desafio. Um homem surpreendente em um mundo em constante mudança.

Por ora, deixo artigo publicado no Jornal “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro, nº 7989, de 14 de janeiro de 1921, folha 2, do escritor e jornalista maranhense Manuel Viriato Correia Baima do Lago Filho, sobre a atuação de Felipe Patroni, a quem chama estrela fugaz, durante o movimento constitucionalista de Portugal, iniciado em 1820. Apesar de mostrar desconhecimento sobre o destino de Patroni após fundar o jornal O Paraense, Viriato faz uma boa reconstituição do referido período, não obstante inserir pontos discutíveis. Segue o texto:

ESTRELA FUGAZ

Há na história constitucional brasileira uma figura, hoje esquecida, que dá a impressão exata da fugacidade das estrelas cadentes: surde, fulge, corusca subitamente para depois desaparecer num segundo, com um ligeiro rastro de luz que logo se apaga.

É a figura de Philippe Alberto Patroni Martins Maciel Parente, que os seus contemporâneos conheciam apenas pelo nome de Patroni. Foi quem primeiro deu, no Brasil, o grito em favor da revolução constitucionalista que estalou em 1820, em Portugal.

Quase todos os historiadores apresentam o vulto de Patroni como o de um ambicioso vulgar, inquieto, impertinente, sem nenhum outro mérito que o da audácia da ambição.

Mas quem lhe estuda atualmente a vida encontra-lhe outras virtudes – a das ideias liberais – que ele defendeu e propagou com arrojo e sacrifício. Se há nos seus movimentos impulsos de ambição, há também muito de sinceridade e principalmente um traço vivo de ingenuidade que se pode classificar de infantil, ingenuidade que foi a nota caracterizante da sua existência de revolucionário.

Quando rebentou em Portugal a agitação constitucionalista de 1820, Patroni devia ser bem moço. Cursava o 4º ano de Direito na Universidade de Coimbra. As ideias do século, os princípios adiantados do momento escaldavam-lhe a juventude inflamável. Ao dar-se a revolução, parte imediatamente para a sua terra natal – o Pará.

Lá chega em meados de dezembro, carregado de malas atulhadas de impressos incendiário. O terreno era bom para a propaganda. O marquês de Vila-Flor, que governava a capitania, tinha ido ao Rio [de Janeiro] casar-se, e o governo que o substituía não possuía as mesmas energias do marquês.

Patroni multiplica-se, em poucos dias faz-se querido, em pouco tempo domina os espíritos. E a sua atividade é tão grande que, a 1º de janeiro de 1821, a tropa sai à rua e proclama a sua adesão à carta constitucional que as cortes confeccionavam em Lisboa.

Forma-se, então, a junta governativa, junta revolucionária que daí por diante deve governar a capitania. Patroni é a figura predominante do movimento e não pode ser posto a parte. Mas é lei fatal das revoluções: são sempre aqueles que as fazem que menos se aproveitam delas.

Para o moço liberal e para os seus amigos a decepção foi cruel – Patroni não teve uma colocação na junta. Por menos ambicioso que ele fosse, isso o devia abalar profundamente. Começa a hostilizar a junta. Esta é composta toda de portugueses, tendo apenas um nome brasileiro – o vigário capitular Romualdo Antônio de Seixas, que depois tomou vulto na história.

Patroni grita por toda parte, cercado de amigos. É necessário incluir os paraenses no governo! É necessário satisfazer o sentimento nacional!

Os seus gritos têm eco. A junta compreende que a hostilidade se avoluma. Anuncia-se a eleição para dois membros paraenses.

As esperanças do estudante acendem-se. Mas naquele tempo o predomínio era dos velhos. Para ser alguma coisa na vida era preciso ter barbas brancas e achaques de reumatismo. Ninguém tinha confiança na juventude. Faz-se a eleição e saem vitoriosos o coronel Geraldo José de Abreu e José Rodrigues de Castro Góes. Patroni é posto novamente à margem.

A sua atividade, tocada pelo despeito, assanha-se. É o maior inimigo da junta governativa. Espalhe impressos, escreve, persegue. E não é um inimigo que se despreze. Ao seu lado está quase toda a população nativa da capitania. O rapaz tinha tido a habilidade de tocar as cordas do nativismo brasileiro.

A junta está em embaraços. O único meio é abrandar a chama perseguidora de Patroni. Começam as démarches para um acordo.

Os amigos do estudante propõem que o senado da câmara de Belém o eleja deputado às cortes reunidas em Lisboa. Ah! Não é possível. A vereação não era corpo eleitoral.

Afinal a questão é ladeada. A junta concorda a mandar Patroni a Lisboa comunicar a adesão da capitania e lá ser, junto às cortes, o procurador de todos os interesses do Pará.

Ali estava o ardil. O moço revolucionário caiu redondamente no laço.

Imaginou ingenuamente que, com aqueles poderes que o governo lhe delegava, ele era nem mais nem menos que um deputado às cortes.

A delegação tinha, na realidade, um tom dúbio. Só um refinado espertalhão seria capaz de descobrir-lhe o fundo falso. Patroni era muito moço para conhecer os truques políticos.

E partiu afoitamente para Lisboa.

Quando se fez, em Portugal, o movimento constitucionalista de 1820, a maior preocupação dos portugueses era a adesão do Brasil. A revolta tinha tons moderadíssimos. Não pregava a queda da monarquia, nem a da família bragantina, e o rei, o Sr. D. João VI, estava em terras brasileiras.

O que os revolucionários queriam no princípio era apenas a carta constitucional. Mas, sem a adesão do Brasil, podia tudo fracassar. O rei, apoiado pelos seus súditos brasileiros, poderia apelar para a santa aliança, formada em 1815 pelos soberanos da Áustria, da Rússia e da Prússia, e estaria todo o caldo entornado.

Em Lisboa, esperava-se o apoio do Brasil como se espera a notícia de um grande sonho realizado.

Os olhos dos agitadores estavam mais voltados para Pernambuco. Fazia poucos anos que estourara a revolução pernambucana de 1817, e estando ainda os seus chefes no cárcere, era de esperar que o sentimento revolucionário não se tivesse ainda apagado na capitania. Pernambuco facilmente se incendiaria com as notícias de Lisboa.

E todos os dias se esperavam novas agradáveis da terra em que o padre Roma morreu.

Um dos maiores dias do movimento constitucionalista de Portugal foi aquele que chegou a Lisboa a notícia da solidariedade da Bahia. O recinto das cortes encheu-se dos vultos mais brilhantes da revolução. Antes de começarem os trabalhos, Fernandes Thomaz levanta-se e grita três vivas comovidos à Bahia, vivas que os deputados e povo responderam calorosamente. Frei Vicente da Soledade, em plena sessão, em meio a um silêncio majestoso, ergue graças a Deus pela significação do acontecimento.

Dia maior foi aquele da notícia de que o Rio, até ali assustadoramente silencioso, aderira aos gritadores de Portugal.

Era a 27 de abril de 1825. O ministro da marinha estava no teatro de S. Carlos, quando a correspondência do Brasil lhe chegou às mãos. O titular, emocionado, manda parar a representação e, diante do público, em cena aberta, lê a notícia da adesão do Rio. Não se descreve o delírio que eletrizou Lisboa. Essa noite foi uma noite de festas, flores e passeatas cívicas em todos os bairros. No dia seguinte a sessão das cortes teve um esplendor de vitória. O povo cobriu de rosas as cadeiras dos deputados. D. João VI foi chamado “O melhor dos soberanos”. Durante uma semana Lisboa não conseguiu apagar o seu entusiasmo festivo.

Mas, o primeiro pedaço brasileiro a aderir à revolução, foi o Pará. A primeira notícia que a Portugal chegou do apoio de uma capitania do Brasil foi levada por Patroni.

Esse fato lhe deu uma importância e um brilho excepcionais.

Quando o estudante chegou a Lisboa, em abril de 1821, os corações dos portugueses estavam profundamente oprimidos pelas incertezas da solidariedade dos brasileiros. Patroni deu aos revolucionários a impressão de um ramo de oliveira que os irmãos do Brasil lhes mandavam. Ia vingar o movimento liberal. Aquele ramo de oliveira era o sinal de que a terra de ultramar não era tão sáfara como se teve receio que fosse.

Ao chegar a Lisboa a decepção de Patroni foi dolorosa. Ele, que ao partir do Pará se imaginava deputado às cortes, ao chegar na capital portuguesa teve o desgosto de saber que era apenas um emissário da junta governativa de sua terra. O seu primeiro cuidado, ao entender-se com a regência, foi legalizar os seus títulos, ou melhor, torcer as coisas de modo que fosse considerado um representante do povo paraense na assembleia constituinte. Mas, consultadas as comissões de constituição e poderes das cortes, elas delicadamente cortaram as aspirações do moço brasileiro.

O parecer das comissões foi feito de modo a não irritar o mensageiro paraense, naquele momento em que Portugal fazia questão de vida e de morte do apoio do Brasil. Apesar do imenso desejo que a assembleia tinha de entrar logo em relação com a deputação do Pará, por ter esta “capitania a primazia na tão suspirada adesão do Brasil”, não podia aceitar o jovem estudante porque os seus papeis não o nomeavam representante da nação! Mas, por uma exceção raríssima, a assembleia devia ouvi-lo, em plenário, como delegado do governo do Pará.

No dia 5 de abril as cortes reuniram-se para ouvi-lo. Foi o dia mais brilhante da curta vida política de Patroni.

Era o primeiro brasileiro que falava diante da assembleia constituinte, era a primeira vez que o Brasil mandava a sua voz em prol das conquistas liberais.

As galerias do parlamento encheram-se. Patroni tomava a feição de um animal exótico.

O agitador paraense não se satisfaz em dar singelamente a notícia da solidariedade da sua terra. Pespega um discurso, um longo discurso ruidoso, com todas as flores retóricas mais usadas na época.

Foi realmente o seu maior instante de glória. A assembleia aclamou-o estrondosamente.

Os aplausos influíram no espírito de Patroni. Esqueceu-se do parecer das comissões das cortes e recomeçou o trabalho, para ser considerado deputado. Tudo que era possível mexer, mexeu. A ingenuidade levava-o aos passos mais infantis. Em pouco tempo havia caído no ridículo. Era “o moço que queria ser deputado”.

A assembleia, como uma compensação, ou para ver-se livre dele, ofereceu-lhe uma distinção – o ingresso permanente na tribuna destinadas às altas figuras. Para quem queria ser representante do povo, era muito pouco.

Patroni demora-se algum tempo em Lisboa, sempre atenazando os ouvidos dos próceres do movimento para que seja reconhecido deputado. Em Portugal, as ideias revolucionárias fazem-lhe arder a cabeça. Já não é somente o homem que trabalha em prol de uma constituição. Quer agora também a independência do Brasil.

Ao lado de ideias tão liberais não era possível que o elemento escravo o não interessasse. Volta-se a propaganda da abolição da escravatura. No Indagador Constitucional escreve artigos retóricos em favor da ideia, e remete para o Pará impressos que manda distribuir entre os negros.

Com aquela atividade, com aquela inteligência, e com aquele fogo da juventude, devia ir longe o rapaz.

A sorte, porém, não o havia talhado para as ascensões.

Desiludido em Portugal, volta, em 1822, para o Pará. Os escravos recebem-no como a um redentor. Todo o elemento popular o festeja.

Mas quem predomina no governo é o elemento português, e o moço estudante já mostrou que quer a independência do Brasil.

Patroni funda o jornal O Paraense, para propagar as ideias avançadas e combater a junta governativa. É a sua desgraça. A junta, em junho de 22, processa-o por um artigo violento contra o rei e remete-o preso para Lisboa.

Daí por diante apaga-se o nome de Patroni. Não se sabe se morreu em Lisboa ou se abandonou completamente as preocupações políticas.

Não é, no entanto, uma figura que se possa esquecer. Há nele um tom de energia e de vitalidade que impressiona.

Se o seu nome não ficou gravado imperecivelmente na história, foi porque ele atravessou a vida como uma estrela cadente que passasse pelo céu: surdiu, brilhou, fulgiu para desaparecer num segundo.

Viriato Correa.

Girondinos e jacobinos na revolução francesa do Pará

A reprodução da Proclamação dos Cabanos Sublevados no Rio Acará, datada de 24 de outubro de 1834, que Ricardo Condurú publicou no seu blog (Cabanagem Redescoberta), completa o conjunto de documentos já transcritos aqui.

Na apresentação, Ricardo informa que a proclamação foi publicada originalmente no Jornal “Correio Official Paraense”, e republicada no periódico “Diário de Pernambuco“, número 589, de 26 de janeiro de 1835, página 3.

O documento, explica Ricardo, “deixa claro que os rebeldes já se auto proclamavam ‘Cabanos’, contrariando a ideia de que o termo só veio a ser usado tempos depois de terminado o movimento. Não entendo, o motivo que levou os sublevados a assim de denominarem continua sendo um mistério”.

O autor da proclamação é o “Tenente Coronel Comandante Felix Antônio Clemente Malcher”, o mais rico e o mais ponderado dentre os principais líderes da revolta. Ele elogia o capitão José Agostinho d’Oliveira, “patriota bem conhecido recheado de probidade patriotismo, e coragem, digno enfim do doce nome de Brasileiro Liberal”.

Grifo a expressão porque ela denota o apreço que, ao menos Malcher, dedica a essa condição. Ele a justifica logo em seguida: “Vós sois testemunhas dos Brasileiros que aqui existem expostos antes a morrer, do que serem novamente governados, com a dura vara de ferro do infame Despotismo”.

Ao menos para ele, que viria a se tornar a primeira vítima da cisão interna na liderança do movimento, em irrupção de radicalização, o liberalismo era a o melhor caminho para os paraenses se livrarem do despotismo, fosse o metropolitano, comandado de Portugal, ou o do nascente império, a partir do Rio de Janeiro. A posição dele, no Pará, portanto, coincidia com a de Felipe Patroni, na capital imperial.

Mas não com a de Batista Campos ou dos irmãos Angelim e Vinagre. Era como que o conflito entre girondinos e jacobinos na revolução francesa, de 46 anos antes. Tempo suficiente para que ela chegasse à distante Amazônia e servisse de inspiração para os cabanos, que, por sua vez, podem de alguma forma ser conectados à Comuna de Paris, de 1871. O elo entre os deserdados da sorte, do despotismo e do mando totalitário.

Ricardo manteve a escrita original no seu blog. Para uma melhor leitura por quem não está acostumado a um português arcaico, decidi atualizar a grafia quando a forma original prejudica o entendimento. Nos demais casos, não fiz a modificação para dar uma ideia da linguagem escrita da época, que frequentemente tomava por base a oralidade (o que favoreceria muito uma análise linguística, se ela fosse feita a partir, sobretudo, dos códices da correspondência de diversos com o governo, mantidos no Arquivo Público do Pará).

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Proclamação – Valerosos patriotas Paraenses, tenho a satisfação de vos comunicar, que o Déspota Presidente Bernardo Lobo de Souza, atemorizado de nossas valorosas flechas e baionetas, já existe abordo da Corveta Bertioga, de maneira que já não vem a terra, e também porque se vê solitário; pois o pequeno rebanho de escravos que o arrodeavam, já o abandonou, e o único recurso, que resta a esse malvado Presidente é fugir, ficando-nos assim o dissabor, de não o colher as mãos, para que fosse aqui mesmo punido os seus horrorosos crimes.

Paraenses já temos um destacamento da paragem denominada – Goiabal – de cento e trinta patriotas Brasileiros valerosos, de que é digno Comandante o Capitão José Agostinho d’Oliveira, patriota bem conhecido recheado de probidade patriotismo, e coragem, digno enfim do doce nome de Brasileiro Liberal. Vós sois testemunhas dos Brasileiros que aqui existem expostos antes a morrer, do que serem novamente governados, com a dura vara de ferro do infame Despotismo.

Viva a Santa Religião Católica Romana que professamos; Viva o Povo e Tropa Paraense, que sabe manter os seus sagrados direitos; Viva a Constituição e Santa Federação; Viva a Regência em nome do Imperador! Viva S. M. I. e Constitucional o nosso Jovem Patrício, o Snr. D. Pedro II. Engenho do Desterro, e Acampamento das forças Federais 24 de outubro de 1834. – O Tenente Coronel Comandante Felix Antônio Clemente Malcher.
Reconheço o sinal da Proclamação supra ser de Felix Clemente Malcher por ter todo o conhecimento do mesmo, e por semelhante que vi. Pará 3 de Novembro de 1834. – Em testemunho de verdade estava o sinal público. – Paulo Maria Perdigão. Está conforme. – Miguel Antônio Nobre Oficial Maior.

(Do Correio Official Paraense)

O fogo da cabanagem

A população marginalizada do Grão-Pará, que morava em cabanas miseráveis, foi protagonista da revolta que ficou conhecida como Cabanagem. Desenho de E. Riou a partir de croqui de M. Barde, 1861. Biblioteca Nacional Digital

Menos de dois meses antes da eclosão da cabanagem, em 7 de janeiro de 1835, a Sociedade Federal Paraense decidiu expulsar dos seus quadros o arcipreste João Batista Gonçalves Campos, Félix Antônio Clemente Malcher, Francisco Pedro Vinagre, Antônio Pedro Vinagre e João Pedro Gonçalves Campos. Ou seja: alguns dos principais participantes da revolta popular. Eles deveriam “ser expulsos com infâmia, por se haverem constituídos chefes e colaboradores da facção canibal de assassinos salteadores, insurgida em o rio Acará”, conforme dizia a resolução, impressa e distribuída “a todas as Sociedades e Câmaras Municipais do Império”.

Dois meses após a decisão da associação, um jornal pernambucano, de 26 de janeiro, já relatava os conflitos sangrentos da cabanagem, mas assegurava os atos dos rebeldes “são antes devidos às paixões, às imprudências e às fraquezas de um pequeno número de homens perversos, que a maior parte dos cidadãos”.

O movimento ainda estava no seu início, mas o jornal citava “aqueles honrados cidadãos que entram em palácio”, os quais identifica como sendo “o corpo do comércio que leva suas oferendas ao governo, com que possa de uma vez exterminar os anarquistas e malvados!”

Os novos documentos enviados ao blog pelo pesquisador Ricardo Condurú mostram a necessidade de esclarecer melhor as posições ocupadas pelos personagens dessa dramática história, ainda à espera de clareza e consistência das interpretações da cabanagem.

A resolução da representação paraense da organização federal embaralha os discursos e confunde as ideologias dos protagonistas em ação, acabando com a versão de que Patroni, ao assumir a crítica do que acontecia, atacando o que ele imaginava ser uma conspiração republicana e defendendo a monarquia constitucional com Pedro II, fosse apenas delírio, ou loucura. Era, na verdade, um incêndio social, que espalhava o fogo para todos os lados.

Dou a palavra a Ricardo Condurú.

Caro Lúcio, obrigado pela referência. Permita-me agora complementar duas informações trazidas por Felipe Patroni em seu artigo, cujas circunstâncias ainda são bem pouco conhecidas, mas que provam o quanto ele estava inteirado sobre tudo o que se passava na província do Pará. A primeira diz respeito a expulsão de Batista Campos, Malcher o dos irmãos Vinagre da Sociedade Federal Paraense, por proposição de Lobo de Sousa, quando então já são tratados como cabanos, em novembro de 1834. Para isso, reproduzo a ata da Sociedade Federal que trata das respectivas expulsões; já a segunda, é trecho de um artigo referente à prisão de Félix Malcher. Seguem os textos, onde minhas inserções aparecem entre colchetes:

Jornal “Diário de Pernambuco“, de 27 de janeiro de 1835

PARÁ

A Sociedade Federal Paraense deliberou em sessão de 18 de novembro de 1834, que fosse impresso, para ser público, o seguinte Parecer da Comissão, por ela aprovado e adotado unanimemente na mesma sessão, remetendo-se exemplares a todas as Sociedades e Câmaras Municipais do Império.

Parecer

A comissão encarregada de examinar a matrícula dos membros desta Sociedade, e indicar os nomes daqueles que em consequência da resolução tomada na sessão antecedente, devem ser expulsos com infâmia, por se haverem constituídos chefes e colaboradores da facção canibal de assassinos salteadores, insurgida em o rio Acará. Julga estarem compreendidos nesta disposição: o arcipreste João Batista Gonçalves Campos, Félix Antônio Clemente Malcher, Francisco Pedro Vinagre, Antônio Pedro Vinagre e João Pedro Gonçalves Campos; o 1º por estar provado com toda a evidência não só ser ele o motor de tão execrável atentado, como a origem de todos os males e desgraças que em todos os tempos têm devastado a esta infeliz província; o 2º, 3º e 4º por haverem sido os principais influentes, figurando como chefes dos revoltosos cabanos do rio Acará; e o 5º e último, por se haver manifestado sócio, agente e auxiliador de tão bárbaros assassinos; devendo por isso seus nomes detestáveis serem riscados da matrícula desta Sociedade, entregues ao ódio e desprezo público, e transmitidos à posteridade com horror, como inimigos encarniçados da pátria e da humanidade, para que conheça o Brasil e o mundo inteiro, que uma Sociedade que tem por norte o bem da pátria, por brasão a honra, por timbre a justiça, não tolera em seu seio monstros tais que desonram a espécie humana.

Sala das sessões da Sociedade Federal Paraense, 18 de novembro de 1834. Está conforme. Santiago, P.

“Jornal do Commercio“, de Pernambuco, de 26 de janeiro de 1835, nº 19, página

(…)

Ah! Que lição para os desordeiros, ambiciosos e fanáticos, quando é certo que os males das nações são antes devidos às paixões, às imprudências e às fraquezas de um pequeno número de homens perversos, que a maior parte dos cidadãos.

Eis o modo como foram presos alguns dos facinorosos: As tropas da legalidade, estacionadas no rio Acará para destruir os cabanos que pretendiam subverter esta província, combinadas com o juiz de paz, Lourenço Justiniano de Paiva, que com os honrados acaraenses se lhes reuniu, conseguiram aprisionar um dos cabeças, Félix Antônio Clemente Malcher, que já se acha a bordo da corveta Bertioga. Manoel Raimundo Vinagre, um dos mais influentes, que se achava com Malcher em uma pequena cabana, no centro de uma ínvia capoeira, foi morto de um golpe de fuzil, por ter a animosidade de querer fazer fogo contra as tropas da legalidade. O infeliz Malcher foi encontrado no interior da cabana, tremendo todo, de ceroulas, e mostrando aquela desmesurada covardia que é inata nos malvados. O major Monte Roso, que muito se tem distinguido nesta expedição, e que prendeu a Malcher, e o livrou de ser vítima dos soldados que tinham protestado vingar com o sangue deste monstro as mortes dos patriotas Nabuco [José Maria Nabuco de Araújo, 2º comandante da guarda municipal] e Falcão [coronel José Marinho Falcão], ao vê-lo tão amedrontado, dirigiu-lhe pouco mais ou menos estas palavras:

– Como, Sr. Malcher, como se deixou você arrastar a um crime tão atroz! Você já tem uma idade avançada, com meios de viver com decência, e tendo já gozado de alguma representação?

– Meus grandes pecados!! (respondeu o tímido Malcher), deixei-me guiar por crianças, e por esse malvado Batista Campos, causa de todas as desgraças do Pará. Iludiu-me este malvado, fazendo de mim o instrumento de sua fortuna; mas apenas me viu perdido, abandonou-me. Quando conheci o engano, foi já tarde.

Malcher proferiu estas últimas palavras, dando demonstrações de desejar ver morto a seus pés o pérfido Batista Campos, primeiro agente dessa desordem, como estava vendo o malvado Vinagre, que ao menos teve a coragem de morrer ao seu lado.

Oh! Vicissitudes dos tempos! Disse Malcher na sua infame proclamação [refere-se à Proclamação dos Cabanos sublevados no rio Acará, já publicada no Blog Cabanagem Redescoberta], que o Exmo. Presidente já se achava refugiado a bordo da Bertioga, quando ele, Malcher, é que hoje se acha nela preso!! Lamenta Malcher que o senhor Lobo não lhe caia nas mãos para o estrangular, e o senhor Lobo manda dar-lhe a corveta por homenagem, e ordena que o tratem com toda a decência! Disse Malcher que o Sr. Lobo estava abandonado de seus amigos, quando ele hoje não sabe nem do Benze Cacetes [se refere a Batista Campos] (1) nem do (*) Papagaio Moleiro [se refere a Lavor Papagaio], nem desses assassinos cearenses [se refere a Eduardo Angelim e seus irmãos], nem dos seus corajosos patriotas recheados de patriotismo!! Ah, e onde estão eles, infeliz Malcher?? Nos matos, fugidos, caçados e espavoridos. E vós, desamparado, preso, e carregado de crimes!!! E concedereis, vós, a vida a um cidadão da legalidade, como eles vos concederam a vós? Se o sossego que a humanidade vos concede nessa prisão, que não mereceis, vos permite algum momento de reflexão, lançai os olhos sobre esta cidade, que vós enchestes de luto! Aquelas famílias, que ali passam cobertas de negro luto, são as famílias dos honrados patriotas Nabuco e Falcão, a quem barbaramente arrancaste a vida; atentai que até os mais tenros filhinhos vão chorando por verem a mágoa nos rostos de suas tristes mães! Vede daí mesmo aqueles honrados cidadãos que entram em palácio. Sabeis quem são? É o corpo do comércio que leva suas oferendas ao governo, com que possa de uma vez exterminar os anarquistas e malvados! Vede daí mesmo quanto dista de vós o homem virtuoso, o pai da pátria, que pretendíeis estrangular, e contra quem vós seduzíeis os povos. Vede-os, qual Salomão no esplendor de sua glória, e astro brilhante rodeado de poderosos satélites, de todas as autoridades, de todos os homens de saber, de todos os proprietários, de todos os cidadãos submissos às leis, de todos os militares distintos por seus serviços, e respeitáveis pelos seus anos. Lembrai-vos dos estragos que causastes, vede o sossego que gozamos, e conclui que vos enganastes.

(*) Dizem que foi ao outro mundo fazer uma grande revolução, que terá lugar num 3º número de um periódico que lá vai publicar.

(1) Nota do Blog Cabanagem Redescoberta: Em um outro trecho da publicação, há a seguinte observação: “De uma carta de Manoel Raimundo Vinagre, vê-se que Malcher se intitulara Pinto Madeira. Por consequência o Padre Batista é o Benze-Cacetes, e seus sequazes são com justiça os Cabanos” [referindo-se a revolta de Pinto Madeira entre 1831 e 1832, no Ceará, quando o mesmo se rebelou contra o governo imperial quando da abdicação de D. Pedro I ao trono brasileiro].

Um enigma chamado Patroni

Ricardo Condurú enviou para o blog um documento importantíssimo: um artigo escrito por Felipe Patroni em 1836, que ele publicou em seu próprio jornal, um dos que criou no Rio de Janeiro, e que circulou entre 1836 e 1837. A leitura atenta do texto de Patroni revela o quanto os historiadores e demais interessados no tema ainda precisam pesquisar, estudar e interpretar para chegar a uma reconstituição da cabanagem melhor do que toda a bibliografia que ela já motivou.

Como lembra Ricardo com acerto, Patroni continua a ser uma esfinge, cujos mistérios e enigmas derivam de leituras apressadas e superficiais do que ele fez e do que escreveu. Ele saiu de Belém ainda na fase da luta pelo direito dos paraenses de fazerem parte da nova nação em construção e se livrarem dos representantes diretos do poder metropolitano português, que ainda dominavam a política, a administração e a economia.

No crescente ambiente de tensão e polaridade, a figura de Lobo de Souza, que era o presidente da província quando a cabanagem eclodiu, não pode ser desprezada ou minimizada. Ele era maçon e a maçonaria era a organização mais comprometida com o movimento de libertação do Brasil. Mas ppr que a maçonaria assumiu posição reacionária no Pará? A pergunta ainda não tem uma resposta plenamente satisfatória.

Patroni já estava bem estabelecido na capital brasileira. Tornou-se personagem da corte. Por sua atuação política, por sua atividade na imprensa e por vir a ser advogado do imperador. Acompanhava o que acontecia na sua terra natal, não apenas como intelectual, mas como um criador de pensamento e um propositor de mudanças, sempre situando o imperador como uma referência fundamental.

No lançamento do jornal O Correio do Imperador ou o Direito: “Encetamos uma nova carreira, a carreira mais brilhante, que até agora se tem trilhado na Política do Brasil! Os egoístas, inimigos do Brasil, inimigos da Monarquia Constitucional e da nossa augusta santa Religião Católica, certamente que hão de levantar gritos altos e descompassados. Nós só queremos que se dê seu a seu dono: ora isto é justamente que se chama direito de propriedade. Por conseguinte, o nosso justo meio, isto é, o direito de propriedade, cada um no que é seu, o Senhor D Pedro II no seu trono constitucional”.

Para Patroni, aferrado à monarquia constitucional e ao direito de propriedade como fundamento do novo império, uma das suas características essenciais era “tratar de uma nova maneira de se distribuir benesses ou ‘recompensas’ concedidas pelo Estado”, definida pelo Código de Recompensas, que passavam a  conferir “os  empregos  e  condecorações  aos homens beneméritos, sem que lhes fosse necessário pedir ou adular, isto é, sem patronato”.

Na busca por uma conciliação desses princípios com a realidade violenta e radical da insurreição popular, Patroni faz uma interpretação confusa, às vezes febril, da realidade, mas sem perder um tom de utopia.

Dou passagem para o documento divulgado por Ricardo Condurú e à sua apresentação.

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A relação de Felipe Patroni com a Cabanagem ainda é pouco conhecida e entendida. Em verdade, a sua visão era de que uma chamada “camarilha dominante” tinha por objetivo retalhar o Brasil em cinco repúblicas, cada uma com um rei que empunhasse a vara de ferro da ditadura absoluta. A tal camarilha tinha ainda, segundo Patroni, como meta, a destruição da religião. E para tais objetivos, que deviam começar pelo Pará, foi designado Bernardo Lobo de Sousa.

Diante desses fatos, Patroni sai então em defesa de Félix Malcher e de Francisco Vinagre, por terem se postos contra Lobo de Sousa. Patroni faz inclusive elogios ao governo de Vinagre, o qual foi “de paz profunda”. Tudo isto está inserido no artigo publicado em duas edições do jornal “Correio do Imperador” (2 e 6 de dezembro de 1836), do Rio de Janeiro, e reproduzido no Blog Cabanagem Redescoberta de 20 de março de 2020, o qual transcrevo abaixo, para conhecimento dos interessados.

REVELAÇÕES IMPORTANTÍSSIMAS OU O GOVERNO DE HERESIA E SANGUE

Lobo, o grande Lobo, presidente do Pará, que era em verdade um lobo no nome, nas entranhas, e nos dentes, um animal ferocíssimo, sem lei, sem pejo, sem Deus, sem religião alguma, sem a mais mínima sombra de boa educação e de moral; eis aqui o homem escolhido a dedo pela camarilha dominante para ser o fiel executor dos negros planos que ela havia abortado em seus delírios políticos.

O Brasil devia ser retalhado em cinco repúblicas; em cada uma delas um Rei democrata, chichelo, proletário, que empunhasse a vara de ferro da ditadura absoluta; e o Pará, o pobre Pará tinha de ser a primeira província, onde começassem as manobras concernentes à empresa. Os novos monarcas foram designados, um deles nomeado à sorte; e uma fábrica de cobre falso devia estabelecer-se no Amazonas, em proveito dos membros da camarilha, para servir a propósito às operações da mesma empresa.

Restava dar-lhe princípio; ela devia começar pela abolição do sacerdócio, aniquilação dos sacramentos, casamento dos clérigos, e destruição absoluta de todas as ideias religiosas. Lobo encarrega-se de tudo isto, leva insinuações da camarilha, e apenas chega ao Pará, funda imediatamente uma sociedade secreta, cujo fim único é destruir a religião. Mas seus comparsas e sectários respeitam ainda a opinião pública, temem os homens; Lobo os encoraja, anima-os com o seu exemplo, e querendo dar-lhes uma prova exuberante do quanto deviam esperar de sua autoridade, tem a protérvia insolente de passar com o chapéu na cabeça por uma procissão do Santíssimo Sacramento que ia de viático a um enfermo, acompanhada pelo bispo e outras pessoas respeitáveis da capital. Lobo, o presidente da província trata a todos com o mais insultante desprezo, não corteja ninguém, e passa pela procissão como por um bando de porcos de que se não devia fazer caso algum.

O velho, o respeitável e santo bispo, o Sr. D. Romualdo de Souza Coelho (nosso patrício e padrinho), tio do Sr. Arcebispo da Bahia (nosso patrício e mestre de Humanidades); o virtuoso e venerando bispo do Pará toma a peito pugnar pelo decoro da religião e dos homens de bem do país: escreve uma pastoral a respeito, sem todavia insultar pessoa, sem designar um só nome, e a remete ao prelo para ser publicada. Sabe disto Lobo, manda vir a sua presença o cônego Severino de Matos, secretário e confessor do prelado, e ordena-lhe que seja cassada a pastoral, sob pena de ser arrasado o palácio episcopal e tudo quanto nele existir. O triste diocesano obedece de pronto, cassa a pastoral, e temendo as sanhas do mais furibundo ateu que pisara as praias do Amazonas, retira-se da capital.

Então começa a luta dos partidos. O cônego Batista Campos resolve-se a aparecer na arena como atleta da religião católica: forma uma outra sociedade para se opor aos planos de Lobo; este o chama à sua presença, e depois de o descompor arrieiralmente ameaça-o com pancadas, e até lhe diz claro que o manda matar, se ele prossegue em sua oposição. O cônego Batista Campos treme (sic) pela sorte que o espera, e desistindo de sua empresa, retira-se também da capital e vai entranhar-se nos bosques de sua terra.

Mas Lobo não desiste de o perseguir; insinua à Sociedade Federal e exclusão ignominiosa do cônego, e uma ata aí se lavra, na qual são expulsos dela Batista Campos, Malcher e os irmão Vinagres, pela razão explícita de serem todos quatro, ladrões e assassinos. Esta infâmia publica-se em todos os periódicos da província à ordem positiva do presidente, que em todos os atos aparece com o braço forte e com a vara de ferro que empunhava sua autoridade legal.

Malcher não pode mais sofrer mudo e quedo tanto vilipêndio, Malcher que era homem de bem, ilustre por seu nascimento da extinta casa dos Távoras, proprietário laborioso e honrado, rico lavrador, estabelecido com engenho de açúcar no rio Acará. Ele sente a injúria atroz que se acaba de fazer, vê-se ameaçado da fúria do ateu, determina-se a defender sua honra, sua fazenda, sua vida. Mas Lobo dá-lhe caça, prende-o, amarra-o em cordas, em ceroulas e camisa, assim o faz aparecer em pleno dia nas ruas da cidade, e o manda embarcar para a fortaleza da Barra, e tudo isto, bem entendido, depois de lhe haver feito queimar todas as oficinas rurais de sua fábrica, a exceção da capela que os executores da ordem respeitaram de moto próprio, porque eram cristãos e não pertenciam à seita do ateísmo na capital.

Malcher não pode mais sofrer mudo e quedo tanto vilipêndio, Malcher que era homem de bem, ilustre por seu nascimento da extinta casa dos Távoras, proprietário laborioso e honrado, rico lavrador, estabelecido com engenho de açúcar no rio Acará. Ele sente a injúria atroz que se acaba de fazer, vê-se ameaçado da fúria do ateu, determina-se a defender sua honra, sua fazenda, sua vida. Mas Lobo dá-lhe caça, prende-o, amarra-o em cordas, em ceroulas e camisa, assim o faz aparecer em pleno dia nas ruas da cidade, e o manda embarcar para a fortaleza da Barra, e tudo isto, bem entendido, depois de lhe haver feito queimar todas as oficinas rurais de sua fábrica, a exceção da capela que os executores da ordem respeitaram de moto próprio, porque eram cristãos e não pertenciam à seita do ateísmo na capital.

É por este fato que requinta o desespero de todos os homens que tinham um pouco de senso comum. Vinagre acha grande apoio dos habitantes de Belém; determina-se a sair do mato onde estava refugiado, e livra a sua vida e a de Malcher e a de muitos outros, matando Lobo que procurava matar todos. Sucede-lhe porém Malcher no governo e no furor, com que se dispôs a arrasar a cidade em busca de Camecran que já tinha fugido; e Vinagre ainda se coloca na dura necessidade de tirar a vida a Malcher para poder salvar a sua e de todos os mais habitantes da capital. Uma luta de tanto sangue é substituída pela paz profunda; aclama-se Vinagre presidente da província, reina a ordem, gira o comércio, trabalha-se, e o comandante da corveta portuguesa, testemunha ocular de todos os acontecimentos desastrosos e funestos, é quem tece elogios a Vinagre e faz a apologia do governo dele, no relatório que apresenta em Lisboa aos ministros de S.M.F. a Rainha de Portugal.

E qual foi, portanto, a causa, a verdadeira origem das desordens do Pará? O governo de heresia e sangue, a camarilha dominante que projetava estabelecer as cinco repúblicas, principiando pela absoluta destruição da religião católica romana. Isto explica otimamente a razão porque o governo atual trata de duas maneiras diversas os presos vindos do Pará e do Rio Grande do Sul: os do Rio Grande são protegidos, os do Pará acabrunhados; é que os do Pará defendiam a causa da religião e monarquia, e os do Sul a combatiam. Não aplaudimos nem justificamos os horrores e atrocidades inauditas que praticaram os rebeldes do Pará, posto que o fizessem por dura necessidade para se livrarem do infame jugo que lhes impunham bárbaros e cruéis inimigos do trono constitucional do Senhor D. Pedro II, e da nossa augusta Religião Católica Apostólica Romana: mas só queremos apresentar ao público ilustrado da corte do Brasil os fatos e horrores, tais quais se verificaram, perpetrados pela autoridade, de ordem da camarilha dominante, a qual, servindo-se da lei e do próprio poder constituído, projetava com a mais clara perfídia e traição dividir o Império em cinco repúblicas e destruir inteiramente a monarquia, começando primeiro pela abolição do sacerdócio e casamento dos clérigos, a fim de plantar na Terra de Santa Cruz a mais perversa e imoral libertinagem, que devia ser a base mais prima e mais forte da ditadura de ferro dos cinco novos monarcas proletários, da matança e pilhagem, do governo de heresia e sangue.

Ah! Senhores! Que faria cada um de vós, se a autoridade herética e democrática, servindo-se do próprio poder, quisesse matar-vos e tirar vossos bens? De certo nos respondereis: matá-lo primeiro, podendo, para defender o direito de propriedade de nossas vidas e fazendas. Pois eis aí justamente o que fizeram os tristes e desgraçados habitantes do Amazonas: eles foram invadidos pelo falso poder, pelo poder traidor, na religião do seu país, no trono do seu Imperador, na lei de sua constituição, no direito de sua propriedade, na sua honra, fazenda, e vida; eles não podiam deixar de defender com as armas na mão a monarquia, a religião, a lei, a constituição, a propriedade, a honra, a fazenda, e a vida de todos os habitantes da província que não podiam jamais querer curvar-se ao domínio absoluto da espada de ferro dos novos monarcas libertinos, hereges, sanguinários e ladrões.

Mas que acontece no Sul? Tudo pelo contrário. Aí o poder constituído e legal, o Sr. Braga, só procura defender a monarquia, a religião, a lei, a constituição e a integridade do império, enquanto que os rebeldes tudo isto invadem e querem destruir absolutamente os vínculos sociais. Qual é, porém, o desfecho do drama? O Sr. Braga não encontra apoio algum na camarilha, e os rebeldes que do Sul vêm presos à Corte, são logo protegidos, soltos, e animados. O governo do Sr. Feijó um só feito obsequioso não presta aos infelizes paraenses provocados pelo poder; e o governo do Sr. Feijó enceta sua carreira administrativa violando a lei para anistiar os rebeldes do Rio Grande, que haviam provocado todas as leis e destruindo por traição todos os vínculos naturais do poder. Os habitantes do Norte fizeram-se rebeldes para poderem sustentar a lei, a religião, e a monarquia; enquanto que os rebeldes do Rio Grande foram traidores, porque aí queriam fundar a democracia insidiosa e a furibunda libertinagem. Os do Norte não curvaram nunca sua cerviz ao jugo infame da camarilha; ao contrário, os rebeldes do Sul foram sempre os apaniguados dela, que insinuava e dirigia a seus fins peculiares e sinistros. Em consequência, os habitantes do Pará não podiam achar no governo nem ainda o seu próprio direito da lei, ao mesmo tempo que os democratas e traidores do Rio Grande do Sul não podiam nunca encontrar nele o mais pequeno sinal de irritação e desfavor.

Assim se descobre a monita secreta e se revelam os arcanos da política dos enigmas, jogada pelo governo do Sr. Feijó entre as duas províncias extremas do Império que tem sido há tanto tempo o teatro da guerra civil, promovida sempre pela camarilha que projetava retalhar o Brasil em cinco repúblicas para patrimônio de cinco monarcas proletários, os quais deviam fundar seus tronos sublimes e elevados sobre as ruínas da religião e cinzas dos cadáveres.

Um fato cumpre ainda revelar, que derrama luz mui clara e extranatural sobre tudo quanto havemos asseverado. O senhor Gomes, paraense, é preso pelo ditador Andréas em virtude de certa intriga muito particular e doméstica, grilhões nos pés, um cidadão distinto, empregado público no correio da província, filho de um proprietário respeitável, o doutor Gomes, já falecido. Chega ele à Corte, apresenta seus relevantes serviços prestados à legalidade, mostra que nunca foi do partido dos anarquistas, e o mostra por documentos legais passados por autoridades constituídas, inclusivamente pelo padre Prudêncio, de Cametá, que tanto mereceu bem do senhor Feijó na graça da pensão de seiscentos mil réis; e, todavia, o senhor Gomes, o distinto servidor da ordem social e da pátria, em prêmio de sua honrada conduta, é acabrunhado pelo governo do senhor Feijó que o solta dos ferros para mais o subjugar, obrigando-o violentamente a sentar praça no corpo militar de caçadores, um emprego público, filho único de uma viúva ilustre, arrimo e sustentáculo da honesta pobreza dela.

E poderia um paraense, um defensor natural do trono do Senhor D. Pedro II, firmado sobre a religião santa e augusta do Brasil, poderia ele querer soltar-se dos ferros para sentar praça e ser soldado na corte, na cidade do Rio de Janeiro, atualmente durante o governo do senhor Feijó? Ah! Não, certamente; mas antes morrer, do que servir de pau de cabeleira armado às ordens de uma pessoa elevada ao poder por um governo de heresia e sangue, pela fatal camarilha que projetava dividir o Império em cinco repúblicas de férrea ditadura: fundar cinco tronos de farroupilhas sobre cadáveres degolados pelo poder em nome da lei: engrandecer cinco famílias de proletários estúpidos e miseráveis à custa das riquezas dos cidadãos proletários, saqueadas pelo poder em nome da lei; estabelecer o cisma herético desunindo da obediência do Chefe da Igreja Universal a igreja brasileira; abolir o sacerdócio, os sacramentos, e a moral religiosa e civil, proclamar a ponta d’espada o casamento dos clérigos, fazendo casar um padre com a senhora D. Januária e outro com a outra princesa; e finalmente, dar cabo da pessoa augusta, sagrada de S. M. I., o Senhor D. Pedro II, banindo-o, ou até mesmo dando-lhe a morte prematura e cruel. Ah! Que horror! Que pélago insondável de abismos e de horrores! A mão nos treme… nem ela mais pode escrever… Que a providência nos salve, pondo em seu trono o Senhor D. Pedro II declarado maior pela Assembleia Geral; e que à sombra deste trono viva em paz todo o mundo, até mesmo o senhor Feijó.

Como ler Patroni?

Há quase meio século, em 1975, o Conselho Estadual de Cultura do Pará, por iniciativa da sua presidente, a professora Maria Anunciada Chaves (já falecida), publicou as Obras escolhidas de Felippe Patroni, com 321 páginas. Continua sendo a única via de acesso a textos, produzidos com grande fecundidade, por um dos personagens mais importantes e polêmicos da história paraense, sobretudo na primeira metade do século XIX, com seus momentos dramáticos na adesão à independência nacional e na cabanagem.

Como o próprio título da obra destaca, são algumas das obras de Patroni, editadas de forma um tanto caótica, sem método adequado. Sugere a pressa em reunir o que estava acessível e colocar o livro. Certamente havia o receito de falta e receptividade, desagrado ou mesmo desaprovação à iniciativa de uma das mais destacadas intelectuais da terra.

A professora Anunciada tinha plena consciência da visão preconceituosa e mesmo distorcida da maioria dos que se interessavam pelo tema. Na apresentação do livro, ela lembra que o principal historiador da cabanagem até hoje, Domingos Antonio Raiol, confessava nunca haver conseguido entender os escritos de Patroni, “apesar de os ter lido uma e várias vezes com o máximo interesse, solicitando esclarecimentos aos admiradores do grande liberal, que nunca os puderam dar ao Barão de Guajará”.

Para o barão, “Patroni não era homem assisado” e “sua linguagem rude denuncia que ele pelo menos sofria excitações nervosas, das quais poderia vir-lhe facilmente a perturbação mental”. Em suma: Patroni endoidara.

Anunciada, porém, “em que pese opinião tão digna de acatamento, a produção de Patroni merece o maior respeito e admiração pelo seu teor político-doutrinário e pela inalterável linha revolucionária que a orienta, sempre em luta pela dignidade do Pará”.

Alguns dos livros, escritos entre 1835 e 1851,foram republicados na íntegra, Mas das quatro partes, divididas em dois volumes, da incrível Viagens pelas províncias brasileiras. de 1851, só saíram as duas primeiras partes. A presidente do conselho tinha a intenção de ir buscar o segundo volume onde eles estavam, no Arquivo Nacional, e publicá-lo em uma nova edição, mas isso não aconteceu.

Espera-se que o conselho de cultura se lance a um novo empreendimento, revendo o volume publicado em 1975, eliminando suas deficiências, e dê início ao projeto da edição das obras completas de Patroni, entregue a uma equipe capaz de realizar um trabalho à altura da importância do autor. Mais do que um intelectual, ele foi personagem destacado da história do Pará.

LOUCO?

Contra a tese da loucura de Patroni, que ainda prevalece, faço uma citação do livro dele Álgebra Política, da 2ª edição, de 1851, que atesta a capacidade de observação e de expressão do herói acaraense, além da sua lucidez (segundo Cabelos no coração, o livro épico de Haroldo Maranhão). Nesse trecho, ele aplica as formulações teóricas da sua álgebra política.

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São de fato em número de oito as famílias que mais têm preponderado na política do Brasil, desde o tempo da Independência, e muito antes que ela aparecesse.

Casa de S. Cristóvão, ou Família Imperial, do Rio de Janeiro – 1ª do tom da gama brasileira, legislação moral e ciência, ou política e religião, poder físico e moral.

2ª ANDRADA, de S. Paulo – 2ª do tom, espécie a mais moral das notas da gama por ser a incógnita da 8ª na paridade, da qual tem a essência e a natureza.

3ª MONTEIRO DE BARROS, de Minas Gerais – 3ª do tom, espécie necessária na firmeza tônica.

4ª CARNEIRO DE CAMPOS, da Bahia – 4ª do tom, espécie falsa por natureza, e incapaz de firmar o tom.

5ª CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, de Pernambuco – 5ª do tom na gama, ou espécie moral, que tendo a natureza do justo meio, serve a desculpar todas as dissonâncias, dirigindo a harmonia toda para firmar o tom na 1ª gama em todos os transportes. Centro ou justo meio da física e moral do Brasil pela posição geográfica de Pernambuco no mundo brasileiro. Eixo de balança política, ou regente, ou primeiro ministro. Personalização realizada na lei do movimento.

6ª CASTRO, do Ceará – 6ª do tom, espécie de transição de desculpa.

7ª GONÇALVES SILVA, no Rio Grande do Sul – 7ª do tom, fim das notas naturais da gama, fim da física e moral do Brasil: morte e ressurreição, ou decomposição e recomposição da 8ª da gama que forma o uníssono.

8ª MACIEL PARENTE, do Pará – 8ª do tom: princípio da física e moral do Brasil pela posição natural da província no território brasileiro. Reprodução da unidade.

Pretos processados

Nos sumários formados em Cametá pelo ouvidor, em 1823, que acompanharam os escravos presos, somente foram individualizados os pretos Esmeraldo, Lauriano Francisco do Espírito Santo, Romão Manoel e Faustino. Há referência também aos “pretos da Vacaria, de Juaba, etc. etc.”. A preta Theodora e a cafuza Matildes depuseram apenas como testemunhas.

Em junho de 1823, o ouvidor se referiu ao “sumário a que se procedeu em Cametá contra os pretos que projetavam o levante”.

(Códice 404 do Arquivo Público do Pará)