Personagens (6)

Continuo a publicar a seleção dos principais cabanos presos pela força imperial que combateu a cabanagem. Seus nomes constam da relação nominal dos rebeldes presos em 1836, contida nos códices 972, 973, 974, 1.130, 1.131 e 1.132 do Arquivo Público do Pará. Grifei alguns trechos mais importantes.

Laudegário José de Assunção. Paraense, mulato, 45 anos, alfaiate. Tomou parte em todas as revoluções havidas em Belém. Esteve sempre em armas no ponto dos rebeldes de Santo Antônio, em Belém. Com a chegada do marechal Manuel Jorge Rodrigues evadiu-se para o rio Maguari. Depois marchou para a tomada da vila da Vigia, onde matou e roubou. Em seguida, voltou para o mesmo rio e lá praticou as mesmas violências, saqueando imensos sítios daquele distrito, reunido com muitos outros que existiam no engenho Benjamin. Voltou a investir contra Belém, praticando novos crimes. Remetido pelo juiz de paz da baía do Sol, foi para bordo da corveta Defensora em setembro de 1837. Para o hospital seguiu em junho de 1838, aí falecendo no mês seguinte.

Lauro de Moraes. Paraense, cafuz, 18 anos, sem ofício. Um dos principais membros do grupo de Agostinho Moreira, que praticou assassínios e roubos e incendiou fazendas nos rios Bujaru e Capim. Foi um dos que assassinou o juiz de paz João Manoel. Fugiu depois junto com Eduardo Angelim, “tornando-se um dos maiores verdugos contra a força legal”. Remetido para bordo em dezembro de 1836.

Leandro Fernandes. Paraense, cafuz, 65 anos, lavrador. Preso por ser perigoso à tranquilidade pública “pelo seu gênio depravado e turbulento”. Chegou a tramar na vila de Cametá uma insurreição de escravos. Sempre perturbou o sossego público com facadas, pancadas e assassínios, como fez ao major Luiz de Souza Coelho, morto pelos seus próprios escravos, parentes do dito cafuz, que os aliciou, “por não querer prestar-se para serviço algum”. Preso em Cametá, foi para bordo da corveta Defensora em outubro de 1837. Transferido para o hospital de S. José com bexigas em 10 de outubro de 1838, ali morrendo seis dias depois.

Leandro Muniz (“Beiço-roxo”). Paraense, pardo, 34 anos, lavrador. Foi cabeça da reunião de gente do Miritipiranga para a “revolução do Malcher”. Sentou praça em 1835. Conjurou para a morte do presidente Lobo de Sousa. Foi comandante dos rebeldes que atacaram o destacamento da legalidade no rio Pequeno, onde fez uma confabulação com os da legalidade; depois que estes entregaram as armas, mataram todos, em número de 40, a maior parte proprietários do distrito. Preso em agosto de 1838.

Lino Antônio. Paraense, cafuz, 28 anos, sem ofício. Preso pelo assassinato de João Antônio Lobato. Depois de o matar, abriu-lhe o ventre. Também matou em Belém o alferes do 5º Batalhão de Caçadores de 1ª linha Vicente Pereira da Silva. Para evitar ser assassinado, o militar tinha se refugiado na casa de Rosa Maria de Nazaré, que, por isso, foi espancada e maltratada com palmatória, não lhe valendo os rogos do padre Manoel João Taumaturgo. Com uma imagem de Cristo nas mãos, impetrava ao assassino houvesse de ter clemência, ao que ele respondeu com um tiro, não o acertando. Preso no Moju e remetido para bordo da corveta Defensora em abril de 1838. Foi para o hospital geral, onde faleceu em agosto de 1839.

Lourenço Ferreira. Paraense, mameluco livre, casado, 19 anos, calafate. Participou do ataque comandado por Geraldo, irmão de Eduardo Angelim. Confessou ter sido major de artilharia, segundo comandante do fortim, feito por Eduardo. Consta mais que fez diferentes mortos e a muitos infelizes que matou mandou ainda vivos arrancar-lhes os olhos. Preso em junho de 1836, no rio Acará. Remetido para bordo da corveta Defensora em 14 de julho do mesmo ano. Foi para o hospital em fevereiro de 1837, por ter sido castigado com chibatadas. Participou na desordem que pretendiam fazer a bordo da corveta. Saiu do hospital em do mesmo ano. Recolhido à corveta Amazonas em abril de 1840.

Luís Rodrigues da Fonseca. Baiano, pardo, 39 anos, carpinteiro. Foi capitão dos rebeldes. Negociava com a capital o gado roubado do Marajó. “Por ter alguma inteligência”, dirigiu as operações dos rebeldes em Monçarás. Preparou em sua casa algumas cartuchames para resistir ao desembarque da expedição ao Marajó. Consta que foi autor das revoltas em Monçarás. Preso em setembro de 1836, no Marajó. Faleceu a bordo da Defensora, em janeiro de 1837.

Luiz Antônio 3º. Paraense, cafuz, 18 anos, solteiro, sem ofício. Andou com Agostinho Moreira desde o princípio da revolta, matando, roubando e incendiando as fazendas do rio Bujaru e Capim. Assassinou um escravo de Bento Garcia, e foi um dos que mataram o juiz de paz João Miguel e aos que se achavam com ele a favor da lei. Saqueou e roubou a casa do capitão Narciso Gomes do Amaral e do capitão Vicente Gomes de Miranda. Fugiu depois para o Acará na companhia de Angelim. Classificado como “um dos maiores verdugos contra a força legal”. Derrotado, conseguiu fugir debaixo de um vivo fogo para o rio Guamá. Remetido para bordo da corveta Defensora em dezembro de 1836. Passou para a charrua Cibele em outubro de 1839.

Luiz José Piteira. Paraense, branco, 36 anos, alfaiate. Cabeça da revolução que pretendia pôr em prática em Cametá para assassinar os presos da cadeia. Sempre foi turbulento inimigo da tranquilidade, promovendo a perseguição dos brasileiros adotivos, os quais espancava nas ruas. Sua conduta pública e particular sempre foi má. Remetido de Cametá, onde foi preso, chegou à corveta Defensora em março de 1837. Passou para a cadeia em junho de 1839. Em fevereiro de 1840 passou, para a cadeia.

Manoel Antônio 3º. Africano, preto, 26 anos, solteiro, escravo do guarda-livro Vicente Galego. Preso em Belém pelas tropas da legalidade em 13 de maio de 1836. Remetido para bordo da corveta Defensora em julho de 1836. Passou para os trabalhos públicos em de outubro do mesmo ano.

Manoel Antônio Ferreira. Paraense, branco, 28 anos, calafate. Chefe de cabanos e major comandante do fortim. Também atuou no distrito da Vigia. Remetido para a Defensora janeiro de 1837. Foi para o hospital no mês seguinte, por ter sido castigado com chibatadas, punido como um dos envolvidos na desordem que pretendia fazer a bordo da corveta. Teve alta em 20 de fevereiro. Recolhido à corveta Amazonas em abril de 1840.

Manoel Antônio Nogueira Gavião. Cearense, branco, 24 anos, solteiro, carpina. Acusado de ser um dos primeiros chefes que agrediram a capital e dela se apoderaram, em agosto de 1835; cooperou direta e indiretamente para assassínios, roubos, arrombamentos, incêndios, não só na capital como em todos os lugares da província. Remetido para bordo da corveta Defensora em outubro de 1836. Passou para a Fortaleza da Barra no dia seguinte. Foi entregue por ordem superior ao capitão João Francisco de Melo em janeiro de 1837. Retornou à Defensora em 29 do mesmo mês. Por despacho do presidente da província de 5 de janeiro de 1839 passou a gozar do indulto, faculdade também concedida a seu irmão, “havendo, contudo, sobre ambos, as precisas cautelas”. Pronunciado como tenente-coronel chefe de pontos e expedições rebeldes, como um dos que mais concorreu para os crimes que se cometeram na província, na capital, Guajará-Mirim, Moju, Acará, Aicaraú, Juçapi, Barcarena, Bujaru, Ourém e Beja. Recolhido à corveta Amazonas em 6 de abril de 1840.

Manoel Antônio de Sousa. Paraense, índio, 20 anos, lavrador. Fez fogo contra a legalidade, no qual morreram três guardas nacionais e um artilheiro e foram feridos 24 homens. Prendeu o português Antônio Guerra e o brasileiro José Paz, que depois fuzilou. Matou ainda o guarda nacional Crispim dos Anjos e o artilheiro. Preso em julho de 1836, em Inhangapi, por paisanos.

Manoel da Assunção. Paraense, preto, 30 anos, vaqueiro. Escravo da viúva D. Maria Pereira de Moraes. Foi quem reuniu os escravos e marchou com o curiboca Bartolomeu para atacar o destacamento legal. Assassinaram todos os brancos e na volta continuaram a matar quantos encontravam. Foi criado na fazenda de Luiz Calandrini, onde roubou e com outros cabanos praticou violências. Preso em outubro de 1836 em Soure, na fazenda de Calandrini. Remetido para bordo da corveta Defensora em 14 de fevereiro de 1837, nela morreu em agosto do mesmo ano.

Manoel Cândido Pereira Pinto. Paraense, branco, 28 anos, lavrador. Já era criminoso antes da crise dos cabanos, se opondo sempre às instituições legais. Na ocasião em que os rebeldes entraram na capital, foi logo o primeiro em aderir. “Debaixo da mais negra traição, comunicou-se com os cabanos seus comparsas para virem atacar o destacamento legal” no distrito do rio Bujaru, sendo aclamado tenente comandante, em recompensa de uma proclamação assinada do seu próprio punho. Promoveu os atos a que podia chegar a sua brutalidade em perseguir os habitantes que mais se tinham oposto sempre aos seus malvados intentos, a tudo de magotes com seus comparsas. Foram assaltadas todas as casas do distrito, em que se cometeu. Foi pessoalmente congratular-se com o rebelde Agostinho Moreira, oferecendo-se para o seu serviço, e combinar nos seus horrorosos planos. Quando a força da legalidade se reuniu no distrito de Bujaru, em abril, para marchar para a capital para ajudar a fragata Imperatriz “a rebater a audácia do intruso Vinagre, este indivíduo não quis obedecer às ordens do capitão Narciso, opondo-se e tirando até a arma de um dos que iam buscar, dizendo que mais fácil seria meter-se no mato do que pugnar em favor de nações, sendo preciso aquele capitão mandar uma escolta prendê-lo; e como foi reconhecido traidor, ficou entregue ao comando do juiz de paz”. Preso em maio de 1836 no rio Guajará. Transferido da charrua Carioca para bordo da corveta Defensora em julho do mesmo ano. Foi para o hospital em março de 1837 e solto em setembro de 1838.

Manoel da Conceição Aniceto. Paraense, branco, 35 anos, negociante. Cabano como os outros, “dizem que fora sempre adverso à influência dos escravos a morte e roubos”. Talvez por isso, o presidente da província deu ordem para que ele ficasse preso com ferros “e nos melhores lugares da corveta’, à qual chegou em 24 de dezembro de 1836, 10 dias depois de ter sido preso, em Soure. Foi solto em março de 1837.

Manoel Domingos do Nascimento (filho de Angela Maria). Paraense, mulato, 21 anos, sem ofício. Junto com outros, matou, na fazenda Santa Maria, o capitão João Pereira Marques Filho, um escravo dele e mais três forros. Preso em Marajó. Remetido para bordo da corveta Defensora em outubro de 1838. Foi para o Hospital de S. José em fevereiro de 1839, onde morreu, em março.

Manoel Joaquim Pereira Feio. Paraense, 51 anos, mameluco, livre. Tenente-coronel chefe dos cabanos do Moju feito por Eduardo Angelim. Mandou fuzilar mais de 80 cidadãos em Igarapé-Miri, entrando neste número o comandante daquele ponto, alferes Pena. Preso em maio de 1836, mantido no porão da corveta Defensora.

Manoel José Cavalcanti. Pernambucano, branco, 34 anos, negociante. Foi o responsável por toda pólvora remetida para o Acará. Foi também capitão de cavalaria dos rebeldes. Preso em maio de 1836, em Belém. Foi conduzido à corveta Regeneração e passou para a Defensora em maio de 1836. Foi para o hospital em maio de 1839, onde morreu no mês seguinte.

Manoel José de Medeiros (por antonomásia Chibé). Português (ilha de São Miguel), branco, 36 anos, casado, carpinteiro. Assaltou a vila de Monte Alegre contra a força da legalidade, na madrugada de 28 de fevereiro de 1836, onde fez um vivo fogo e feriu alguns legais. Foi um dos oferecidos para conduzir para Ecuipiranga o capitão-mor Nicolau da Gama Lobo, que seria morto junto com outras vítimas. Antes de embarcarem, assassinou a facadas João Antônio de Lemos e andou aliciando gente para o seu grupo. Preso em Gurupá, transferido para Santarém e remetido para bordo da corveta Defensora em junho de 1837. Passou a ser empregado no Arsenal de Marinha a partir de outubro de 1839.

Manoel Pereira das Chagas. Paraense (vila da Vigia), índio, 30 anos, casado, lavrador. Rebelde que participou do ataque a Belém, onde roubou e se retirou para a freguesia de São Caetano com fazendas secas e molhadas. Foi sempre contra a legalidade e os portugueses. Andava com uma pistola e terçado, prometendo matar todos os homens legais, não se querendo reunir às forças do governo. Quis dar um tiro num português, falando sempre muito mal do imperador. Preso em São Caetano, passou para o Arsenal de Marinha por portaria em outubro de 1838.

Manoel Raimundo. Paraense, mulato, 18 anos, escravo de Maria do Carmo. Remetido para bordo da corveta Defensora em 30 de dezembro de 1836. Acusado de haver sido cadete e alferes de guerrilha cabana e ter ido à casa do inspetor da Fazenda, “onde fez os maiores insultos, deitando-se até com as mulatas escravas, diante de sua própria senhora, e haver roubado a casa de João da Ponte e Souza”. O presidente ordenou que deveria ser surrado logo que chegasse a bordo, o que aconteceu em dezembro de 1836. Foi solto três anos depois, em de dezembro de 1839.

Manoel Raimundo Ferreira (“Borboleta Azul”). Paraense, branco, 60 anos, juiz municipal. Cabano influente, que, sendo juiz municipal na vila de Santarém, “seduziu os povos para a revolta contra o governo legítimo”. Mandava roubar as canoas do comércio que desciam do sertão para a capital, tomando-as por sua ordem, passando conhecimento para receberem sem importe do Termo Público. Remetido para a Defensora em dezembro de 1836, morrendo a bordo em janeiro de 1837.

Cabanagem republicana?

Um ano depois que a cabanagem irrompeu em Belém, um jornal de Ouro Preto, em Minas Gerais se referiu à a lendária bandeira cabana, com o desenho de um índio de arco e flecha, que teria sido concebida por Eduardo Angelim.

A notícia foi publicada na edição de O Universal de 11 de janeiro de 1836, com base em material que saiu originalmente no jornal Eco do Norte, do Maranhão. Em 27 de setembro o jornal maranhense registrou as primeiras notícias da segunda tomada de Belém pelos cabanos, em agosto de 1835.

As notícias são transmitidas por passageiros de dois barcos estrangeiros que saíram de Belém para São Luís, um americano e outro inglês. O relato que fizeram parece relativamente correto e equilibrada em alguns detalhes. O que mais impressiona, porém, é a atribuição de caráter republicano à cabanagem, uma questão sempre lembrada e pouco detalhada.

O jornal lamenta a ineficiência das tropas que combatem os cabanos, que conseguem se estabelecer em Belém e definir a forma de ocupa-la com as novas forças sociais,

A fonte dessa informação é Ricardo Condurú, que realiza um trabalho notável e ainda não reconhecido (principalmente pelos historiadores) de divulgação de documentos no seu blog, Cabanagem Redescoberta.

Ricardo manteve a grafia original da notícia, mas, para fins jornalístico, prefiro atualizá-la.

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Tem ultimamente chegado daquela infeliz Província várias embarcações Americanas e Inglesas, e destas ultimas uma Corveta de guerra, trazendo mais ou menos passageiros em seu bordo. As notícias são as seguintes.

Os Ingleses foram corridos da cidade pelos Tapuios, e as fortalezas fizeram fogo às suas embarcações, quando se retiravam.

Tinham já proclamado o governo republicano, e substituído a bandeira nacional por outra verde e encarnada, com um Tapuio de arco e seta. Diz-se que só esperavam concluir certas solenidades para nomear Presidente novo, que se cuida ser o Padre Picanço: o Eduardo natural é que passe a comandar as tropas da república. Um Ignácio Vieira Lima é o Secretario do Governo: O P. Casimiro emprega-se em diferentes comissões.

Mataram estes salteadores, quando entraram à cidade, vinte e nove pessoas no largo, e entre elas aos coronéis reformados Jose Narciso da Costa Rocha, e Manoel Gomes Pinto; nas mais partes andaram a matar outra muita gente, ao tudo cento e oitenta brancos. Destruíram muitas casas, quase todas as ruas da Praia, e Cadeia; as restantes repartiram entre si, pondo-se em cada uma delas rótulos, que designavam os novos donos a que pertenciam: tem havido suas dissensões e mortes na divisão dos roubos, de que o melhor quinhão sempre cabe ao Eduardo. Acham-se ainda na cidade algumas famílias, que eles por maravilha têm respeitado; mas têm as portas e as janelas continuamente fechadas. O mesmo Bispo pretendia [ilegível – provavelmente ir] para o interior.

Os Tapuios atacaram também a Villa de Bragança, e fizeram nela as mortes e roubos do costume: o Eduardo preparava uma expedição para Cametá, e outra para o Marajó: falava-se até em tomar a Fragata Imperatriz, e tal tem sido a sua audácia, e inépcia dos seus contrários, que não podemos dar nisso por mera jactância.

A esquadra existe no mesmo lugar fora da cidade; já tinham chegado as embarcações, que daqui foram com socorros; mas ainda eles os pedem em maior quantidade, isto é, de mantimentos e outros arranjos. É o que se sabe.

Personagens (5)

Continuo a publicar a seleção dos principais cabanos presos pela força imperial que combateu a cabanagem. Seus nomes constam da relação nominal dos rebeldes presos em 1836, contida nos códices 972, 973, 974, 1.130, 1.131 e 1.132 do Arquivo Público do Pará. Grifei alguns trechos mais importantes.

Joaquim Valentim Portilho. Paraense, mameluco, 22 anos, ferreiro. Soldado desertor do 5º Batalhão de Caçadores, foi comandante do ponto cabano do Arsenal. Acusado de ser um dos que, em 7 de janeiro de 1835, matou o ex-comandante das armas Santiago, conforme assim se gabava. Também assassinou a golpes de terçado, em fevereiro de 1835, no canto do Ver-o-Peso, a Joaquim Carneiro. No combate do Arsenal, nos dias 19, 20, 21 assassinou o piloto escrivão da escuna Bela Maria. Preso no igarapé Catanhaduva, em agosto de 1836, foi para bordo da Defensora em setembro do mesmo ano.

Joaquim Vicente. Paraense, pardo, 19 anos, lavrador. Depois que o destacamento da legalidade foi batido pelos rebeldes no rio Pequeno, se uniu aos pretos e mataram todos os brancos e pardos, saquearam e incendiaram todas as casas e fazendas dos moradores. Foi comandante de uma das patrulhas da cidade nos dias da entrada dos cabanos em Belém, e fez fuzilar seu próprio irmão e mais dois homens. Preso em agosto de 1836, no Acará.

José Alexandre. Paraense, pardo, 25 anos, lavrador. Rebelde, que assistiu o ataque da capital e a roubou. Declarou francamente ter assassinado em Joanes (Marajó) seis homens, sendo um rapaz branco de nome Luciano, um pardo de nome Antônio Cordeiro dos Passos, e que não conheceu os outros quatro. Remetido para bordo da corveta Defensora em setembro de 1837. Morreu no hospital S. José 18 dias depois.

José Basílio da Fonseca Prata. Cearense, branco, 36 anos, escrivão do juiz de paz. Consta que fora o administrador da alfândega nomeado por Eduardo Angelim no tempo do seu governo. Foi processado pelo assassinato de uma mulher chamada Teresa Escova e sentenciado em junta de justiça, mas a sentença foi extinta pelo júri. Era natural do Ceará, de onde veio corrido pela fome, e talvez, segundo se presume, por criminoso. Preso em Belém em maio de 1836. Transferido da corveta Regeneração para bordo da corveta Defensora em 21 do mesmo mês. Passou algumas vezes por hospitais até sentar praça no 1º batalhão da brigada de Pernambuco, que marchou para o sul.

José do Carmo Ribeiro. Paraense, índio, 30 anos, sem ofício. Pronunciado pelo crime de ter sido comandante e chefe da rebelião no distrito de Beja, assassinando em companhia de outro o escrivão do juiz de paz Raimundo José da Silva Bitancourt, o inspetor do distrito Francisco Antunes Pereira e José Raimundo de Paiva. Como comandante do grupo, ordenou que os seus corpos não fossem sepultados “em sagrado, pois deixavam de ser cristãos por serem brancos”. Preso em junho de 1838. Faleceu no hospital em outubro do mesmo ano.

José Cesário. Paraense, índio, 36 anos, lavrador. Por ser um dos principais da rebelião na província e um dos que entraram na Vigia, onde matou o correio que vinha de Cintra com ofício ao presidente Manoel Jorge Rodrigues; e por haver desobedecido à ordem do mesmo juiz de paz. Remetido pelo juiz de paz da Baía do Sol. Foi para bordo da corveta Defensora em março de 1837 e para o hospital de S. José, com bexigas, em julho do mesmo ano. Faleceu a bordo da Defensora em 1838.

José Crescêncio. Paraense, mulato livre, 28 anos, solteiro, lavrador. Participou do ataque a Belém, onde assassinou o padrasto, matou Manoel José Sarmento a golpes de terçado no rosto, levando-o depois para o largo do Carmo, ali o queimando com outros cadáveres, cruelmente assassinados. Remetido para bordo da corveta Defensora em abril de 1837, onde morreu em agosto de 1838.

José Ferreira Touguinho. Paraense, branco, 17 anos, lavrador. “Um dos influentes rebeldes”, que mereceu a observação de “estar com disposição de viajar para as Américas”. Foi preso em Belém em 25 de agosto de 1836. Remetido para bordo da corveta Defensora no mesmo dia. Solto em março de 1837.

José Francisco Ferreira. Paraense, tapuio, 25 anos, ferreiro. Participou do ataque a Belém em 7 de janeiro de 1835 e ao (forte do) Castelo; fez fogo à fragata Imperatriz em 12 de maio e voltou para o rio Maguari, onde fez com outros a tomada da Vigia, onde roubou e matou. Dali foi roubar a fazenda de Manoel Gomes Ribeiro e a de Severino Antônio Pampolha. Marchou para o engenho do Benjamin a reunir-se a outros rebeldes comandados por Antônio Pedro Vinagre e Portilho, de onde marchou para o ataque à capital, em agosto do mesmo ano. Preso e remetido pelo juiz de paz de Maguari. Foi para bordo da corveta Defensora em junho de 1837. Morreu em outubro do mesmo ano.

José Geraldo. Paraense, cafuz, 34 anos, marceneiro. Tenente-coronel dos rebeldes, comandante de Carnapijó, preso debaixo de fogo em Icaraú, em maio de 1836. No processo a que respondeu perante o juiz de paz local, as testemunhas juraram que ele não consentiu que fossem praticadas malvadezas e deu escapada a muitos brancos. Foi para bordo da corveta Defensora em junho de 1836.  Solto em setembro de 1838.

José Leocádio. Paraense, branco, 40 anos, lavrador. Invadiu a casa de José Lourenço Pereira, do rio Caraparu, que foi morto, e obrigou um escravo a mostrar-lhe os baús, que estavam no mato. Logo os abriu, roubou tudo quanto neles havia, matou a criação toda e levou seis escravos, dizendo serem seus. Preso em Belém e remetido para bordo da corveta Defensora em junho de 1836. Passou para os trabalhos públicos em abril de 1837.

José Maria Pinto. Paraense, mulato, solteiro, 30 anos, soldado desertor do 5º corpo de artilharia de posição. Foi comandante da bateria de Santo Antônio e “algumas vezes mandou buscar à sua casa a sua preta escrava Damasia para a ter consigo”. Preso em 28 de agosto de 1836 em Belém e remetido para bordo da corveta Defensora no mesmo dia. Em 21 de setembro de 1837 foi-lhe intimada a sentença do conselho de guerra e da junta de justiça militar de galés perpétuas para a ilha de Fernando de Noronha.

José Raimundo. Paraense, pardo, 35 anos, servidor de seu senhor e sapateiro. Com um punhal obrigou a sua senhora, Catarina Maria de Brito, a dar-lhe carta de alforria, e consta mais ter sido quem assassinou em dias de agosto de 1835 a Caetano Fernandes (chamado de Escadinha). Preso em Belém, em agosto de 1836. Faleceu a bordo da Defensora em outubro do mesmo ano.

José Ricardo Alves da Cunha. Paraense, branco, 35 anos, lavrador. Juiz de paz do rio Itapicuru, reuniu gente em seu distrito para o ataque de 7 de janeiro de 1835, e todos os acontecimentos que se seguiram até 4 de agosto do mesmo ano. Para este momento, mandou à cidade seu filho Manoel Raimundo, o seu mulato Mamede e o preto João Guamá a fim de conduzirem os roubos para o seu sítio. No tempo do presidente Lobo de Souza pediu espingardas e munições para defender o governo legal e depois entregou-as aos Vinagre. Quando Eduardo Angelim assumiu a presidência, entregou-lhe as munições que restavam. Preso em 1836, no Acará. Remetido para bordo da corveta Defensora em agosto do mesmo ano. Solto em dezembro de 1839.

José Rodrigues. Carioca, preto, 48 anos. Padre capelão, fugia com três soldados desertores do corpo de artilharia ligeira, de onde se evadiram dois, quando foi preso, pelas 10 horas da noite, na ocasião de embarcar em Una. Remetido para bordo da corveta Defensora em setembro de 1837. Morreu ali no mês seguinte.

José Sio. Paraense (Igarapé-Miri), índio, 25 anos, marceneiro. Classificado como “rebelde, assassino, ladrão na capital e outros lugares, provado pelos roubos que se lhe acharam, tendo em seu poder 16 armas reúnas”. Remetido pelo comandante militar de Macapá, foi para bordo da corveta Defensora em julho de 1837. Seguiu para o hospital de S. José em 28 de agosto de 1837. Na sua ficha, opresidente da província fez esta observação: “só lhe tirará os ferros depois de morto, se a morte tiver lugar”. José morreu no hospital no dia seguinte.

José Tomé de Almeida, Paraense, índio, 28 anos, lavrador. Ajudante dos rebeldes, teria ajudado a assinar Gabriel Ferreira de Goes e Felipe Monteiro. Roubou a alfândega de Belém, resistiu às tropas da legalidade em 10 de fevereiro de 1836. Não faltava aos ataques que a legalidade dava aos rebeldes. Foi um dos condutores dos armamentos do brigue inglês Clio, que tomaram nas Salinas. Recomendava aos carcereiros “o máximo de vigilância” com o preso. Preso em outubro de 1836, na Vigia, e mandado imediatamente para bordo.