Cabanagem: documentos da história (1)

Criei esta seção para divulgar e interpretar os valiosos documentos que Ricardo Condurú tem divulgado, com estoicismo, generosidade e elevado espírito público, no seu blog Cabanagem Redescoberta. Assim fazendo, espero ampliar o interesse e a participação dos leitores na revelação desse ainda desconhecido, mal divulgado ou incorretamente interpretado capítulo da história brasileira. Sem que donos do tema o monopolizem.

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Proclamação dos cabanos do Acará

A proclamação, originalmente datada de 24 de outubro de 1834, mas só oficializada pelo reconhecimento cartorial em 3 de novembro, é assinada pelo “tenente coronel comandante” Felix Antônio Clemente Malcher. Ele estava no Engenho do Desterro, no qual diz estar o “acampamento das forças federais”. O documento contém todos os ingredientes que irão se manifestar pouco mais de um mês depois.

O inimigo é o “déspota presidente” da província, Bernardo Lobo de Souza, acusado de governar “com a dura vara de ferro do infame despotismo”. “Atemorizado” pelas “flechas e baionetas” dos rebeldes, ele fugiu para bordo da corveta Bertioga.

Ao ser abandonado pelo “pequeno rebanho de escravos que o arrodeavam”, teve que fugir, deixando nos cabanos “o dissabor, de não o colher as mãos para que fosse aqui mesmo punido os seus horrorosos crimes”.

Malcher informa que já havia um destacamento na paragem, denominada Goiabal, com 130 “patriotas brasileiros valorosos”, comandados pelo capitão José Agostinho d’Oliveira, “patriota bem conhecido recheado de probidade patriotismo, e coragem”.

Malcher deixa claro que os rebeldes já se autodenominavam cabanos, pelo menos nesse ano, ao contrário do entendimento de que o termo só veio a ser usado quando o movimento já fora extinto.

Nos vivas com os quais finaliza a proclamação, o comandante cabano saúda a constituição imperial, a federação e a regência em nome do imperador. Logo, não pensa no rompimento da unidade nacional nem na negação do regime vivente. O movimento se torna armado porque a tropa paraense “sabe manter os seus sagrados direitos”. É a grande aspiração contra os despóticos representantes, como Lobo de Souza, mandados pelo Rio de Janeiro para governar o povo no Pará.

O documento foi publicado originalmente no jornal Correio Official Paraense e republicada no Diário de Pernambuco, nº 589, de 26 de janeiro de 1835, folha 3. Ao contrário de Condurú, atualizei a grafia para permitir melhor leitura do texto. Mas mantendo integralmente o seu formato, garantindo a autenticidade do documento.

Proclamação dos Cabanos Sublevados no Rio Acará

Proclamação – Valorosos patriotas Paraenses, tenho a satisfação de vos comunicar, que o Déspota Presidente, atemorizado de nossas valorosas flechas e baionetas, já existe abordo da Corveta Bertioga, de maneira que já não vem a terra, e também porque se vê solitário; pois o pequeno rebanho de escravos que o arrodeavam, já o abandonou, e o único recurso, que resta a esse malvado Presidente é fugir, ficando-nos assim o dissabor, de não o colher as mãos, para que fosse aqui mesmo punido os seus horrorosos crimes.

Paraenses já temos um destacamento da paragem denominada – Goiabal – de cento e trinta patriotas Brasileiros valorosos, de que é digno Comandante o Capitão José Agostinho d’Oliveira, patriota bem conhecido recheado de probidade patriotismo, e coragem, digno em fim do doce nome de Brasileiro Liberal. Vós sois testemunhas dos Brasileiros que aqui existem expostos antes a morrer, do que serem novamente governados, com a dura vara de ferro do infame Despotismo.

Viva a Santa Religião Católica Romana que professamos; Viva o Povo e Tropa Paraense, que sabe manter os seus sagrados direitos; Viva a Constituição e Santa Federação; Viva a Regência em nome do Imperador! Viva S. M. I. e Constitucional o nosso Jovem Patrício, o Snr. D. Pedro II. Engenho do Desterro, e Acampamento das forças Federais 24 de outubro de 1834. – O Tenente Coronel Comandante Felix Antônio Clemente Malcher.
Reconheço o sinal da Proclamação supra ser de Felix Clemente Malcher por ter todo o conhecimento do mesmo, e por semelhante que vi. Pará 3 de Novembro de 1834. – Em testemunho de verdade estava o sinal público. – Paulo Maria Perdigão. Está conforme. – Miguel Antônio Nobre Oficial Maior.

(Do Correio Official Paraense)

O barão do Rio Branco e a cabanagem

Durante 21 anos, entre 1891 e 1912, o barão do Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos Júnior) pesquisou e publicou, no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, suas Efemérides Brasileiras, reunidas após a sua morte num volume de mil páginas. Advogado, diplomata, geógrafo, professor, jornalista e historiador, o barão foi fecundo.

De sua vasta obra, das efemérides (publicadas em dois volumes pelo Ministério das Relações Exteriores), extraí seus registros sobre a história do Pará no período dos “motins políticos”, entre 1821 e 1840. Ordenando os verbetes e os ajustando para uma leitura mais corrente, sem fazer qualquer alteração no texto (exceto para corrigir erros de impressão), montei uma boa cronologia da cabanagem, nas suas origens, eclosão, desenvolvimento e fim.

Além da sequência por data, as observações do barão permitem identificar a visão do Rio de Janeiro, a capital do império, a partir das observações de um dos mais brilhantes intelectuais e políticos do período. Paranhos nasceu cinco anos depois que o imperador Pedro II anistiou os cabanos.

CRONOLOGIA

1821 [1º de janeiro] — Adesão do Pará à revolução do Porto para o estabelecimento do governo constitucional.

1823 [14 de abril] — Revolta na cidade de Belém do Pará a favor da Independência do Brasil. Os sublevados, dirigidos pelo major Boaventura Ferreira da Silva, dispersaram-se, não achando apoio na maior parte da guarnição. Entre os paisanos, então presos, contava-se o jovem Bernardo de Sousa Franco, depois senador do Império e ministro.

1835 [7 de janeiro] — Insurreição na cidade de Belém do Pará. Os insurgentes assassinaram o presidente da província, Bernardo Lobo de Sousa, o comandante das armas, coronel Joaquim José da Silva Santiago, e o chefe da estação naval, capitão de fragata James Inglis. Foram aclamados: presidente, Félix Antonio Clemente Malcher; e comandante das armas, Francisco Pedro Vinagre.

Começou assim a Guerra Civil chamada dos Cabanos. A insurreição só ficou de todo vencida em fins de 1836, excetuada a comarca do Rio Negro, depois província do Amazonas, onde os Cabanos só depuseram as armas em princípios de 1840.

O coronel Santiago distinguira-se durante a Guerra da Independência, na Bahia; e, como comandante das armas de Pernambuco, de 9 de março de 1332 a 16 de novembro do ano seguinte, dirigira as forças em operações contra os Cabanos.

O capitão de fragata James Inglis, pardo da Jamaica, servia na nossa Marinha desde 28 de julho de 1823. Era, talvez, o melhor marinheiro que então tínhamos e foi dos mais intrépidos comandantes durante a guerra de 1826 a 1828, distinguindo-se em muitos combates e tomando os corsários argentinos Niger e Feliz.

O almirante barão do Rio da Prata, em ofício no 336, escreveu o seguinte sobre Inglis: “O Caboclo (brigue comandado por Inglis) foi, no tempo de Grenfell, açoite dos inimigos, no bloqueio, e não tem sido menos no tempo do atual comandante, em todo o sentido perfeitíssimo oficial. É sempre o primeiro e quem tira os melhores resultados; e é tal a opinião geral, que nem os seus camaradas se declaram êmulos. São tantas as ocasiões em que este homem se tem distinguido que me obrigaram a despachá-lo capitão de fragata; embora fosse capitão-tenente há pouco, ele tem-no ganhado em guerra ativa e sem deixar nunca duvidosa a sua honra, valor e inteligência.”

1823 [11 de agosto] — Reconhecimento da Independência e do Império na cidade de Belém do Pará.

1823 [29 de agosto] —O comandante Grenfell chega à barra do Pará com o brigue Maranhão e envia à junta do governo ofícios do almirante lorde Cochrane.

1823 [15 de outubro] — Sublevação militar e popular em Belém do Pará. A tropa levanta-se à noite contra os seus oficiais e, reforçada por muitos desordeiros, depõe o presidente da junta de governo, Geraldo José de Abreu, aclamando presidente o cônego Gonçalves Campos. Depois, soldados e homens do povo, dirigidos por um cadete e um músico, começaram a arrombar e a saquear casas e lojas de portugueses. O saque e os assassinatos continuaram no dia seguinte.

1823 [16 de outubro] — Continuam os saques e assassinatos em Belém do Pará, começados na noite de 15. O capitão-tenente John Pascoe Grenfell (não Greenfel, como se tem escrito) desembarca, na noite deste dia, com um corpo de marinheiros. As milícias e muitos habitantes armados reúnem-se a Grenfell, que assim consegue, no dia seguinte, restabelecer a ordem e desarmar os soldados dos três regimentos de infantaria de linha, e de cavalaria e artilharia.

1823 [17 de outubro] — O capitão-tenente Grenfell, depois de aprisionar e desarmar os soldados e paisanos que praticaram roubos e assassinatos em Belém do Pará, manda fuzilar cinco desses bandidos (dois sargentos, dois soldados e um paisano). O cônego Gonçalves Campos, considerado instigador do levante da tropa, no dia 15 esteve a ponto de ser executado também, mas Grenfell o remeteu preso para o Rio de Janeiro.

A junta de governo dissolveu no mesmo dia os corpos de linha (três regimentos de infantaria, um corpo de cavalaria e outro de artilharia), organizou com os soldados que não haviam tomado parte nas desordens o regimento imperial e reforçou os corpos de milícias com muitos cidadãos armados, que se apresentaram voluntariamente

1823 — Neste dia [20 de outubro], o capitão-tenente Grenfell remeteu para bordo do brigue Diligente, depois Palhaço, fundeado diante do Pará, 256 soldados e paisanos dos que figuraram nos roubos e nos assassinatos dos dias 15 e 16. Grenfell, procedendo assim, cumpriu a requisição feita pela junta de governo do Pará, no ofício seguinte:

“Ilustríssimo senhor, as prisões da cadeia estão cheias com os celerados dos dias 15 e 16 do corrente; e, além de não caberem mais, exigem um grande número de milicianos para os guardar; as outras prisões são fracas e cedem à força: portanto, lembra-se a junta provisória que o brigue Diligente sirva de presiganga, para onde se passem os presos que, com uma pequena guarda, se podem conter, ficando aquele navio entre os de guerra. Deus guarde a vossa senhoria. Pará, no palácio imperial, 18 de outubro de 1823.

Ilustre senhor John Pascoe Grenfell (assinados os membros da junta: Geraldo José de Abreu, presidente; José Ribeiro Guimarães, secretário; João Henriques de Mattos e Felix Antonio Clemente Malcher).”

Os presos foram postos no porão do Diligente e confiados à guarda de um destacamento de marinheiros, sob o comando do segundo-tenente Joaquim Lúcio de Araújo. À noite, devorados de sede, tentaram subir para o convés; o tenente Lúcio de Araújo os repeliu e mandou fechar as escotilhas. No dia seguinte, sendo estas abertas, verificou-se que tinham perecido 254 presos, que apenas quatro respiravam e que destes, só um poderia ser salvo.

Em ofício de 23 de outubro, dizia a junta ao ministro do Império, José Bonifácio: “[…] De noite, amotinaram-se, quiseram forçar as [* Hoje, Marechal Deodoro, AL. (N.E.)] escotilhas, o que obrigou a guarnição a dar-lhes uma descarga, em que, com o mais extraordinário frenesi, lançando-se uns contra os outros, se esganaram e afogaram, escapando somente quatro, como consta do auto de corpo de delito e da devassa a que por semelhante respeito se procedeu. A tropa restante continua a estar desarmada, nem podemos por ora ter confiança nela; o serviço da praça é feito por milícias, e as rondas noturnas por cidadãos armados. O capitão-tenente Grenfell, comandante do brigue Maranhão, tem, com a força de mar, contribuído muito para a segurança e defesa da cidade, e podemos afirmar que, sem a sua cooperação, esta cidade estaria reduzida a um montão de ruínas. Tão relevantes serviços tem a junta provisória a honra de rogar a vossa excelência seja servido levar ao conhecimento de sua majestade.”

Ao capitão-tenente Grenfell nenhuma responsabilidade poderia caber pela desgraça ocorrida a bordo do Diligente; entretanto, quando chegou ao Rio de Janeiro, conduzindo a fragata Imperatriz, foi submetido a Conselho de Guerra. Só depois de absolvido em última instância (19 de abril de 1826) foi Grenfell promovido a capitão de fragata (8 de maio) pelos distintos serviços prestados na Guerra da Independência. Meses depois, perdia um braço, batendo-se pelo Brasil no rio da Prata (30 de julho de 1826), e por serviços posteriores conquistava um dos maiores nomes da nossa história naval.

1831 [7 de agosto] — Sedição militar em Belém do Pará. O presidente visconde de Goiana é deposto e deportado, e outros cidadãos são remetidos presos para vários pontos da província.

1832 [12 de abril] — Sedição militar na Barra do Rio Negro (depois Manaus), na qual é assassinado o coronel Joaquim Filipe dos Reis, comandante militar da comarca

1833 [16 de abril] — Combate nas ruas da cidade de Belém do Pará, ficando vencedor o partido que se opunha à posse do presidente Mariani e do comandante das armas, Correia de Vasconcelos, nomeados pela regência. O coronel Machado de Oliveira, que era apoiado por aquele partido, continuou no governo da província

1834 [25 de outubro] — A expedição que subia o Acará desaloja os insurgentes emboscados em Guaiabal sob o comando de Francisco Vinagre. Compunha-se do brigue Cacique, da escuna Bela Maria e de três lanchões artilhados, sob o comando do capitão de fragata Inglis, e de cerca de 300 homens comandados pelo coronel Manuel Sebastião Marinho Falcão. O coronel foi morto neste combate.

1834 [27 de outubro] — Durante a noite, os insurgentes do Pará fazem fogo sobre os navios do capitão de fragata Inglis, que subiam o Acará. Houve alguns mortos e feridos a bordo. O fogo dos navios afugentou em pouco tempo os insurgentes.

1835 [19 de fevereiro] — Rompimento de Francisco Pedro Vinagre, comandante das armas do Pará, contra o presidente Felix Antônio Clemente Malcher. Eram as duas autoridades aclamadas depois da sedição de 7 de janeiro (ver essa data), que começara pelo assassinato do presidente Lobo de Sousa, do comandante das armas Silva Santiago e do chefe da estação naval, capitão de fragata Inglis, distintíssimos oficiais.

Com os sediciosos estava o primeiro-tenente Germano Aranha, que muito influiu para que os seus camaradas da marinha reconhecessem os fatos consumados e a autoridade dos dois caudilhos. Informado Francisco Vinagre de que Malcher tencionava prendê-lo, dirigiu-se, na manhã deste dia, para o Arsenal de Guerra, e aí pode repelir o ataque de 300 homens, que contra ele foram enviados.

Derrotados os assaltantes, Vinagre os perseguiu até o Castelo, onde Malcher se refugiou, com os seus partidários. As forças de que dispunha Francisco Vinagre, engrossadas por muitos homens do povo, cercaram esse forte e o Hospital Militar, ocupando o Seminário Episcopal e as casas vizinhas.

Por ordem de Malcher, o primeiro-tenente José Eduardo Wandenkolk, que exercia o cargo de capitão do porto e comandava interinamente a estação naval, rompeu o fogo contra o Arsenal de Guerra, o palácio do Bispo, o Seminário e outros edifícios ocupados pelas forças de Vinagre. Wandenkolk conservou-se a bordo da corveta Defensora, comandada por seu irmão, o primeiro-tenente João Maria Wandenkolk.

Além desse, sustentaram o fogo durante todo o dia os seguintes navios: brigue Cacique (primeiro-tenente Lopes da Silva), escuna Bela Maria (segundo-tenente Secundino Gomensoro), escuna Alcântara, barca Independência (primeiro-tenente J. T. Sabino) e iate Mundurucu (primeiro-tenente F. de Borja).

Que espetáculo triste e revoltante (disse o então primeiro-tenente Oliveira Figueiredo) era ver uns poucos navios de guerra brasileiros despejarem sem piedade, sobre uma cidade também brasileira, suas artilharias, por ordem e com o fim de sustentar na presidência a um criminoso, chefe dos sediciosos assassinos de 7 de janeiro! (Depoimento, em 25 de julho de 1835, perante o Conselho de Investigação.)

À noite, Malcher retirou-se para bordo da esquadra, deixando a defesa do Castelo entregue ao primeiro-tenente da armada, Antônio Maximiano da Costa Cabedo.

1835 [20 de fevereiro] — Continua o combate, em Belém do Pará, entre os partidários de Francisco Vinagre e os de Malcher (ver o dia anterior). A esquadra recomeçou, pela madrugada, o fogo, que suspendera na noite anterior.

1835 [21 de fevereiro] — Toma posse do cargo de presidente da província do Pará Francisco Pedro Vinagre.

1835 [12 de maio] — Por ordem do presidente do Pará, Ângelo Custódio Correia, que estava a bordo da fragata Imperatriz, foi atacada neste dia a cidade de Belém, dominada por Francisco Vinagre. A esquadra respondeu ao fogo começado pelos insurgentes, forçando-os a desamparar as fortificações. Desembarcaram então marinheiros, guardas nacionais e voluntários, ao mando do major Carneiro.

Os marinheiros, dirigidos pelo primeiro-tenente Morais e Vale (Rafael) e pelos segundos-tenentes Elisiário dos Santos e Ferreira da Veiga, levaram de vencida os contrários, mas, não sendo apoiados pelos guardas nacionais, tiveram de retirar-se. A expedição reembarcou em desordem e, havendo recomeçado o fogo de artilharia de terra, o vice-presidente ordenou que a esquadra fosse fundear na baía de Santo Antônio. A Marinha teve 62 homens fora de combate e os guardas nacionais e voluntários 16 mortos e feridos, sem contar os afogados.

1835 [25 de junho] — Desembarque do general Manuel Jorge Rodrigues (depois barão de Taquari) em Belém do Pará.

1835 [14 de agosto] — Nas ruas da cidade de Belém começa, neste dia, e termina na noite de 22 para 23, um dos mais renhidos combates da Guerra Civil Paraense. Pelas 10h, a cidade foi invadida por 2.987 Cabanos, dirigidos por Antônio Vinagre. O presidente da província, general Manuel Jorge Rodrigues, dispunha de uns mil homens de tropa e de marinhagem, além de 400 paisanos armados, que acabava de reunir (voluntários nacionais). Duas corvetas estrangeiras (inglesa e portuguesa) desembarcaram parte de suas guarnições e auxiliaram a defesa.

Os Cabanos entrincheiram-se em várias casas, interceptando a comunicação entre Arsenal e Palácio, posições ocupadas pelos legalistas. Neste primeiro dia, o fogo durou das 10h às 18h. Foi tomada uma peça aos Cabanos (ver os dias seguintes até 23).

1835 [15 de agosto] — Continua durante o dia o combate começado na véspera, nas ruas de Belém do Pará

1835 [16 de agosto] — Continua em Belém do Pará o combate começado no dia 14. Às 4h30, os Cabanos lançam-se ao ataque do arsenal, e trava-se aí furiosa peleja por mais de três horas. Ao amanhecer, as fragatas Campistas e Imperatriz, e as corvetas Regeneração, Racehorse (inglesa) e Elisa (portuguesa) varreram os dois flancos do arsenal e reduziram a ruínas as casas vizinhas.

Só então, tendo sofrido enormes perdas, os Cabanos desistiram do ataque dessa posição, indo bater-se, com o mesmo arrojo, em outros pontos da cidade ocupados pelos seus. O fogo durou o dia inteiro.

1835 [17 de agosto] — Quarto dia de combate em Belém do Pará. Os legalistas já tinham mais de 250 mortos e feridos, sendo muito maior a perda dos Cabanos, mas estes recebiam, quase todos os dias, reforços. Antônio Vinagre foi morto, e Eduardo Angelim assumiu o comando. Este caudilho, natural do Ceará, contava então 23 anos. “Muito bravo, mas muito malvado”, dizia dele o chefe Taylor.

1835 [18 de agosto] — Quinto dia de combate nas ruas de Belém do Pará.

1835 [19 de agosto] — Sexto dia de combate na cidade de Belém do Pará

1835 [20 de agosto] — Sétimo dia de combate na cidade de Belém do Pará.

1835 [21 de agosto] — Oitavo dia de combate na cidade de Belém do Pará

1835 [22 de agosto] — Nono e último dia de combate na cidade de Belém do Pará. Os Cabanos iam ganhando terreno, conquistando casas e já estavam perto do palácio. O general Rodrigues, tendo sofrido grandes perdas, anunciou ao chefe Taylor que estava resolvido a abandonar a capital durante a noite, passando-se para a esquadra. Taylor e o comandante da corveta inglesa foram pessoalmente dirigir o embarque da “valorosa guarnição do Trem (arsenal), que três vezes repeliu o inimigo”.

Às 3h, os restos da força governista estavam embarcados, estando inutilizadas as munições e tudo quanto foi possível, mas no palácio do governo ficaram seis peças abandonadas ao inimigo (ver 23 de agosto). A perda na tropa e marinhagem, incluindo a que tiveram os ingleses e portugueses, andou por uns 400 a 500 mortos e feridos nos nove dias de combate. A dos Cabanos foi, provavelmente, muito superior.

1836 [14 de julho] — Tomada do Almeirim (Pará) pelas forças do governo.

1835 [23 de julho] — Anarquistas do Pará (Cabanos), em número de 800 e dirigidos pelo ex-sargento Portilho, de municipais, atacam e tomam a vila de Vigia, apesar da heroica resistência da Guarda Nacional e dos habitantes, sob o comando do tenente-coronel Raimundo Antônio de Sousa Álvares. Este comandante, um major, três capitães, um alferes e mais de 70 guardas nacionais foram mortos. Os rebeldes assassinaram, depois, quantos habitantes puderam alcançar e saquearam a vila.

1835 — Os insurgentes do Pará atacaram, deste dia [4 de novembro] até 6 de novembro, a povoação de Abaeté. Foram repelidos pelo capitão Luís José de Araújo, da Guarda Nacional, e pelo tenente de caçadores João Luís de Castro. A escuna Bela Maria, de que era comandante o primeiro-tenente Joaquim Manuel de Oliveira Figueiredo, auxiliou a defesa.

1835 [23 de agosto] — Às 3h conclui-se o embarque das tropas governistas que ocupavam o arsenal e o palácio do governo na cidade de Belém do Pará. Ao amanhecer, Eduardo Angelim marchou ao ataque do palácio e, achando-o deserto, correu à praia e abriu fogo sobre a esquadra. Todos os navios de guerra, nacionais e estrangeiros, e os mercantes, abandonaram o porto e foram fundear nas proximidades da fortaleza da Barra.

Os cônsules e quase toda a população branca haviam embarcado. Angelim pôde festejar a sua vitória, e ficou de posse da capital e de quase toda a província. Só no ano seguinte, a 13 de maio, foi expulso de Belém, e a 22 de outubro aprisionado nas cabeceiras do Capim.

1835 [30 de agosto] — Tomada de Abaeté por um corpo de guardas nacionais e voluntários paraenses.

1835 [18 de setembro] — Os Cabanos atacam a vila da Cachoeira, no Arari (ilha de Marajó), e são repelidos pelos majores Lobo d’Anvers e Antônio de Lacerda Chermont (depois visconde de Arari), da Guarda Nacional.

1835 [22 de setembro] — O major Chermont, da Guarda Nacional paraense, é repelido em um ataque que dirigia contra os Cabanos, fortificados perto da vila da Cachoeira (ilha de Marajó).

1836 [20 de outubro]— Eduardo Angelim, caudilho da insurreição paraense, seus irmãos e outros chefes são aprisionados junto à lagoa do Porto Real, nas cabeceiras do rio Capim, pelo capitão Joaquim Francisco de Melo.

1836 [6 de março] — Os Cabanos apoderam-se sem resistência de Manaus. Só a 31 são repelidos daí.

1836 [9 de abril] — O general Andréia e o então capitão de mar e guerra Mariath chegam à ilha de Tatuoca, onde, no dia 11, o primeiro assume a presidência da província do Pará e o governo das armas, e o segundo o comando das forças navais em operações.

1836 [29 de abril] — Tomada de Igarapé-Mirim (Pará) pelo primeiro-tenente Barroso (depois almirante, e barão do Amazonas). Segundo Garcez Palha, esta ação deu-se a 1o de maio.

1836 [5 de maio] — A expedição que subia o rio Guamá (Pará) troca tiros com os insurgentes entrincheirados no engenho Pernambucano.

1836 [7 de maio] — Três escunas, ao mando do primeiro-tenente Francisco de Paula Osório, forçam a passagem do engenho Pernambucano, no Guamá (Pará). No mesmo dia, um corpo de voluntários desembarca e toma o engenho Bom Intento. Durante a noite, o primeiro-tenente Barroso, depois barão de Amazonas, apodera-se de uma gambarra com uma peça, perto da cidade de Belém.

1836 [8 de maio] — Tomada do engenho Pernambuco (Guamá, Pará) pelos legalistas.

1836 [12 de maio] — Tomada do engenho São Domingos, no Capim (Pará), pela expedição do primeiro-tenente Francisco de Paula Osório.

1836 [13 de maio] — Pela manhã, o capitão-tenente Petra de Bittencourt ataca e toma a bateria da Pedreira, no Guamá, defendida pelo caudilho Eduardo Angelim. À tarde, o comandante da esquadra, Mariath, dirige o desembarque, em Belém do Pará, das tropas legalistas comandadas pelo tenente-coronel Sousa. Os insurgentes opõem fraca resistência, retirando-se para os arredores da cidade.

1836 [14 de maio] — Tomada da fazenda da Trafaria, no rio Capim (Pará), pela expedição do primeiro-tenente F. de Paula Osório.

1836 [15 de maio] — Tomada do engenho Taperuçu, no rio Capim (Pará), pela expedição do primeiro-tenente Francisco de Paula Osório.

1836 [26 de junho] — No Acará, o segundo-tenente de Marinha Filipe José Pereira Leal e o ajudante Pedro Ivo Veloso da Silveira perseguem, perto de Turi, um troço de insurgentes do Pará. Leal foi ferido.

1836 [29 de junho] —Combate de Turi-mirim, no qual os insurgentes do Pará, dirigidos por Angelim, foram derrotados pelo tenente-coronel Joaquim José Luís de Sousa.

1836 — Os rebeldes do Pará são repelidos atacando Cametá neste [28 de julho] e nos dias 29 e 31 de julho. A alma de defesa foi o intrépido juiz de paz padre Prudêncio das Mercês Tavares.

1836 [29 de julho] — Segundo ataque dos anarquistas do Pará contra Cametá (ver 28 de julho).

1836 [31 de julho] — Terceiro ataque de Cametá pelos rebeldes (ver 28 de julho).

1836 (1º de agosto] — Tomada de Oeiras (Pará) pelos legalistas. Foi retomada pelos insurgentes 19 dias depois e, pelos legalistas a 20 de setembro.

1836 [9 de agosto] — Um destacamento de marinheiros, voluntários e soldados de linha, sob o comando do segundo-tenente Fernando Gomes Ferreira da Veiga, desembarca defronte à fazenda de Pernambuco, no rio Capim (Pará), e é destroçado pelos Cabanos. Foi morto o segundo-tenente Ferreira da Veiga.

1836 [20 de agosto] — Oeiras, no Pará, cai novamente em poder dos Cabanos (retomada a 20 de setembro).

1836 [31 de agosto] — A vila de Manaus liberta-se dos Cabanos, que a dominavam desde 6 de março. A reação teve por chefes Gregório Nazianzeno da Costa e o capitão da Guarda Nacional João Inácio Rodrigues do Carmo.

1836 [19 de setembro] — Ataque de Oeiras (Pará) pelo primeiro-tenente Carlos Rose, comandante do brigue Brasileiro (cinco peças), tendo às suas ordens, além dos marinheiros, um corpo de tropas, sob o comando do primeiro-tenente de artilharia Higino José Coelho. A posição era defendida por 800 Cabanos (ver o dia seguinte).

1836 [20 de setembro] — Tomada de Oeiras (Pará) pelo primeiro-tenente da Armada Carlos Rose. O combate começou na véspera e nele tiveram os legalistas 20 mortos e 85 feridos.

1837 [12 de julho] — Os anarquistas (Cabanos) do Amazonas são batidos no seu campo entrincheirado de Icuipiranga pelo padre Antônio Manuel Sanches de Brito.

1838 [6 de agosto] — É assassinado na Barra do Rio Negro (Manaus) o governador militar Antônio Aires Bararuiá.

1839 [30 de janeiro] — Uma expedição, acompanhada pelo primeiro-tenente da Armada Lourenço da Silva Araújo Amazonas, derrota no Maranhão Grande (no Tapajós?) os insurgentes da então comarca do Rio Negro. Sobre este feito de armas só conhecemos a rápida menção que dele faz o mesmo oficial, no seu Dicionário topográfico, histórico e descritivo da comarca do Alto Amazonas, à página 281.

1840 [28 de março] — Os Cabanos submetem-se na vila de Luséia (Maués), entregando as armas

1840 [22 de agosto] — Decreto de anistia e proclamação do imperador dom Pedro II dirigidos aos brasileiros que estavam em armas contra a autoridade legal.