Panfletos pela independência no Brasil

Senado celebra lançamento de obra reunindo panfletos da época da independência

 (Jornal de Ciência – SBPC)

Ildeu de Castro Moreira, presidente de honra da SBPC, ressaltou a importância do livro “Vozes do Brasil: a linguagem política na Independência (1820-1824)” para entender a construção do Brasil

O Senado promoveu sessão especial remota, nessa segunda-feira (27), para o lançamento da obra inédita no País “Vozes do Brasil: a linguagem política na Independência (1820-1824)”. O livro reúne 20 panfletos publicados entre 1820 e 1824, conhecidos como panfletos da Independência, que foram impressos, na época, no Brasil e em Portugal. O material pertence a Biblioteca Oliveira Lima, da Universidade Católica da América, em Washington, nos Estados Unidos. A reunião também foi destinada a celebrar o 199ª aniversário de independência do País, celebrado em 2021.

O requerimento para que a sessão pudesse ser realizada foi de autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), coordenador da Comissão Especial Curadora destinada a elaborar e viabilizar a execução das comemorações em torno do tema “O Senado Federal e os 200 anos da Independência do Brasil”.

Na abertura da sessão, o senador disse que os arquivos de Oliveira Lima foram entregues à Universidade de Washington ainda na década de 1920 e, após cem anos, esses documentos voltam ao Brasil, para que os brasileiros possam entender como foi esse processo de formação da sua independência.

Randolfe Rodrigues classificou o lançamento da obra como uma apresentação da “certidão de nascimento” do País, e afirmou que este é o evento mais importante a menos de um ano das comemorações do bicentenário de independência.

“O nosso 199º aniversário da independência, às vésperas do bicentenário, deveria ser celebrado para que nós refletíssemos sobre o País a que chegamos, as conquistas que tivemos, a República, a democracia. O 199º aniversário, que antecede o bicentenário, não deveria servir para pedir o banimento da nossa democracia; não deveria servir para pedir o fechamento das instituições do Estado democrático de direito, Congresso, Supremo Tribunal Federal; não deveria servir para fazer apologia a restaurações autoritárias. O 199º aniversário deveria servir para nós refletirmos e pensarmos que nação somos e qual nação nós queremos daqui a cem anos, quando estivermos no nosso terceiro centenário como Nação independente. O nosso 199º aniversário deveria servir para celebrar, para refletir, mas principalmente para celebrar as conquistas”, afirmou Randolfe, que presidiu a sessão especial.

Ildeu de Castro Moreira, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), comemorou o lançamento da obra e ressaltou sua importância. “É fundamental que as vozes ocultas que também contribuíram para a construção deste país sejam ouvidas para restaurar/rever toda a construção histórica dessa conjunção complexa, cheias de conquistas e dificuldades, que é o Brasil”, disse.

Moreira ressaltou que a SBPC tem se mobilizado em torno da celebração do Bicentenário da Independência do Brasil e que recentemente, nos dias 6 e 7 de setembro, realizou a Virada da Independência promovendo vários debates com a participação de sociedades científicas. Ele disse ainda que ano que vem durante a 74ª Reunião Anual da SBPC, que terá como tema “Ciência, soberania nacional e independência”, será uma oportunidade para se olhar para o passado, compreender melhor o presente e pensar e planejar o futuro. Segundo ele, é importante que todos os setores da sociedade brasileira se mobilizem para que nas comemorações de 2022/23 se estabeleça uma narrativa historicamente mais realista do processo de independência e de construção da nação brasileira, e para que se tracem rumos adequados para as independências diversas que necessitamos. Ressaltou que as universidades, instituições e entidades científicas, educacionais e culturais devem atuar em conjunto, e se articular com as escolas e com comunidades locais, municípios, câmaras de vereadores, gestores etc., neste processo de comemorar o Bicentenário e repensar o país.

Para Nathália Henrich, diretora da Biblioteca Oliveira Lima, o livro servirá não apenas aos especialistas que não podem se deslocar até Washington pessoalmente, para visitar e consultar a coleção, mas também aos professores, estudantes e público em geral.

Segundo Henrich, as autoras da obra, as professoras Heloísa Starling e Marcela Telles de Lima, realizaram uma seleção criteriosa dos documentos do acervo da Oliveira Lima Library, com um objetivo em mente. “Elas disseram que o sentimento que permeava a obra era o de ouvir as vozes dos brasileiros que lutaram pela liberdade no País. As vozes foram muitas e foram variadas, expressaram um projeto de País, ideias sobre Governo e política, assim como conceitos muito mais difusos como soberania, igualdade, liberdade e representação, e a preocupação em trazer essas vozes que permaneceram tanto tempo caladas, já que esses textos até hoje não haviam sido republicados para o grande público, e eles voltam ao Brasil”, explicou.

Nathalia Henrich acredita que as diversas instituições envolvidas no lançamento estão cumprindo com seu papel cívico de promover o conhecimento, acercar o público brasileiro não apenas de documentos que são fonte para a história do país, mas também enriquecido da pesquisa séria e rigorosa que acompanha.

“Nós concretizamos assim o desejo do nosso fundador, o historiador e diplomata Manuel de Oliveira Lima, quando decidiu doar sua biblioteca à Universidade Católica da América, aqui em Washington, e criar um espaço de difusão do conhecimento sobre a história e sobre a cultura do Brasil nos Estados Unidos, que irradiaria de volta para o Brasil e também iluminaria o mundo”, ressaltou.

A diretora da biblioteca Oliveira Lima ressaltou a importância da obra para o Brasil em meio ao momento de crise política e de pandemia. “Vivendo uma tragédia humanitária em que há crises políticas e crises institucionais tamanhas, parecia até que falar do passado era um exercício vão, fútil, quando o presente é urgente e o futuro é permeado pela incerteza. Mas eu creio que o conhecimento, em especial o conhecimento histórico, que vem sendo tão maltratado no debate público, nunca foi tão importante como neste exato momento em que nós lutamos contra a epidemia ainda do covid-19, é importante lembrar, mas, ao mesmo tempo, travamos uma batalha contra a epidemia de desinformação que tantos danos tem gerado no nosso País”, observou.

Histórias da época

Heloísa Sterling, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e uma das autoras da obra, lembrou que os panfletos reunidos na obra mostram que, na efervescência daqueles anos, eles eram materiais acessíveis a todos. “Você pode surpreender a cidade inteira numa única manhã. Você vai lá, prega o panfleto com cera de abelha na parede e na porta de uma residência, nos lugares de maior circulação de pessoas, mas os panfletos também podem ser distribuídos de mão em mão. E, numa sociedade como a brasileira em que largas parcelas da população eram pouco instruídas ou nem mesmo letradas, os panfletos davam a volta aos obstáculos e baixavam os grandes temas da conjuntura ao nível das ruas. Eles eram lidos em voz alta também na porta das igrejas, nas lojas, nas tabernas, nas casas de alcouce, que são os prostíbulos, nas reuniões públicas, nas praças. Olha que legal: um grande debate sobre as visões e os projetos de Brasil”, lembrou.

Para o jornalista e escritor Eduardo Bueno, membro da Comissão Especial Curadora do Senado, uma celebração da independência dessa grandeza não é feita só pelo Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. “É feita por nós da sociedade civil, por nós! Nós somos agentes históricos. Nós temos que exercer a nossa cidadania e nós, nós, que temos essa responsabilidade. Já que estamos nesta Comissão, nós temos a obrigação de fazer com que isso chegue aos alunos e chegue com uma história libertária, uma história envolvente, uma história que apaixone e uma história que leve à reflexão, porque o único jeito de construir um país menos injusto do que este é com o conhecimento”, salientou.

O livro será vendido na Livraria do Senado, por R$ 32, mas o PDF está disponível gratuitamente neste link.

Panfleto pela independência no Pará

Nota Introdutória

Últimos dias do governo do Conde de Vila Flor no Grão-Pará

Valquíria Ferreira da Silva

Refutação do artigo inserido no Portuguez Constitucional de 24 de outubro de 1820 numero 28 contendo a narração dos factos praticados com Manoel da Costa na cidade do Pará. Na Typographia Regia, 1821.

Em 24 de agosto de 1820, apoiados por juristas e outros setores da população, militares reunidos no Campo de Santo Ovídio, na cidade do Porto, declararam: “Criemos um governo provisório, em quem confiemos. Ele chame as Cortes, que sejam o órgão da Nação, e elas preparem uma Constituição, que assegure os nossos direitos. (…) Viva o nosso bom rei! Vivam as Cortes e por elas a Constituição”.

As proclamações e a criação de uma Junta Provisional no Porto marcaram o início do movimento liberal, em Portugal. Seus protagonistas consideravam que algumas das decisões tomadas por Dom João VI haviam provocado a decadência do Reino – entre elas sua permanência no Rio de Janeiro – e somente deputados eleitos conseguiriam restaurar uma monarquia degradada pelo despotismo.

Em 15 de setembro, foi a vez de Lisboa dar vivas à Revolução do Porto e organizar um governo interino. O Conselho de Regência foi afastado e uma Junta unificada organizada com dupla missão: administrar e organizar o Soberano Congresso. Além de uma Constituição, reivindicavam o retorno imediato do monarca e toda a família real. A notícia só chegou ao Brasil no mês de outubro.

A primeira província brasileira a se posicionar favoravelmente ao novo governo de Lisboa, a 1° de janeiro de 1821, foi o Grão-Pará. Antecedeu, até mesmo, a própria instalação das Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, em 26 de janeiro de 1821. O isolamento geográfico da capitania em relação ao Rio de Janeiro e o estreito vínculo político-econômico com Portugal estão entre os fatores que mais contribuíram para sua adesão instantânea aos liberais portugueses.

Quando o governador Antônio José de Sousa Manoel de Meneses de Noronha, o Conde de Vila Flor, chegou ao Grão-Pará, em 1817, a capitania passava por um momento de instabilidade social e política. Desde 1809, após Dom João decidir retaliar a invasão das tropas napoleônicas em Portugal, um contingente militar ocupava Caiena, na Guiana Francesa. Com o fim do conflito em 1817 e a restituição da região 95 à França, o retorno das tropas à capitania preocupava o governador.

O Conde temia que a convivência entre os soldados recém-chegados e a população local expandisse a circulação de ideias revolucionárias francesas na capitania. Vila Flor chegou mesmo a decretar o uso, pelos membros das tropas que ocuparam Caiena, de uma braçadeira negra com um “C” inscrito em branco. O pretexto era homenageá-los, mas a faixa permitiria a imediata distinção desses soldados dos demais. E não era só isso.

O perigo revolucionário poderia chegar também por Pernambuco. Nesse mesmo ano, um levante tomou o Recife. Os revolucionários opunham-se, principalmente, aos pesados tributos impostos pela Corte no Rio de Janeiro à capitania. Implantaram um governo provisório, proclamaram a República, estabeleceram a igualdade de direitos e a tolerância religiosa.

Por receio do movimento alcançar o Grão-Pará, o governador proibiu a liberação, no porto de Belém, de navios vindos de Pernambuco, antes de ficar comprovado que o proprietário não havia se envolvido no levante. Somados a essa tensão, os conflitos por poderes políticos e econômicos entre os membros das elites locais se acirraram consideravelmente. De um lado estavam os interesses dos brasileiros, em sua maioria extrativistas, e do outro os negociantes, majoritariamente portugueses.

No momento em que as notícias sobre a Revolução do Porto chegaram, o Conde de Vila Flor estava de licença no Rio de Janeiro e a capitania era governada por uma Junta de Sucessão. Aderir aos liberais portugueses poderia ser considerado crime de lesa-majestade. Caso o movimento 96 fracassasse, seus apoiadores ficariam sujeitos a violenta repressão.

Por outro lado, o retorno do centro do Império a Lisboa favoreceria os negócios, pois a ligação comercial com Portugal era muito mais próxima que com o distante Rio de Janeiro. O apoio à Revolução do Porto foi tramado em encontros secretos e decidido em reunião na véspera do ano novo, em 31 de dezembro de 1820.

No dia seguinte, Regimentos de Infantaria e Milícia ocuparam o largo do Palácio do Governo com vivas à Constituição, ao Rei e à religião. A Junta de Sucessão foi convocada e destituída, assim como o governador Conde de Vila Flor. Uma nova Junta Provincial composta por negociantes vinculados ao comércio atlântico e por militares dissidentes foi formada.

Capitaneada por uma testemunha da Revolução do Porto, Felipe Patroni, um ex-estudante de direito de Coimbra, a iniciativa foi justificada pela insatisfação geral com os governos despóticos a quem atribuíam o estado de abandono e atraso em que se mantinha a região desde o período colonial. A Junta garantiria a participação direta “dos filhos beneméritos do Pará” na administração, como afirmou Patroni. Homens com capacidade para governar baseados no mérito e não apenas na nobreza.

O panfleto Refutação do artigo inserido no Português Constitucional de 24 de Outubro de 1820, n. 28, contendo a narração dos fatos praticados com Manuel da Costa na cidade do Pará apresenta duas versões para a atuação do governador Antônio José de Souza Manuel de Menezes de Noronha à frente do Grão-Pará. Uma delas foi publicada em outubro de 1820 no periódico Português Constitucional n. 28 pelo negociante Manuel da Costa, preso no Limoeiro em Lisboa. 97 Nela, em nome dos verdadeiros Constitucionais e dos bons portugueses, o autor denuncia o grau de elevação a que se tem chegado no Brasil o despotismo.

A segunda versão refuta os argumentos apresentados por Manuel da Costa. A anônima testemunha ocular do governo de Vila Flor, baseando-se principalmente na voz pública, tenta convencer o leitor das más intenções de Manuel da Costa, cujo objetivo era desacreditar o Governador do Pará, o Excelentíssimo Conde de Vila Flor.

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(A íntegra do documento original, reproduzido por imagem, está contido no livro “Vozes do Brasil: a linguagem política na Independência (1820-1824)”, lançado nesta semana pelo Senado Federal.)

Fiz alguns ajustes no texto para facilitar a leitura. Eliminei as notas de referência bibliográfica.

Os estrangeiros e a cabanagem

A divulgação, em 2002, de documentos inéditos que estavam arquivados nos arquivos do Ministério das Relações Exteriores em Londres revelou a atuação da Inglaterra, a maior potência mundial de então, durante a revolta da cabanagem (entre 1835 e 1849). Abriu-se então uma nova perspectiva nos estudos sobre o movimento rebelde.

Ficou comprovado que o governo brasileiro, chefiado pelo regente Diogo Antônio Feijó, manteve negociações secretas com os embaixadores da Inglaterra, França e Portugal, no Rio de Janeiro. Feijó queria que esses países ajudassem o império brasileiro a reprimir os revoltosos, enviando secretamente tropa para combatê-los. O pedido foi feito em sigilo, sem o conhecimento do parlamento. Mas não foi aceito.

Documento também inédito confirma as revelações dos arquivos do Foreign Office coletados pelo pesquisador americano David Cleary e transformados em livro pela secretaria de Cultura do Estado (Documentos Ingleses). ÉR uma carta publicada em janeiro de 1836 pelo jornal Echo do Norte, editado em São Luís do Maranhão.

Os comerciantes ingleses Hugh Goodair e Archibald Campbell contestam acusações e críticas feitas a súditos ingleses no Pará por dois franceses, Saulnier e Roy, que ainda estavam em Belém.

Em certo trecho da carta, eles mostram que a aliança entre o governo imperial brasileiro e Inglaterra, França e Portugal para combater os cabanos era do conhecimento local:

Acaso não conhece este senhor, e todos os que a pouco habitam o Pará, a liga que havia entre o Governo Legal da Província, e os comandantes das corvetas inglesa e portuguesa, para a coadjuvação da causa da legalidade, então eminentemente ameaçada? Ignora também que o mesmo chefe das forças marítimas ia, quase todos os dias, a bordo das ditas corvetas, designar o lado para onde estas deviam dirigir o fogo?

(A partir de documento publicado no blog Cabanagem Redescoberta, de Ricardo Conduru)

Os bens do pai do barão

Pedro Antonio Raiol foi morto pelos cabanos na Vigia, em 23 de julho de 1835, pouco mais de seis meses depois que a revolta irrompeu em Belém. Em 1840, quando a rebelião já estava extinta no Pará, o escrivão Graciano José de Castro  Goulart, do Juízo dos Órfãos da comarca, fez o inventário de Raiol, um dos mais importantes moradores da cidade.

A inventariante foi sua mulher, Arcângela Maria da Costa. Deixou como herdeiros seus filhos, todos menores: Domingos (que viria a ser o barão de Guajará, autor do mais importante livro sobre a cabanagem, Motins Políticos), de 10 anos; Maria, de 8 anos, e Francisco, de 7 anos.

O oficial de justiça Liandro José [o sobrenome está ilegível] apregoou “pelas Ruas e Praças públicas desta Vila” os bens do inventário arrolados na primeira página do inventário:

– Um tacho grande de cobre, com duas arrobas de peso, avaliado em quarenta mil novecentos e sessenta réis.

– Outro tacho de cobre pequeno, com o peso de dez libras, avaliado em vinte mil e quatrocentos réis.

– Três garrafões de vidro preto, avaliados em dois mil e quatrocentos réis.

– Um balcão de tamanca, avaliado em quatro mil réis.

– Um destilador de (…) avaliado em oitocentos contos réis.

E Pedro Raiol era um homem rico.

(A partir da primeira página do inventário, documento cedido pelo jornalista Nélio Palheta, secretário de Cultura da Vigia.)

Alguns donos de escravos

ANA MARIA DE MORAES

Proprietária do cafuz Manoel Esteves, de 20 anos, que foi preso em Belém pela tropa legal, em 14 de maio de 1836, e lhe foi devolvido em 23 de agosto do mesmo ano.

BENTO JOSÉ DA MOTA

Era de Óbidos. Seu escravo era Florentino Antônio. Que foi preso no Marajó e remetido para os trabalhos em 12 de outubro de 1836

BERNARDO PASTANA

Proprietário de Gonçalo, pPreso em 1836. Concorreu para a morte do seu senhor. Nunca será entregue. Remetido para bordo em 22 de dezembro de 1836. Faleceu a bordo da Defensora em 7 de março de 1837.

CIPRIANO DE OLIVEIRA

Era dono de Leonardo Antônio, preso em 1836. O escravo era acusado de roubar no Acará. A ordem era não entregar a seu senhor antes de chegarem a Belém as acusações do Acará.

FRANCISCO ANTÔNIO BARBOSA

Proprietário de Luís Antônio, acusado de ser assassino e ladrão, e de ter matado um escravo de Francisco Antônio Barbosa, roubando ainda a sua casa. Faleceu a bordo da corveta Defensora abril de 1837, seis meses depois de chegar preso a bordo.

FRANCISCO MANOEL DE ALMEIDA

Proprietário de José, angolano, preto, solteiro, 26 anos. Foi preso em 1836, no rio Maguari, pelo tenente Basílio. Solto por portaria de setembro de 1839 e entregue a José Gomes de Macedo, administrador do senhor do dito escravo.

JOÃO DE ARAÚJO ROZO

Proprietário de Raimundo Servo, paraense, pardo, solteiro, 20 anos. Preso em maio de 1836, em Belém, pela tropa legal. Solto três meses depois e entregue ao seu senhor.

PADRE SALVADOR RODRIGUES DO COUTO

Proprietário de Gonçalo Manoel Paraense, pardo, 20 anos, casado, alfaiate. Preso em 1836, no Acará, pela tropa, “por ser encontrado com as armas na mão”. Remetido para bordo em outubro de 1836 e solto

VICENTE ANTÔNIO MIRANDA

Proprietário de Lourenço de Souza Maia, paraense, branco solteiro, 20 anos, lavrador. Foi preso em agosto de 1836, no rio Guamá, pelo comandante da escuna Porto Alegre. Acusado de ser assassino e chefe de um grupo de rebeldes no Igarapé-Açu. Distinguiu-se no ataque a Belém e até em assassínios, como fez a dois indivíduos, na fazenda Caridade. Foi para bordo da corveta Defensora em agosto de 1836 e solto dois anos depois

Perfil dos cabanos

A relação nominal dos rebeldes presos a partir de 1836 pelas tropas imperiais brasileiros, deslocadas para combater a revolta dos cabanos (*), que estava inédita até divulgá-la no livro Cabanagem – O massacre, no início de 2020, permite pela primeira vez traçar o perfil dos cabanos com base nos documentos da época, que são os registros feitos pelas autoridades públicas no momento mesmo das prisões.

Retomo a divulgação das informações que recolhi em anos de pesquisas no acervo da antiga Biblioteca e Arquivo Público do Pará, como contribuição para a história da revolta popular iniciada em Belém a 7 de janeiro de 1835, com seus antecedentes e desdobramentos. Espero que auxilie a pesquisa dos que se interessam pelo tema

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(*) – Documentação contida nos códices manuscritos 531, 972, 973, 974, 1.130, 1.131 e 1.132 da Biblioteca e Arquivo Público do Pará.

IDENTIFICAÇÃO DOS CABANOS

Da relação dos presos foi possível identificar as raças de 1.915 cabanos, conforme o agrupamento a seguir apresentado, com base nos documentos originais:

MULATO –  182

CAFUZ     –   142

PRETO     –   105

MESTIÇO –    19

NEGRO     –      6

CRIOULO –      1

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Subtotal     –  455

ÍNDIO       –    369

TAPUIO    –      85

 Subtotal    –    454

BRANCO   –     241

MAMELUCO– 231

PARDO      –     224

Subtotal     –     706

RAÇAS

PRETO

Apresento as principais informações contidas nas fichas de identificação dos 105 presos classificados como pretos, conforme os códices citados acima. Nem todos os itens de cada ficha foram preenchidos, impedindo que haja coincidência na totalização. No total, consultei 1.958 fichas.

Profissão

Escravo – 49

Livre – 20

Lavrador – 15

Carpinteiro – 7

Soldado – 3

Alfaiate – 2

Ferreiro – 2

Vaqueiro – 2

Aprendiz de feiticeiro – 1

Marceneiro – 1

Ourives – 1

Comerciante – 1

Marinheiro – 1

Padre capelão – 1

Coureiro – 1

Taberneiro – 1

Sapateiro – 1

Calafate – 1

Barbeiro – 1

Carpina – 1

Sem ofício – 5

Destino

Morreu – 34

Destino ignorado – 36

Solto – 22

Foi para a cadeia – 3

Fugiu – 2

Foi para Pernambuco – 2

Foi preso para o Rio de Janeiro – 1

Foi para o Maranhão – 1

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NEGRO

Apenas seis fichas da relação de cabanos presos pelas tropas imperiais brasileiras identificaram a raça desses presos como negros, conforme os códices citados.

Profissão

Escravo – 5

Marceneiro – 1

Destino

Destino ignorado – 2

Morreu – 2

Solto – 1

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CAFUZ

As fichas da relação de cabanos presos pelas tropas imperiais brasileiras identificaram como sendo cafuzes 142 desses presos, conforme os códices manuscritos.

Profissão

Lavrador – 60

Escravo – 15

Livre – 11

Sem ofício – 10

Carpinteiro – 7

Vaqueiro – 6

Alfaiate – 5

Soldado – 4

Carpina – 4

Pescador – 3

Ferreiro – 3

Marceneiro – 3

Piloto da costa – 1

Pedreiro – 1

Negociante – 1

Seringueiro – 1

Ourives – 1

Destino

Destino ignorado – 63

Morreu – 60

Solto – 9

Foi para o Rio – 6

Foi para Pernambuco – 2

Fugiu – 1

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MESTIÇO

Dados sobre os 19 cabanos mestiços presos pela força militar do governo regencial que reprimiu a cabanagem.

Profissão

Lavrador – 10

Soldado – 7

Grumete – 1

Pescador -Livre – 1

Destino

Morreu – 11

Solto – 3

Destino ignorado – 2

Recolhido à cadeia pública – 1

Foi preso para Fernando de Noronha -1

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CRIOULO

Há anotação sobre um único crioulo, conforme a classificação das fichas. Era um alfaiate, que morreu.

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MULATO

As fichas da relação de cabanos presos identificaram como 182 os mulatos.

Profissão

Lavrador –67

Livre – 20

Carpinteiro – 15

Escravo – 15

Sem ofício – 14

Alfaiate – 13

Soldado – 10

Carpina – 5

Marinheiro – 4

Seringueiro – 3

Sapateiro -2

Ferreiro – 2

Ourives – 1

Marceneiro – 1

Aprendiz de carpina – 1

Vaqueiro – 1

Piloto de canoa – 1

Marinheiro – 1

Oficial de pentieiro – 1

Pescador – 1

Negociante – 1

Taberneiro – 1

Destino

Destino ignorado – 84

Morreu –52

Solto – 19

Foi para Pernambuco – 9

Sentou praça no 1º batalhão da brigada de Pernambuco e foi para o Rio –5

Fugiu – 4

Recolhido à cadeia pública – 4

___________________

ÍNDIO

São 369 os presos que constam como índios da relação dos cabanos capturados pela tropa imperial que reprimiu a cabanagem.

Profissão

Lavrador – 201

Sem ofício – 48

Carpinteiro –21

Soldado – 10

Livre – 10

Carpina – 5

Marceneiro – 5

Pescador – 4

Alfaiate – 3

Calafate – 2

Pedreiro – 2

Seringueiro – 2

Negociante – 2

Ferreiro – 2

Trabalha no pesqueiro – 2

Vaqueiro – 2

Canoeiro – 1

Sapateiro – 1

Tambor de milícia – 1

Borrador – 1

Mineiro – 1

Escravo – 1

Torneiro – 1

Cordoeiro – 1

Criado – 1

Parteira – 1

Prático – 1

Destino

Morreu – 201

Destino ignorado – 127

Solto – 13

Sentou praça no 1º batalhão da brigada de Pernambuco que marchou para o sul – 10

Recolhido à cadeia pública – 3

Fugiu – 2

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TAPUIO

Somam 85 os presos que constam como tapuios.

Profissão

Lavrador –36

Livre – 22

Sem ofício – 6

Carpinteiro – 6

Soldado – 3

Pescador – 2

Marceneiro – 1

Alfaiate – 1

Ferreiro – 1

Pintor – 1

Destino

Destino ignorado – 37

Morreu –32

Solto – 7

Foi para o sul – 3

Fugiu – 1

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BRANCO

Somam 241 os presos identificados como brancos.

Profissão

Lavrador – 104

Livre – 27

Negociante – 16

Alfaiate – 10

Sem ofício – 10

Carpinteiro – 9

Marinheiro – 8

Proprietário – 7

Ourives – 6

Caixeiro – 4

Soldado – 3

Criador – 3

Militar (R) – 2

Empregado público – 2

Tipógrafo – 2

Marceneiro – 2

Carpina – 2

Promotor público (Manaus) – 1

Estudante de gramática – 1

Enfermeiro – 1

Pescador – 1

Escrivão do crime – 1

Professor de primeiras letras – 1

Capitão – 1

Alferes – 1

Grumete – 1

Taberneiro – 1

Despenseiro – 1

Pintor – 1

Comerciante – 1

Fazendeiro – 1

Administrador – 1

Vaqueiro – 1

Almoxarife – 1

Sapateiro – 1

Padre – 1

Calafate – 1

Escrivão do juiz de paz – 1

Juiz municipal – 1

Destino

Destino ignorado – 96

Solto – 64

Morreu –52

Recolhido à cadeia pública –18

Foi para o Sul (Rio de Janeiro) – 7

Degredado para Fernando de Noronha – 2

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PARDO

Os pardos totalizam 224.

Profissão

Lavrador – 106

Livre – 29

Soldado – 11

Escravo – 10

Alfaiate – 10

Carpinteiro – 9

Sem ofício – 7

Sapateiro – 6

Marceneiro – 5

Ferreiro – 5

Taberneiro – 2

Liberto – 1

Tecelão – 1

Calafate – 1

Escrevente – 1

Músico – 1

Ourives – 1

Guarda municipal – 1

Pescador – 1

Canoeiro – 1

Sacristão – 1

Vaqueiro – 1

Militar – 1

Funileiro – 1

Seringueiro – 1

Porteiro – 1

Carpina – 1

Destino

Morreu – 100

Destino ignorado – 88

Solto – 18

Embarcou para Pernambuco – 4

Recrutado para servir no sul – 3

Foi para Fernando de Noronha – 1

Recolhido à cadeia pública – 1

Fugiu – 1

Foi para o Maranhão – 1

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MAMELUCO


Os cabanos classificados como mamelucos somam 231.

Profissão

Lavrador – 135

Livre – 23

Carpinteiro – 14

Sem ofício – 10

Alfaiate – 7

Sapateiro – 4

Ourives – 3

Soldado – 3

Carpina – 2

Artilheiro – 1

Procurador de causa (ou dos auditórios) – 1

Ferreiro – 1

Funileiro – 1

Calafate – 1

Fazendeiro – 1

Pintor – 1

Marceneiro – 1

Pescador – 1

Vaqueiro – 1

Seringueiro – 1

Escravo – 1

Destino

Destino ignorado – 97

Morreu – 80

Solto – 20

Foi para o Sul (Rio de Janeiro) – 12

Recolhido à cadeia pública – 4

Fugiu – 3

Foi para Pernambuco – 1