Mês: julho 2019
Documentos ingleses (6)
Esses novos documentos ingleses mostram as diferentes linguagens usadas pelo presidente legal da província, pelo presidente rebelde e pelo representante da poderosa marinha inglesa, a tônica da correspondência que travaram.
QUINTO ANEXO
De: Manoel George Rodrigues, Presidente do Pará
Para: Capitão Strong, Navio de Sua Majestade Belvidera
Sem data [1836]
Ilustre Senhor,
Tendo enviado o Capitão Warren, comandante do Brigue de Sua Majestade Snake para me inteirar verbalmente que amanhã V. Senhoria pretende zarpar para o Pará sem me informar para que finalidade, é meu dever informar-lhe de que o porto do Pará foi declarado em estado de bloqueio, conforme o Comodoro John Taylor lhe deve ter informado verbalmente e, para informação adicional, anexo uma cópia de uma comunicação que o ministro das relações exteriores de Sua Majestade Imperial, o Imperador do Brasil, dirigiu aos Chargés des Affaires [encarregados de negócios] de todas as nações que estão na capital do Império; ao ver esse documento, estou convencido de que V. Senhoria não irá violar os direitos que o governo brasileiro tem sobre o seu próprio território.
É meu dever protestar, como protesto agora, contra V. Senhoria ou quem quer que seja, por qualquer infração que possa ser feita contra os tratados de paz recíprocos e antigas amizades existentes entre as duas ilustres partes contratadas – Grã-Bretanha e Brasil – mais particularmente quando este, ou qualquer outro de seus delegados, não tiver dado motivos, diretos ou indiretos, para infringi-los, pelo contrário, quando tiver feito todo o possível para manter intata a boa fé de todos aqueles tratados.
Tenho a honra de ser etc …
SEXTO ANEXO
De: Capitão Strong
Para: Eduardo, Francisco Nogueira Angelino
Navio de Sua Majestade Belvidera
Senhor
No momento em que Sua Excelência, o ilustre Senhor George Cockburn, comandante chefe inglês nesses mares tomou conhecimento da revoltante notícia do abominável assassinato da tripulação do navio mercante inglês, Clio, com exceção de um homem (que conseguiu fugir), e do saque pirático de seu carregamento por algumas pessoas da Ilha de Salinas, onde havia ido em busca de um prático, Sua Excelência não perdeu tempo em me dar ordens para prosseguir com a esquadra dos navios de Sua Majestade para o Pará, onde devo visitar quem quer que seja o chefe no comando dessa província, para exigir dele a busca imediata para julgamento e punição de todos os que tiverem prestado auxílio a esse ato abominável…
[Segundo parágrafo idêntico ao da primeira carta enviada a Rodrigues]
Comunico a V. Senhoria que a força que está sob minhas ordens não tem nada a ver, de ambos os lados, com a infeliz disputa presentemente existente nesta província, mas veio exigir que se faça justiça com aqueles desgraçados de Salinas que, desprezivelmente, assassinaram nossos compatriotas, encalharam o navio e roubaram sua carga.
Tenho a honra de ser, etc …
Documentos ingleses (4)
Prossigo a publicação dos documentos ingleses sobre a cabanagem, com mais dois anexos à correspondência do comandante da esquadra inglesa, capitão Charles Strong, com o presidente do Pará, marechal Manuel Jorge Rodrigues, enviado para reprimir os rebeldes e assumir o controle da província. Ele estava acampado na ilha de Tatuoca, do outro lado da baía do Guajará, defronte a Belém.
TERCEIRO ANEXO
De: Capitão Charles Strong, Navio de Sua Majestade Belvidera
Para: Manoel George Rodrigues, Presidente do Pará
Navio de Sua Majestade Belvidera, Baía de Santo Antonio
14 de Março de 1836
Excelentíssimo Senhor,
No momento em que V. Excelência, o ilustre George Cockburn, comandante chefe inglês desses mares, tomou conhecimento da revoltante notícia do abominável assassinato da tripulação do navio mercante inglês, Clio, com exceção de um homem (o qual conseguiu fugir) e o saque pirático de seu carregamento por algumas pessoas da Ilha de Salinas, onde havia ido em busca de um prático, V. Excelência não perdeu tempo em me dar ordens para prosseguir com a esquadra nos navios de Sua Majestade para o Pará, onde devo visitar quem quer que seja o chefe no comando dessa província do Império Brasileiro, a exigir dele a busca imediata para julgamento e punição de todos os que tiverem prestado auxilio a esse ato abominável ou que dele tiverem participado, ajudando a saquear e tomando posse dos bens roubados após o navio ter sido colocado em terra e o comandante e a tripulação terem sido assassinados. Recebi ainda instruções para exigir uma garantia, por parte de quem quer que esteja no comando, de que o seu governo indenizará os donos do Clio pela perda de sua embarcação e do seu carregamento.
O crime cuja reparação eu vim pedir, de assassinato e de pirataria, todas as nações certamente reprimirão, punindo os perpetradores com extremo rigor (quando detectados), mas a Inglaterra, de todas as nações, possuindo uma poderosa marinha como a dela, nunca permitirá que qualquer povo moleste seus navios mercantes quando navegarem pelos mares em suas viagens lícitas e pacíficas.
Tenho plena certeza de que V. Excelência possui os mesmos sentimentos que meu Comandante Chefe e que qualquer outro homem deve possuir e que usará sua máxima autoridade para fazer justiça contra os canalhas que são uma desgraça para a humanidade.
Tenho a honra, etc …
QUARTO ANEXO
De: Rodrigues, Presidente do Pará
Para: Capitão Charles Strong, Navio de Sua Majestade Belvidera
Sem data
Ilustre Senhor,
Acuso o recebimento de sua carta oficial de 14 do corrente, na qual me comunica que no momento em que Sua Excelência Sir George Cockburn tomou conhecimento da revoltante notícia do abominável assassinato da tripulação do navio mercante inglês, Clio, com exceção de um homem, que conseguiu fugir, e do saque pirático de seu carregamento por algumas pessoas da Ilha de Salinas, onde havia ido em busca de um prático, e que o mesmo Excelentíssimo Senhor, sem demora, ordenou que V. Senhoria, com a força naval que lhe acompanhava, prosseguisse ao Pará onde deveria visitar quem quer que seja o chefe no comando desta província do Império Brasileiro e exigir dele a imediata busca para julgamento e punição de todos os que tiverem auxiliado nesse ato desastroso… e que também faz parte das suas instruções exigir de quem quer que se encontre no governo desta província que seu governo indenize os donos do Clio pela perda da embarcação e de seu carregamento.
Em resposta à primeira parte de suas solicitações, eu posso assegurar ao ilustre Senhor George Cockburn … que, sem a mais leve dúvida, haverá uma investigação para descobrir os perpetradores desses crimes hediondos, que eles poderão ser punidos com todo o rigor das leis do Império, não apenas por aquele crime, mas também por serem rebeldes e, para produzir o resultado desejado, o Regente do Império, em nome do Imperador D. Pedro 2º ordenou a partida das forças, não somente da capital como também das outras províncias.
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Senhoria também pode verificar que as instruções que eu, como presidente e comandante das forças da província, dei ao comandante das forças que eu enviei no dia 5 de fevereiro, com a finalidade de restaurar as cidades da Vigia, São Caetano, Villa Nova, Cintra e Salinas, esta última colocada em associação com as forças que deverão vir do sul, eu dei ordens positivas para prender John Priest, um residente dos Estados Unidos, habitante daquele lugar, que informou que o navio Clio estava carregado com armas, e o principal agitador daquele trágico e desafortunado ato, conforme parece pelo depoimento de Alexandre Paton, o marinheiro que fugiu.
Quanto à segunda parte de sua demanda, o governo desta província não se considera autorizado para decidir sobre tão importante questão; pode apenas assegurar que, existindo o direito de pagamento pelo Governo Imperial do valor do carregamento e do navio Clio, não tem a mínima dúvida que seja cumprido, haja visto a generosidade inerente à Nação Brasileira, a que ela tem demonstrado em todas as ocasiões, este assunto sendo resolvido pelos agentes diplomáticos das duas nações, Inglesa e Brasileira, e para cuja finalidade o governo desta província enviará à corte do Império, pela primeira oportunidade segura que se apresentar, uma cópia das cartas oficiais de V. Senhoria com esta resposta.
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Senhoria continua sua carta dizendo que os crimes cuja reparação veio pedir foram os de assassinato e pirataria, e que todas as nações tem um compromisso de reprimir os perpetradores por meio de punição da mais rigorosa e que a Inglaterra, entre todas as nações, possuindo uma poderosa marinha, nunca permitirá que seus navios mercantes sejam molestados… O governo da província reconhece como evidentes todos os motivos alegados por V. Senhoria. e também já afirmou que os culpados serão punidos com todo o rigor da lei, já tendo previamente transmitido ordens necessárias para esse fim, as quais, certamente, serão executadas, tanto por motivos do dever como de interesse pessoal, mas, ao mesmo tempo, precisa solicitar que V. Senhoria não julgue uma nação por alguns vagabundos que se rebelaram contra o seu legítimo governo, e que a nação brasileira os abomina e lamenta que tenham nascido em seu solo.