O incandescente Patroni

Este texto de Felipe Patroni, publicado no jornal Correio do Imperador, do Rio de Janeiro, nº 24, de 25 de janeiro de 1838, folha 2 e 3, enviado ao blog por Ricardo Condurú, dá para avaliar se o grande paraense era doido ou não ao escrever essas críticas faiscantes contra Bernardo Pereira de Vasconcelos, em 1838.

E vai além: cita o que poderia ser considerada uma autêntica reforma agrária, com a destinação de glebas inundáveis pelo extenso igarapé do Piri entre aqueles que ocupassem e transformassem o alagadiço, que travava a expansão urbana de Belém, em local de hortas, pomares e residências. Com essas benfeitorias, 200 posseiros se tornaram proprietários das glebas.

Também relembra a instalação da primeira tipografia completa, depois da primitiva de Madureira Pará, e ainda o primeiro jornal do Pará, O Paraense. Polemista terrível ele ainda era nessa época.

Transcrevo o documento, com algumas correções e adições que fiz para ampliar a compreensão do documento. Desprovido do medo, como enfatiza, em latim bíblico.

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Patroni ao Sr. Vasconcelos, primeiro ministro do Brasil

Ilmo. e Exmo. Sr.

Até agora guardei silêncio sobre os erros do ministério de V. Exa., porque eram eles filhos do seu entendimento charlatânico, que nada podia fazer de melhor, porque o não podia sentir. Os erros conhece-os V. Exa. em seus maus efeitos, porque a necessidade de figurar nos partidos o tem forçado a conhecê-los assim; quanto, porém, às origens, essas lhe tem sido constantemente desconhecidas. Nasceu V. Exa. para ser charlatão, não pode mais chegar ao terceiro estado da alma que é a filosofia; charlatão há sido sempre, e charlatão há de morrer.

Mas quando os erros nascem da vontade desenfreada de dominar os homens, calcando aos pés tudo quanto há de mais sagrado; então já é vergonha guardar silêncio, porque isso inculca medo, e eu declaro muito alto que de V. Exa. não tenho medo algum. Non enim dedit nobis Deus spiritum timoris, sed virtutis et dilectionis et sobietatis!…[Porque Deus não nos deu um espírito de medo, mas de poder, de amor e de sobriedade… – Bíblia, versão Vulgata]]

À pena, também não deixarei de aceitar o desafio; porque, se bem que não sou charlatão, mas filósofo, contudo não tenho muita precisão de andar decorando livros alheios e jornais de anúncios, para ir à câmara dos deputados pregar sermões de azeites de peixe, impondo de sábio às galerias.

E quanto a dinheiro, oh! Sim que por esse lado tenho eu certeza de vencer, pois V. Exa., apesar de ter tirado da nação uns trezentos mil cruzados em subsídios parlamentares e nos mais proes e precalços [percalços] do ofício, todavia até hoje não tem feito ao Brasil um só bem por mais pequeno que seja.

E eu, Exmo. Sr., eu pobre paraense, tendo apenas lucrado quatrocentos mil réis do meu emprego de juiz de fora da Praia Grande um ano de 1830 a 1831, eu tenho feito ao Brasil algumas poucas utilidades, por exemplo, a de fundar uma bela cidade no grande pântano de Belém do Pará chamado Piri, e isto sem roubar pessoa alguma, sem violentar as algibeiras de um só proprietário, com quatro palavras que insinuei ao presidente escrevesse em um oitavo de papel: – A Câmara  Municipal mande distribuir o terreno do Piri pelos proprietários que o dessequem e aproveitem. – E esse alagadiço de quatrocentas braças em quatro foi repartido por duzentos proprietários que imediatamente o aproveitaram, plantando aí hortas, jardins e pomares, e edificando nele bons edifícios; com o que tudo fundou-se a salubridade pública, a utilidade e abastança, e aumentou-se a renda com os foros e décimas. Seria V. Exa. capaz de fazer isso? Respondam as ruas, atoleiros, e mangues da Corte do Rio de Janeiro.

Também fundei no Pará a primeira tipografia depois daquela inventada e fundida pelo meu ilustre conterrâneo, o Sr. Madureira Pará, que pouco serviu, assim como estabeleci o primeiro periódico intitulado – Paraense – que utilizou grandemente a ilustração e independência da minha província. – E V. Exa. seria capaz de tal fazer? Responda. Ouro Preto que viu V. Exa. opor-se à independência e até querer bater a augusta pessoa do Senhor D. Pedro I, quando lá foi. E posto que fosse V. Exa. o protetor e mestre do Sr. José Pedro de Carvalho no estabelecimento da imprensa e periódico do Universal, contudo, é fato que essa imprensa foi que plantou e fez brotar as sementes da anarquia e a revolução de 7 de abril de 1831 da qual V. Exa. é o princípio e o fim, como Satã brasileiro descrito no apocalipse. V. Exa. sabe que eu não sou fanático, mas filósofo um pouco versado nas letras sagradas. Pois bem, estude agora o apocalipse e veja lá descritos com exatidão os passos todos da sua vida pública na astúcia e urdiduras do dragão.

Estava eu finalmente fundando estudos em Formigas do Serro, em honra de V. Exa., tanto assim que já corria a empresa com o nome de – Colégio Vasconcelos. – E não só fiz isto, mas também aconselhei as autoridades  daquela vila suplicarem ao governo e à assembleia da província  a adoção dos meus programas filosóficos para serem fundados  colégios d’educação com trabalho por todas as comarcas. E o governo da província adotou os meus programas, e a assembleia fez um projeto que foi lido na sessão de 17 de março de 1835 pelo Sr. deputado Otoni, adotando minhas ideias. – e que fez V. Exa.? Opôs-se fortemente à fundação dos estudos em Minas, com assombro de todo o mundo que até então estava com os olhos fechados e supunha que era alguma coisa nesta vida o chefe da oposição parlamentar.

Esta só V. Exa., ninguém mais é capaz de a fazer. Opor-se a uma empresa de tanta necessidade e vantagem para a nação, ao mesmo tempo que era dedicada a sua pessoa; tudo isto que é só próprio de V. Exa., verificando-se a sentença do imortal Bocage:

Quem preza a gratidão, não preza o vício;

O mortal vicioso é sempre ingrato.

Vamos agora às obras literárias. Quantas têm escrito V. Exa.? Uma só, o famoso Comentário à lei dos juízes de paz, onde se acha grandemente desenvolvido o saber charlatânico de um rábula formidável, capaz de arrancar a língua ao mais valente Hércules por duas patacas de um Diz [ilegível] que o suplicante.

E eu, Exmo. Sr., eu, triste bacharel que nem ao menos formado sou, pois minha cabeça não foi feita, como a de V. Exa., nos diários das Cortes de Portugal, como o declaram expressamente suas retratações públicas no Sete d’Abril, eu tenho escrito alguns opúsculos que não foram de certo copiados de parte alguma.

Até agora tem sido V. Exa. conhecido pelo maior plagiário do mundo, e a prova de tão feio procedimento está no seu Código Criminal e nas suas posturas da câmara municipal de Ouro Preto, que tudo foi copiado servilmente, palavra por palavra dos códigos franceses. Mas o meu Ensaio d’Educação Pública, física, intelectual e moral, Exmo. Sr., de certo não foi copiado d’algures.  E posto que V. Exa. em Minas se opusesse  aos meus estudos, contudo parece certo que V. Exa. alguma coisa copiou daquele manuscrito, pois tem andado por muitas mãos no Rio de Janeiro, e por último se achava na do Sr. Ignácio Pereira da Costa em tempo em que V. Exa. estava tratando de criar o colégio de D. Pedro II.

Ora mais alguma coisa do que o Ensaio da Educação Pública é certamente o Código das Recompensas, que V. Exa. tem proclamado como inútil ou inexequível, supondo ser uma rapsódia semelhante aquelas das suas arengas parlamentares, onde se acham palavras de palmo e meio, e sentenças de quinze arrobas.

Patroni.

Os livros de Patroni em Belém

O 4º tomo dos Anais da Biblioteca e Arquivo Público do Pará, publicado em
1902, arrola seis livros de autoria de Felippe Alberto Patroni Maciel Parente
que existiam então na biblioteca pública estadual, hoje desmembrada do arquivo,
instalada no Centur. Os volumes levaram os números de 1239 a 1244.

As seis obras, constam do catálogo mandado elaborar pelo diretor da
instituição, Arthur Vianna, que checou e fez a localização dos exemplares (do
que sei por ter comprado em um sebo a edição original dos Anais, com as
anotações de Vianna; sem ter carimbo da instituição nem qualquer outra
identificação, devem ter pertencido ao próprio historiador):

– Corpus Jurus de Roma julgado na Bíblia pelo Corpus Christi d’ambos os
mundos. Tratado Elementar da Ciência da Unidade para servir de prólogo
literário ou Filológico aos Rudimentos Bíblicos da Política do Cristianismo,
Lisboa, 1853.

– Celeste e Terrestre Legitimidade. Santa Popularidade do Testamento de
Deus. Aliança do céu com a terra. Império e Sacerdócio de todas as nações por
graça e lei do Senhor escrito na Bíblia ou Direito Constitucional do Poder
central d’ambos os mundos, com as leis teológicas da álgebra política, em todas
as escrituras da ciência e da revelação. Lisboa, em dois volumes. Parte III,
1855. Parte V, 1856.

– Compêndio da Doutrina Social do Evangelho e mais livros da Bíblia,
Lisboa, em 2 volumes. Parte I, 1857. Parte II, 1857.

A “pacificação” do general Andréa

Publicação contida no jornal O Universal, de Minas Gerais, nº 75, de 20 de junho de 1836, folhas 3 e 4, enviada ao blog pelo pesquisador Ricardo Condurú, editor do blog Cabanagem Redescoberta, descreve a situação e destino de alguns dos principais líderes da Cabanagem, em junho de 1836. A grafia foi atualizada. Inserções explicativas estão entre colchetes.

Relação dos desgraçados paraenses mais influentes na horrorosa revolução do Pará, que teve princípio em 7 de janeiro de 1835, que dela tem sido vítimas.

Francisco Pedro Vinagre, de seringueiro passou a Comandante das Armas, e a presidência da Província, e hoje acha-se a ferros a bordo da fragata Campista.

Antônio Pedro Vinagre, irmão do Vinagre acima, foi Comandante dos Permanentes, e morreu no ataque do dia 11 de agosto de 1835.

Malcher [Félix Antônio Clemente Malcher], Tenente Coronel de Segunda Linha. Proprietário. Foi Presidente em lugar do infeliz Lobo [Bernardo Lobo de Sousa], e desceu dessa dignidade, espingardeado, e arrastado pelas ruas da cidade por mandado do Vinagre em fevereiro de 1835.

João Miguel de Souza Aranha, intruso Secretário de Malcher, mandatário do assassinato do infeliz Presidente Lobo, e hoje preso a ferros a bordo da corveta Campista.

Pedro Cacimiro [Padre Casemiro], Secretário do Vinagre. Morreu de bexigas [Varíola] na cidade, correndo doido e cheio de bichos pelas ruas.

Portilho, de Cabo de Permanentes, que era, passou a Comandante das Armas. Morreu de bexigas.

Jacinto Pororoca, Deputado da Assembleia Provincial, e nomeado Juiz de Órfãos. Morreu a bordo da corveta Defensora.

Manoel Gonçalves Meninea, Ajudante de Ordens de Vinagre; e hoje preso a bordo da corveta Defensora.

Padre Felipe da Costa morreu em 26 de janeiro de 1836 a bordo da corveta Defensora, onde se achava preso.

José Marcelino, Major feito por Vinagre, e hoje preso a bordo da corveta Defensora.

Tracanã Preto, que foi soldado artilheiro, e que lançou bombas à fragata Imperatriz, no dia 12 de maio de 1835. Morreu a bordo da corveta Defensora.

Raimundo Bacurim, Comandante, por Vinagre, da bateria de Santo Antônio, e hoje preso a bordo da corveta Defensora.

Felipe de tal, Soldado de Permanentes, que assassinou o infeliz Presidente Lobo por mandado do malvado Aranha. Morreu a bordo da corveta Defensora.

Jacaracanga, Alferes feito por Vinagre, preso a bordo da Defensora.

Francisco José, natural do Ceará, um dos assassinos do Comandante de Fragata Inglis [Guilherme James Inglis]. Preso a bordo da corveta Defensora.

Tertuliano de tal, Soldado de Permanentes, e um dos assassinos do infeliz Santiago [Joaquim José da Silva Santiago]. Morreu a bordo da corveta Defensora.

José Raimundo, irmão do atual presidente intruso; preso a bordo da corveta defensora.

N.B. Dos presos a bordo da corveta Defensora, tem morrido quase trezentos. Das famílias refugiadas na ilha de Tatuoca, tem morrido, desde o fim de agosto do ano passado até agora mais de setecentas pessoas.

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Também encaminho publicação contida no jornal A Aurora Fluminense, do Rio de Janeiro, nº 151, de 1839, folhas 3 e 4, contendo o Mapa dos habitantes do Pará encerrados em prisões, no período de junho de 1835 a outubro de 1838.

AINDA O SR. GENERAL ANDREA

– Do Pará envia-se-nos uma longa carta acompanhada de numerosos documentos, que se propõe a desmentir a justificação que publicou o Sr. general Andrea [Francisco José de Sousa Soares de Andrea], em resposta aos discursos do Sr. Arcebispo da Bahia sobre os horrores da célebre presiganga, a corveta Defensora. Não permitindo os limites desta folha que demos por inteiro a carta e os documentos, limitar-nos-emos a um extrato.

Pará, 2 de abril de 1839

Sr. Redator da Aurora.

Carta ao público para desengano de S. Exa. Reverendíssima o Sr. Arcebispo da Bahia. – Tal é o título de um impresso que aqui acaba de ser publicado pelo Sr. general Andrea, com citações latinas, e não sei se com versos franceses, porque até o canibalismo tem a sua poesia lírica. No preâmbulo de sua pretendida justificação, o Sr. Andrea convida o venerando metropolita a que venha ao Pará, e entre na presiganga, a fim de com os próprios olhos ajuizar no estado dela… Que perigo! Sem dúvida o Sr. arcebispo não aceitara jamais o amável convite de penetrar no antro do ciclope, para que não lhe sucedesse o caso do padre Philippe da Costa, deputado provincial, e do padre José Rodrigues, que no porão daquele matadouro terminara o dia. Se porventura o Exmo. Arcebispo houvesse combinado todas as enormidades, os refinamentos luxuosos do extermínio, cometidos contra a malfadada província do Pará; se em vez de falar somente de 700 presos contidos no fatal presídio, ele os houvesse computado em seu número exato, o de 1.600, o que diria então o Sr. Andrea? Mas deixando estes preliminares, que me levariam muito longe, examinemos os documentos, falsos, simulados, elaborados pelos interessados na conquista, com que o Sr. Andrea cuidar fundamentar a sua defesa.

1º Documento

Aí se diz – nenhum preso existe nesta corveta sem ser por portaria do governo, na qual vem as notas dos seus crimes, que se transcreve no alardo dos presos. – Esta é a primeira falsidade: sabem aqui todos que em julho de 1835, em maio de 1836, e meses seguintes, centenas de habitantes foram recolhidos à presiganga sem portaria do governo. O livro do alardo dos presos foi principiado em agosto de 1837, pelo sócio do nobre geral [general], Sr. Costa, que inseria o nome dos presos que recebeu do comando do outro sócio, o imortal Sr. Brício, a quem o conquistador deixava em testamento a conquista do Pará por herança. Aquele alterou, mudou, diminuiu as notas do modo o mais visível. O chamado alardo consta de pequenos cadernos, guardados e escriturados com a maior irregularidade, e com eles praticou-se o que ainda se não tinha visto em repartição alguma pública no Brasil, rasgou-se lhes as folhas que continham os nomes das infelizes vítimas lançadas ao mar, ou mortas a ferros. Ao rasgar-se as folhas dizia alguém – o nome destes já não nos interessa saber – que crédito merece pois este primeiro documento.

A prisão da corveta Defensora é um pequeno compartimento da coberta de 50 x 49 palmos, e o porão 78 x 32, sem uma só portinhola, sem a mais pequena vigia para admitir ar, e em ambos os lugares, quando o número subia a 500 ou 600 (como demonstram com evidência cálculos feitos por pessoas conscienciosas) jaziam os presos, carregados de ferros, acostados uns aos outros, imóveis, sem mesmo poderem satisfazer as primeiras precisões.

– O resto da narração do nosso correspondente sobre os pormenores do infernal presídio, e as crueldades do Sr. Andrea, fazem horror. Por falta de espaço adiaremos para outro número a sua inserção; e por hoje só publicaremos a seguinte tabela, que pode dar ideia do regime de terror, com que se queria governar o Brasil.

MAPA EXATO, OU CONTA CORRENTE

Dos habitantes do Pará encerrados em prisões, encerrados prisões de navios, a ferros, e massacrados.

MANOEL JORGE RODRIGUES – Defensora.

1835

Junho 27 / a julho 28 } Prendeu ………………. .. 43

Julho 28 – Prendeu na cidade ……. 273

Agosto 03 – Prendeu na cidade ……….. 1

Agosto 15 – Prendeu na cidade ………… 1

Setembro a março de 1836 } Prendeu em bloqueio ……… 196 (514)

Julho de 1835 a abril de 1836} Morreram a ferros ……………365

Abril 11 – Entregues a Andrea ……………………………………….149 (514)

ANDREA, Defensora, Tatuoca, Arapiranga.

Abril 11 – Presos recebidos de Rodrigues ………………………………. 514

Abril 19 – Deportados pela Campista que partiu para o Rio ….. 60

Maio 8 – Morreram, a ferros, até hoje ……………………………….. 17

Maio 8 – Passados para a Carioca (por a Defensora partir para a cidade) – 72 (149)

Carioca, Arapiranga e Cidade.

Maio 8 – Recebidos da Defensora ……………………………………… 72

Maio 20 – Prendeu …………………………………………………………… 2

Maio 29 – Recebidos da Regeneração ………………………………. 64

Maio 29 – Ditos da Defensora ………………………………………….. 145

Maio 31 – Ditos da dita …………………………………………………… 125 (408)

Maio 28 – Morreram a ferros em Arapiranga ………………………….. 5

Maio 28 a julho 18 – Morreram a ferros até hoje ………………………. 24

Julho 18 – Passados à Defensora …………………………………………… 179

Julho 19 – Deportados pela Carioca que partiu hoje para o Rio …….200 ( 408)

Regeneração, Cidade.

Maio 13/20 – Presos na cidade etc. ………………………………………… 129

Maio 29 – Passados para a Carioca …………………………………………. 64

Maio 13/29 – Morreram sem ferros ………………………………………….. 3

Maio 29 – Passados `a Defensora …………………………………………….. 62 (129)

Cidade, Defensora, Bolt.

Maio 21 a 25 – Presos da cidade …………………………………….. 341

Maio 27 – Ditos dita ………………………………………………………. . 201

Maio 29 – Ditos recebidos da Regeneração ………………………… 62

Maio 31 – Ditos de terra …………………………………………………… 154 (758)

Maio 31 – Passados à Carioca ………………………………………………. 145

Maio 29 a junho 20 } Morreram a ferros …………………………………. 112

Junho 20 – Passados ao comando do Guimarães ……………………….. 501 (758)

Cidade, Defensora e Guimarães ………………………………………….. 501

Junho 21 a agosto 7} Presos da cidade e distritos ………….. …………………….. 103

Julho 18 – Recebidos da Carioca ………………………………………………………… 179

Julho 21 a agosto 8 } Morreram a ferros …………………………………….. 126

Julho 18 – Passados à Carioca ……………………………………………………. 125

Agosto 8 – Passado ao comando de M. J. Brício ……………………………532 (783)

Cidade, Defensora, Manoel Ignácio Brício ………………….. 532

Agosto 8 /

1837 agosto 4 } Presos da cidade e de vários distritos ……… 612 (1.144)

Agosto 4 – levados ao Hospital, a ferros, até hoje …………………………… 245

Vindos do Hospital ……………………………………………………..76

Morreram a ferros no Hospital …………………………………… 169

Agosto 4 – Morreram a ferros até hoje ………………………………………….. 545

Agosto 4 – Deportados pelo Três de Maio e Patagônia ………………………. 20

Agosto 4 – Tiveram diversos destinos ……………………………………………. 78

Agosto 5 – Passados ao comando de João Manoel da Costa …………. 332 (1.144)(*)

Cidade, Defensora, João Manoel da Costa ……………………… 332

1838 outubro 31 – Presos até hoje …………………………………………. 396 (728)

Outubro 31 – Foram soltos até hoje …………………………………………. 51

Outubro 31 – Morreram a ferros ………………………………………………. 219

Outubro 31 – Morreram a ferros no Hospital ………………………………. 71

Foram para os trabalhos públicos, recrutados e tiveram diversos

destinos …………………………………………………………….. 146

Outubro 31 – Existentes hoje presos a ferros ………………………………… 241 ( 728)

RESUMO

Vieram presos …………………………………………………………………….. 2.452

Morreram a ferros – 1.653; sem ferros [3] …………………………………….1.656

Deportados a ferros …………………………………………………………………. 280

Recrutados ……………………………………………………………………….. 54

Tiveram diversos destinos (trabalhos públicos, pena última etc.) ……….. 170

Soltos por ………………………………………………………………………… 51

Existentes, presos a ferros ………………………………………………….. 241 (2.452)

(*) O valor correto seria 1.465, ao invés de 1.144. (Nota do Blog Cabanagem Redescoberta)

Defina a cabanagem

Crimes de assuada, motim, assassínios, assassinato dos “adotivos”. Estas são algumas das expressões usadas na documentação da época para definir a cabanagem pelos que dela participaram, principalmente pelas autoridades públicas do império brasileiro. Domingos Antônio Raiol, o barão de Guajará, cujo pai foi morto por cabanos, e ainda é a principal fonte sobre a revolta, optou por motim político. E você: qual das definições usaria ou qual criaria?

A identidade dos cabanos

Em 2020, no meu livro Cabanagem – O massacre, divulguei documentação, até então inédita, reunindo o conteúdo de seis códices, que são coleções de documentos, que constituem riquíssimo acervo do Arquivo Público do Pará. Um dos códices, o 531, contém a Correspondência de Diversos com o Governo em 1836. Os demais (972, 973, 974, 1.130 e 1.131), têm a Relação Nominal de Rebeldes Presos.

Os dados se basearam nas relações de presos que eram preparadas periodicamente em Belém e pelos comandantes das embarcações militares fundeadas em frente à cidade, que serviam de presídio e cemitério para os presos. Essa documentação permitiu traçar, pela primeira vez, o perfil dos cabanos com base nos documentos oficiais da época, São os registros feitos pelas autoridades públicas no momento mesmo das prisões.

Uma das listas foi elaborada em 31 de maio de 1836 pelo tenente Filipe José Ferreira, comandante da charrua Carioca. Outra relação foi feita por Martins Bold, comandante da corveta Defensora, em 1º de junho de 1836. Nesse dia o total de presos era de 132, sendo que 20 estavam no hospital e 112 a bordo da corveta Defensora. Os escravos eram 17.

Todas, porém, só se referiam aos rebeldes presos a partir de 1836 pelas tropas imperiais brasileiros. Em uma nova edição, acrescentarei mais nomes, dos prisioneiros mortos na corveta Defensora de agosto a novembro de 1835. É o que consta de uma relação, datada de 16 de novembro desse ano, enviada pelo comandante da corveta, 2º tenente Francisco Xavier de Alcantara, ao comandante das forças navais, John Taylor.  

A lista foi publicada no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, de 23 de fevereiro de 1836. A corveta estava fundeada em frente à ilha de Tatuoca. Dessa relação constam 172 cabanos mortos: 13 em agosto, 12 em setembro, 121 em outubro e 26 em novembro. Infelizmente, porém, nenhuma outra informação. Assim, enriquecem os números sobre a prisão e a morte dos presos arrolados e nada mais.

Todos esses números devem ser relativizados especificamente quanto ao paradeiro de 859 presos, sem destino definido nas anotações sobre eles. É de se supor, com alto grau de probabilidade, que grande parte deles tenha morrido a bordo da corveta Defensora. Mais de 1.300, pelo menos, morreram na embarcação ou nos hospitais de Belém. A esmagadora maioria dos presos arrolados passou algum dia pela corveta, ainda que nela não tenha morrido. A Defensora foi construída originalmente no Arsenal de Marinha da Bahia,

Muitos foram recrutados ou colocados em algum serviço público; 79 tiveram como último destino o Arsenal de Marinha, a partir do qual não deixaram mais pistas. Mas talvez ainda se consiga encontrar mais algumas.

Retomo a divulgação das informações que recolhi em anos de pesquisas no acervo da antiga Biblioteca e Arquivo Público do Pará, como contribuição para a história da revolta popular iniciada em Belém a 7 de janeiro de 1835, com seus antecedentes e desdobramentos. Neste primeiro momento, publico alguns dos resultados quantitativos da pesquisa. Espero que auxiliem a os que se interessam pelo tema a se dedicarem à reconstituição de um dos capítulos mais importantes e menos conhecidos da história do Brasil.

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IDENTIFICAÇÃO DOS CABANOS

Da relação dos presos foi possível identificar as raças de 1.915 cabanos, conforme o agrupamento a seguir apresentado, com base nos documentos originais:

MULATO –  182

CAFUZ     –   142

PRETO     –   105

MESTIÇO –    19

NEGRO     –      6

CRIOULO –      1

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­Subtotal     –  455

ÍNDIO       –    369

TAPUIO    –      85

 Subtotal    –    454

BRANCO   –     241

MAMELUCO– 231

PARDO      –     224

Subtotal     –     706

RAÇAS

PRETO

Apresento as principais informações contidas nas fichas de identificação dos 105 presos classificados como pretos, conforme os códices citados acima. Nem todos os itens de cada ficha foram preenchidos, impedindo que haja coincidência na totalização. No total, consultei 1.958 fichas.

Profissão

Escravo – 49

Livre – 20

Lavrador – 15

Carpinteiro – 7

Soldado – 3

Alfaiate – 2

Ferreiro – 2

Vaqueiro – 2

Aprendiz de feiticeiro – 1

Marceneiro – 1

Ourives – 1

Comerciante – 1

Marinheiro – 1

Padre capelão – 1

Coureiro – 1

Taberneiro – 1

Sapateiro – 1

Calafate – 1

Barbeiro – 1

Carpina – 1

Sem ofício – 5

Destino

Morreu – 34

Destino ignorado – 36

Solto – 22

Foi para a cadeia – 3

Fugiu – 2

Foi para Pernambuco – 2

Foi preso para o Rio de Janeiro – 1

Foi para o Maranhão – 1

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NEGRO

Apenas seis fichas da relação de cabanos presos pelas tropas imperiais brasileiras identificaram a raça desses presos como negros, conforme os códices citados.

Profissão

Escravo – 5

Marceneiro – 1

Destino

Destino ignorado – 2

Morreu – 2

Solto – 1

CAFUZ

As fichas da relação de cabanos presos pelas tropas imperiais brasileiras identificaram como sendo cafuzes 142 desses presos, conforme os códices manuscritos.

Profissão

Lavrador – 60

Escravo – 15

Livre – 11

Sem ofício – 10

Carpinteiro – 7

Vaqueiro – 6

Alfaiate – 5

Soldado – 4

Carpina – 4

Pescador – 3

Ferreiro – 3

Marceneiro – 3

Piloto da costa – 1

Pedreiro – 1

Negociante – 1

Seringueiro – 1

Ourives – 1

Destino

Destino ignorado – 63

Morreu – 60

Solto – 9

Foi para o Rio – 6

Foi para Pernambuco – 2

Fugiu – 1

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MESTIÇO

Dados sobre os 19 cabanos mestiços presos pela força militar do governo regencial que reprimiu a cabanagem.

Profissão

Lavrador – 10

Soldado – 7

Grumete – 1

Pescador -Livre – 1

Destino

Morreu – 11

Solto – 3

Destino ignorado – 2

Recolhido à cadeia pública – 1

Foi preso para Fernando de Noronha -1

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CRIOULO

Há anotação sobre um único crioulo, conforme a classificação das fichas. Era um alfaiate, que morreu.

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MULATO

As fichas da relação de cabanos presos identificaram como 182 os mulatos.

Profissão

Lavrador –67

Livre – 20

Carpinteiro – 15

Escravo – 15

Sem ofício – 14

Alfaiate – 13

Soldado – 10

Carpina – 5

Marinheiro – 4

Seringueiro – 3

Sapateiro -2

Ferreiro – 2

Ourives – 1

Marceneiro – 1

Aprendiz de carpina – 1

Vaqueiro – 1

Piloto de canoa – 1

Marinheiro – 1

Oficial de pentieiro – 1

Pescador – 1

Negociante – 1

Taberneiro – 1

Destino

Destino ignorado – 84

Morreu –52

Solto – 19

Foi para Pernambuco – 9

Sentou praça no 1º batalhão da brigada de Pernambuco e foi para o Rio –5

Fugiu – 4

Recolhido à cadeia pública – 4

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ÍNDIO

São 369 os presos que constam como índios da relação dos cabanos capturados pela tropa imperial que reprimiu a cabanagem.

Profissão

Lavrador – 201

Sem ofício – 48

Carpinteiro –21

Soldado – 10

Livre – 10

Carpina – 5

Marceneiro – 5

Pescador – 4

Alfaiate – 3

Calafate – 2

Pedreiro – 2

Seringueiro – 2

Negociante – 2

Ferreiro – 2

Trabalha no pesqueiro – 2

Vaqueiro – 2

Canoeiro – 1

Sapateiro – 1

Tambor de milícia – 1

Borrador – 1

Mineiro – 1

Escravo – 1

Torneiro – 1

Cordoeiro – 1

Criado – 1

Parteira – 1

Prático – 1

Destino

Morreu – 201

Destino ignorado – 127

Solto – 13

Sentou praça no 1º batalhão da brigada de Pernambuco que marchou para o sul – 10

Recolhido à cadeia pública – 3

Fugiu – 2

_______________

TAPUIO

Somam 85 os presos que constam como tapuios.

Profissão

Lavrador –36

Livre – 22

Sem ofício – 6

Carpinteiro – 6

Soldado – 3

Pescador – 2

Marceneiro – 1

Alfaiate – 1

Ferreiro – 1

Pintor – 1

Destino

Destino ignorado – 37

Morreu –32

Solto – 7

Foi para o sul – 3

Fugiu – 1

_________________

BRANCO

Somam 241 os presos identificados como brancos.

Profissão

Lavrador – 104

Livre – 27

Negociante – 16

Alfaiate – 10

Sem ofício – 10

Carpinteiro – 9

Marinheiro – 8

Proprietário – 7

Ourives – 6

Caixeiro – 4

Soldado – 3

Criador – 3

Militar (reserva) – 2

Empregado público – 2

Tipógrafo – 2

Marceneiro – 2

Carpina – 2

Promotor público (Manaus) – 1

Estudante de gramática – 1

Enfermeiro – 1

Pescador – 1

Escrivão do crime – 1

Professor de primeiras letras – 1

Capitão – 1

Alferes – 1

Grumete – 1

Taberneiro – 1

Despenseiro – 1

Pintor – 1

Comerciante – 1

Fazendeiro – 1

Administrador – 1

Vaqueiro – 1

Almoxarife – 1

Sapateiro – 1

Padre – 1

Calafate – 1

Escrivão do juiz de paz – 1

Juiz municipal – 1

Destino

Destino ignorado – 96

Solto – 64

Morreu –52

Recolhido à cadeia pública –18

Foi para o Sul (Rio de Janeiro) – 7

Degredado para Fernando de Noronha – 2

PARDO

Os pardos totalizam 224.

Profissão

Lavrador – 106

Livre – 29

Soldado – 11

Escravo – 10

Alfaiate – 10

Carpinteiro – 9

Sem ofício – 7

Sapateiro – 6

Marceneiro – 5

Ferreiro – 5

Taberneiro – 2

Liberto – 1

Tecelão – 1

Calafate – 1

Escrevente – 1

Músico – 1

Ourives – 1

Guarda municipal – 1

Pescador – 1

Canoeiro – 1

Sacristão – 1

Vaqueiro – 1

Militar – 1

Funileiro – 1

Seringueiro – 1

Porteiro – 1

Carpina – 1

Destino

Morreu – 100

Destino ignorado – 88

Solto – 18

Embarcou para Pernambuco – 4

Recrutado para servir no sul – 3

Foi para Fernando de Noronha – 1

Recolhido à cadeia pública – 1

Fugiu – 1

Foi para o Maranhão – 1

___________________

MAMELUCO


Os cabanos classificados como mamelucos somam 231.

Profissão

Lavrador – 135

Livre – 23

Carpinteiro – 14

Sem ofício – 10

Alfaiate – 7

Sapateiro – 4

Ourives – 3

Soldado – 3

Carpina – 2

Artilheiro – 1

Procurador de causa (ou dos auditórios) – 1

Ferreiro – 1

Funileiro – 1

Calafate – 1

Fazendeiro – 1

Pintor – 1

Marceneiro – 1

Pescador – 1

Vaqueiro – 1

Seringueiro – 1

Escravo – 1

Destino

Destino ignorado – 97

Morreu – 80

Solto – 20

Foi para o Sul (Rio de Janeiro) – 12

Recolhido à cadeia pública – 4

Fugiu – 3

Foi para Pernambuco – 1

ACRÉSCIMO

OS QUE FORAM SOLTOS

O primeiro número se refere aos que foram soltos ou que morreram. O segundo, entre parênteses, é o total por raça. Assim: dos 241 brancos presos, 64 foram soltos e 52 morreram.

Branco           64    (241)

Pardo             28    (224)

Preto              22    (105)

Mameluco     20    (231)

Mulato           19    (182)

Índio              13    (369)

Cafuz               9    (142)

Tapuio              7     (85)

Mestiço             3    (19)

Negro                1      (6)

Crioulo              0      (1)

                       _________

                      186  (1.605)

OS QUE MORRERAM

Índio               201 (369)

Pardo              100 (224)

Mameluco        80 (231)

Cafuz                60 (142)

Mulato              52 (182)

Branco              52 (241)

Preto                 34 (105)         

Tapuio               32  (85)