Continuo a publicar a seleção dos principais cabanos presos pela força imperial que combateu a cabanagem. Seus nomes constam da relação nominal dos rebeldes presos em 1836, contida nos códices 972, 973, 974, 1.130, 1.131 e 1.132 do Arquivo Público do Pará. Grifei alguns trechos mais importantes.
Antônio Leal, índio, de 30 anos, lavrador. Na ficha de prisão consta que se reuniu a outros rebeldes “em todos os ajuntamentos para praticarem todas as maldades e barbaridades que se tem cometido nesta Província, desde os acontecimentos de 8 de outubro de 1834 no Acará”. Andou à cata de José Ribeiro de Souza para assassiná-lo. Com esse intento, se uniu, em abril de 1835, a Geraldo Francisco Nogueira. Não encontrando Ribeiro, teria assassinado seu amigo, Crispim José d’Oliveira, em sua própria casa, “reduzindo-o a pedaços ainda semivivo”. Em agosto, participou do ataque e do saque a Belém. Quando as tropas de Andréa entraram na cidade, foi se apresentar ao comandante do rio Acará, “que o despediu em paz, depois de que, em pleno dia, na Fonte da Freguesia do mesmo Acará, a 21 do corrente agosto, ameaçou tirar a vida ao mencionado José Ribeiro de Souza”. Foi preso em agosto de 1836, enviado para a Defensora e em seguida para o hospital. Seu destino ficou ignorado.
Antônio Manoel Sanches de Brito (padre). Pronunciado pelo crime de intentar o assassínio do presidente da província. Remetido para bordo da corveta Defensora em janeiro de 1839, para ser conservado “em camarote da coberta, e incomunicável”. Em abril desse ano foi levado ao tribunal do júri, ficando na cadeia à disposição do juiz de direito do crime da comarca de Belém.
Antônio de Melo Garcia (“Estrela do Norte”), branco, 35 anos, escrivão do crime. Ex-major da extinta Guarda Nacional de Santarém, liderou a rebelião na vila. À frente dos guardas nacionais, que aclamaram o “capataz” Eduardo Angelim presidente da Província, “angariando os povos para a revolta, sendo móvel de todas as desgraças que sofreram as famílias honestas daquela vila, que reclamavam a prisão deste algoz da humanidade”. Preso na Prainha pelo capitão Raimundo Joaquim Pantoja. Foi remetido para bordo da corveta Defensora em dezembro de 1836. Andou pelo hospital e a cadeia pública de Belém. Foi solto em dezembro de 1839.
Antônio dos Santos Vasques. Português, branco, 22 anos, caixeiro. Foi caixeiro de José Agostinho, do Acará. Chegou a Belém quando Eduardo Angelim assumiu a presidência da província. Por saber escrever, tornou-se seu ajudante de ordens. Foi também tenente da 1ª companhia de guardas nacionais dos rebeldes. Remetido para bordo da Defensora em dezembro de 1836. Foi desembarcado dois anos depois, em setembro de 1838, entregue ao ajudante de ordens do presidente, incorporado à tropa e enviado para o Rio de Janeiro.
Baltazar dos Reis Pestana. Tapuio, 40 anos, lavrador. Reuniu gente no igarapé Itapiocana, em outubro de 1834, para atacar de surpresa o 2º comandante da guarda municipal, José Maria Nabuco de Araújo, que Baltazar mesmo assassinou, com mais 6 soldados. Estava preso e foi solto quando ocorreu o ataque de 7 de janeiro de 1835. Acompanhou Eduardo Angelim. Assumiu a chefia do ponto do igarapé Itapiocana, invadiu as fazendas de Joaquim Maciel, proprietário daquele distrito, que assassinaram. Mataram quase todos os proprietários do rio Acará, sua terra natal. Remetido para bordo da corveta Defensora em agosto de 1836, foi para o Hospital Geral e nele morreu em maio de 1839.
Bartolomeu José Vieira Cearense. Cearense, branco, 20 anos, tipógrafo. Declarava-se que matou o filho do marechal Jorge Rodrigues no dia em que os cabanos entraram em Belém. Participou, sob a liderança de Eduardo Angelim, do ataque à Vigia. Foi remetido para bordo em agosto de 1838. E solto em novembro de 1839.
Bernardino José da Costa. Índio, 20 anos, lavrador. Forçou Bernardino de Sena Pastana “a passar Carta de Liberdade” de sua escrava. Preso em Belém e mandado para a corveta Defensora em junho de 1836, onde morreu dois meses depois.
Bernardino de Sena. Preto cativo, 59 anos. Foi preso duas vezes. Na primeira, foi solto pelos cabanos e participou do ataque no dia 7 de janeiro de 1835, quando assassinou as autoridades. Foi solto graças a requerimento da sua senhora, Lina Joaquina de Mello a quem foi entregue, em agosto de 1836.
Boaventura José da Conceição. Mameluco, 29 anos, ourives. Teve uma trajetória movimentada e bem original. Preso em Belém quando Antônio Malcher era o presidente da província, em 28 de janeiro de 1835, foi remetido à disposição do presidente de Pernambuco, de onde seguiu para o Rio de Janeiro. Voltou ao Pará em 9 de abril de 1836, sendo novamente preso pelo comandante das forças navais na ilha de Tatuoca. Passou para a corveta Regeneração como grumete em 23 de outubro de 1836.
Bráulio Fernando. Índio, 20 anos, lavrador. Travou combate em Inhangi com tropa do governo legal, no qual morreram três guardas nacionais e um artilheiro do lanchão, e foram feridos 24 homens da tropa. Prendeu o português Antônio Guerra e José Paz, que o próprio Bráulio teria matado, assim como de haver morto artilheiro e o guarda nacional Crispim dos Anjos. Preso por paisanos julho de 1836, em Inhangapi, foi levado para bordo da Defensora, onde morreu, três meses depois.
Camilo José Moreira (Jacaracanga ou Jararaca). Cearense, mulato, solteiro, 41 anos, sem ofício. Um dos participantes da revolta do Acará. A mando de Antônio Malcher e em companhia de Angelim, teria assassinado o 2º comandante dos municipais permanentes, José Maria Nabuco. Foi também um dos que concorreu para o assassínio das primeiras autoridades da província em 7 de janeiro de 1835. Preso em fevereiro desse ano. Remetido da charrua Carioca para bordo da corveta Defensora em julho. Passou para o Arsenal da Marinha em março de 1839, onde trabalhou até agosto desse mesmo ano. A última informação na sua ficha é de que foi recolhido à corveta Amazonas em abril de 1840.
Cândido Antônio. Soldado que desertou do 4º batalhão de 1ª linha e amotinou o destacamento da ilha de Curuá, assassinando o seu comandante, o tenente João Pereira Alves. Tenteou fugir para o “estabelecimento dos franceses”. Foi preso em Macapá e remetido para bordo da corveta Defensora fevereiro de 1838. Em setembro foi entregue à autoridade civil para cumprir sentença.
Cândido José. Piauiense, mestiço, 20 anos, solteiro, soldado do 4º batalhão de 1ª linha. Preso a bordo da corveta Defensora em março de 1838 por crimes que teria praticado na ilha do Curuá. Em julho, foi ao quartel-general responder a conselho de guerra, sendo recolhido ao calabouço do 5º batalhão. Ainda no mesmo mês regressou para bordo depois de ter respondido ao conselho. Foi intimado da sentença “de pena última” proferida em juízo de justiça militar, em agosto. A partir daí o seu destino ficou ignorado.
Cosme Damião de Brito. Filho do administrador da Fazenda Nacional São Lourenço, Luiz Pereira de Brito, que era cabano. Com seu pai, participou dos roubos no rebanho da fazenda, em Soure. Foi preso com uma porção de gado roubado dias depois da estada da expedição na vila, em setembro de 1836. Teria morrido no hospital volante de Soure, um mês depois.