Os combates em Macapá

Em novembro de 1835, uma expedição de 80 homens foi organizada pelo comandante geral militar da fortaleza de Macapá, Francisco de Nogueira Monteiro e Melo da Silveira. Composta por três barcos, com peças de rodízio de calibre três e seis de base. Com sua guarnição chefiada pelo alferes de guardas nacionais Hilário Alves da Costa, e pelo alferes do extinto corpo de ligeiros Silvério José da Silva, no dia 25, atacou um grupo de 60 revoltosos, que estavam acampados na ilha de Santana, próxima de Macapá.

No seu relatório, Silveira diz que 30 cabanos foram mortos, outros foram feridos e os sobreviventes fugiram às pressas, abandonando os roubos que carregavam, incluindo 13 canoas e um batelão, pertencente a Armando José de Oliveira e Souza, com 150 alqueires de farinha.

O comandante mandou dividir a farinha pelos guardas. As canoas foram levadas a hasta pública. O dinheiro arrecadado foi dividido “pelos defensores da legalidade, que têm marchado nessas importantes diligências”.

Ao saber que algumas canoas da vila de Macapá, que tinham ido a negócio a Gurupá, mas não podiam descer o Amazonas, porque os trajetos nessa área estavam “infestados de salteadores”, o comandante determinou ao ajudante Francisco Pereira de Brito embarcasse, com 25 guardas, no barco Santa Maria, para comboiar as embarcações.

Na volta, duas das canoas se distanciaram do barco que as protegia, caindo em poder dos salteadores, “sem que o ajudante lhes pudesse fazer fogo de bordo por causa de não afundar a sua gente”. Às proximidades de Mazagão, para onde fora em busca de auxílio, o ajudante se encontrou com o tenente Manoel da Silva Galat, comandante do barco S. José. Com 42 guardas, em duas barcas vigilengas, o tenente rumou para o lugar onde estavam as duas canoas roubadas.

A tropa fez o desembarque em terra, “rompendo fogo de dentro do barco”, fazendo os rebeldes fugirem “precipitadamente”. Morreram cinco deles e outros ficaram feridos. Não houve morto ou ferido entre os atacantes.

No dia 17 de dezembro, Silveira despachou os barcos Santa Maria e S. José, com 89 guardas a bordo, sob o comando dos guardas nacionais da vila, Manoel da Silva Galat, e o alferes ajudante da praça, Francisco Pereira de Brito, atrás de uma reunião de no mínimo de 105 cabanos na ilha Vieirinha.

A tropa chegou ao local no dia 20 de dezembro, desembarcando às quatro horas da madrugada, com 60 guardas, divididos em escoltas para cercarem a ilha. Os dois barcos passaram a disparar bala rasa para desfazer a trincheira dos rebeldes em uma das pontas da ilha. Os disparos cerrados duraram duas horas, matando 31 dos rebeldes e ferindo outros. Na força legal, um guarda foi morto e cinco feridos.

Os ranchos e trinta casas dos rebeldes foram incendiados. Tudo que roubaram foi retomado, incluindo quatro canoas de dois mastros pertencentes aos negociantes de Macapá e Mazagão. Mais 30 montarias, três escravos presos em troncos e três tapuios prisioneiros, “que depuseram as armas na ocasião do fogo”. Foram encontrados 200 alqueires de farinha, que estavam escondidos no mato.

O comandante da expedição trouxe correspondência e a proclamação “de um tal cafuz intitulado tenente coronel Manoel Pedro dos Anjos do Muaná, capataz das quadrilhas”. E também a bandeira “de que se servem para roubar e matar”.

Silveira requer a Andrea publique elogio aos oficiais e guardas que atuavam no patrulhamento da área, que considera merecedores dessa distinção “para exemplo dos fracos e covardes, que têm largado os punhais aos assassinos para os cravar na sua própria Pátria”.

Também se refere aos relevantes serviços que alguns comerciantes e cidadãos estavam prestando ao Império “nesta melindrosa crise, que não devo deixar em silêncio”. Cita:

– Negociante Procópio Antônio Rola, que “prestou-se com o seu barco S. José, saído do estaleiro para se artilhar e cruzar nos subúrbios desta praça e vila”.

– Cidadão Raimundo Maciel Parente, que fez o mesmo com seu barco Santa Maria.

– Cidadão Amado José de Oliveira, que emprestou seu barco artilhado “e pronto de tudo, à sua custa, para o mesmo fim”.

Além destes empréstimos, Silveira ressalta os donativos gratuitos:

– Do cidadão Hilário Alves da Costa, “com as suas canoas vigilengas para as continuadas diligências do serviço, além de muitos outros donativos gratuitos.

– Manoel Gonçalves de Azevedo, que ainda mandou fazer, à sua custa, patronas e cinturões para todos os guardas.

– Antônio Tavares Rego, que “tem composto todo armamento à sua custa, além de muitos outros donativos gratuitos”.

O comandante confirma a chegada de um tenente, um sargento e 12 peças do 5º batalhão de caçadores, enviados por Andrea para se juntarem ao destacamento. Mas alguns “chegaram em tal estado de nudez que não têm feito serviço”. Pediu que o comandante do batalhão remetesse “o seu fardamento com toda a brevidade”.

(Códice 532, de 1836, correspondência do comandante da fortaleza de Macapá com o general Andrea)

Um comentário sobre “Os combates em Macapá

  1. ricardoconduru 4 de fevereiro de 2023 / 15:06

    Os acontecimentos relatados foram publicados no jornal Echo do Norte, número 23, de 1836.

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