O exército e a cabanagem

O texto a seguir está publicado no site oficial do Exército. Ele traduz a visão militar da cabanagem, com uma abordagem que se aplica ao passado a partir de conceitos de hoje. É uma abordagem técnica, mas também ideológica, que revela uma interpretação própria da instituição militar sobre os acontecimentos da época, vistos pelo poder central, estabelecido na capital do país, o Rio de Janeiro, muito distante do Grão Pará.

Grifei dois trechos que mais fielmente expressam o pensamento oficial do período. E, em boa medida, o de hoje também.

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O movimento conhecido como Cabanagem desenvolveu-se no Grão-Pará; os episódios principais deram-se na cidade de Belém e nos sertões de Acará e de Cametá.

Os grandes espaços e a fisiografia hostil dificultaram o conhecimento da área norte do país e a civilização ficou restrita às margens dos cursos d’água. O clima equatorial, quente e úmido, e a vegetação exuberante, dificultando os movimentos por terra, constituíram outros fatores que restringiram a conquista da região.

As ligações difíceis e demoradas com a capital do país levaram os portugueses a pretender, mesmo depois da Independência, manter o controle da área.

A foz do Amazonas apresenta especial importância para o controle da região; os conquistadores compreenderam isto e procuraram construir ali fortificações e estabelecer povoações que garantissem a manutenção do domínio.

A segurança de Belém e das vilas próximas era motivo de preocupação para o Império, tanto quanto o extremo sul, em razão dos interesses estrangeiros.

A população da Província, em meados de século XIX, era de cerca de 150 mil pessoas e constituída basicamente de mestiços e índios, com participação minoritária de brancos e negros. O mestiço, descendente de branco e índio, era o elemento ativo na vida provincial, caracterizando-se por seu temperamento calmo e franco e por sua devoção religiosa.

As condições de vida tornaram-no desconfiado, obstinado e deram-lhe sobretudo um sentimento de frustração ante o colonizador português, conquistador vitorioso, envolto em privilégios na ordem política e social e cheio de desprezo pela população local; membro da minoria espoliadora capaz apenas de ver interesses pessoais e lucros financeiros.

As relações entre o nativo da região e o português eram tensas e os pontos de vista antagônicos e inconciliáveis.

Notícia da abdicação chega a Belém

As dificuldades de comunicação retardaram sobremodo a chegada de notícias da capital do Império à distante Província do extremo norte brasileiro. A notícia sobre a resolução de D. Pedro I que abdicava em favor do filho conheceu-se em maio, causando grande excitação popular a esperança de que viriam melhores dias com o afastamento dos lusitanos.

Agitou-se principalmente a Câmara Municipal de Belém, e o Cônego João Batista Gonçalves de Campos solicitou o afastamento do Comandante das Armas, Brigadeiro Francisco de Sousa Soares Andréa, por considerá-lo ligado aos interesses lusitanos, mas não conseguiu obter seu intuito. Os portugueses, inconformados com a derrota e vendo seus interesses ameaçados, procuraram por todos os meios a manutenção dos cargos, buscando, inclusive, o apoio da tropa.

Rebelião do 24º Batalhão de Caçadores (BC)

Insufladas por elementos nativistas, as praças de 240 BC, que então tinha sede em Belém, revoltaram-se a 2 de junho de 1831 contra os superiores e o governo local, exigindo sua renúncia. A ação imediata do Comandante das Armas, reunindo as unidades fiéis e adeptos civis, abortou o movimento, trazendo grande desalento às forças nativistas. A indisciplina, porém, persistiu, levando o governo provincial a aceitar a proposta de um português, Marcos Rodrigues Martins, para criar um corpo de guardas.

Deposição do Visconde de Goiana

A Regência, em abril, determinou a substituição do Presidente da Província e do Comandante das Armas. O fato trouxe novas agitações ao Pará devido à pressão exercida pelos reinóis no sentido de que o Barão de Itapicuru-Mirim (Tenente-Coronel José Félix Pereira Pinto Burgos) permanecesse no cargo, evitando que assumisse o governo, temporariamente, o Cônego Batista de Campos, substituto legal.

Finalmente, em 16 de julho, chegaram as novas autoridades nomeadas. Eram o Dr. Bernardo José da Gama, Visconde de Goiana, Presidente, e o Coronel José Maria Silva Bitencourt, Comandante das Armas. Ambos eram brasileiros natos e conquistaram logo a simpatia dos nacionalistas, mas o Coronel Bitencourt deixou-se envolver pela política local, particularmente pelos lusos, e o Visconde de Goiana, aos poucos, viu-se desprestigiado, notadamente por sua postura liberal.

As provocações lusas envolveram a tropa e, em agosto, os distúrbios se agravaram. As unidades militares rebeladas, com a conivência do Comandante das Armas, exigiram a renúncia do Presidente, que, com 18 dias de governo, embarcou para o Rio de Janeiro na fragata Campista, tendo os rebeldes colocado no governo o Dr. Marcelino José Cardoso, o mais antigo dos conselheiros, que determinou o exílio de vários nacionalistas, entre eles o do Cônego Batista de Campos (para São João do Crato), a quem de direito cabia o governo da Província.

Sangrento 16 de abril

A necessidade de providências enérgicas no norte do país obrigou a Regência a escolher um liberal de grande talento e ideias avançadas – Coronel José Joaquim Machado de Oliveira – para a presidência da Província, o qual, com o objetivo de pacificar os ânimos, autorizou o retorno dos exilados pelo governo anterior, inclusive o Cônego Batista de Campos.

Ao retornar do exílio, o sacerdote publicou um manifesto proclamando um governo autônomo, com a divisão do Grão-Pará em duas administrações distintas.

Os meses finais de 1832 e os primeiros de 33 foram sombrios para a Província. As disputas políticas locais ampliaram-se com a nomeação dos novos Presidente e Comandante das Armas, respectivamente o Desembargador José Mariani e o Tenente-Coronel Inácio Corrêa de Vasconcelos, ambos identificados com os restauradores, apelidados de caramurus.

A agitação culminou com violentos atritos entre liberais e conservadores, aqueles por insistirem em manter no poder Machado de Oliveira, estes para que Mariani assumisse. Mais uma vez as Forças Armadas foram envolvidas. A maioria das unidades colocou-se ao lado das ideias nacionalistas, defendidas pela corrente liberal, apoiando Machado de Oliveira, que, insistentemente, procurava solução legal para o impasse.

Os liberais, no entanto, não aceitavam conciliação com os retrógrados caramurus, e estes encabeçaram violenta reação, buscando o apoio da Marinha de Guerra, particularmente em armas e munição. A situação era difícil. A custo Machado de Oliveira mantinha a ordem na tropa. As violências e ameaças dos caramurus contra os liberais levaram-no a acatar a decisão da Câmara Municipal, a qual determinava que se informasse à Regência o estado de coisas.

As forças terrestres compunham-se do 16º BC, do 5º Batalhão de Artilharia de Posição, de uma Companhia de Guardas Municipais (com 100 homens) e de um Batalhão da Guarda Nacional (com quatro companhias na capital e quatro no interior).

Os caramurus, inconformados, defenderam a posse do novo Presidente pelas armas e, em sucessivas reuniões, instaram junto a ele para que assumisse o poder à força.

Por fim, a 16 de abril estourou o conflito, envolvendo os líderes portugueses chefiados por Afonso Jales, e as autoridades provinciais. A população amedrontada, no início do tiroteio, procurou proteção no 25º BC. O Presidente, à frente dos habitantes locais, dominou a rebelião.

Diante dos fatos ocorridos e atendendo à solicitação da municipalidade Machado de Oliveira permaneceu no cargo até 4 de dezembro, sendo substituído por Bernardo Lobo de Sousa. Por Carta imperial de 5 de setembro de 1833 foi nomeado Comandante das Armas o Coronel Joaquim Silva Santiago.

O novo Presidente Lobo de Sousa iniciou a administração de forma conciliadora, publicando o decreto regencial que anistiava todos os envolvidos em comoções políticas. Reintegrou ao serviço público vários elementos suspensos. A par dessas medidas, procurou sanear a vida pública com o pagamento pontual à tropa, com a reforma e construção de estradas, com melhoria do abastecimento e com a moralização na cobrança de impostos. No âmbito militar, recompletou as unidades mediante recrutamento de novos contingentes. Estes fatos provocaram descontentamento.

Apesar das acertadas providências do governo Lobo de Sousa, um grupo liderado pelo Cônego Batista de Campos, que já se indispusera com o Presidente, começou a conspirar na capital e no interior, conseguindo aproximar-se do antigo adversário, Coronel Félix Antonio Clemente Malcher, oficial de segunda linha, proprietário de uma próspera fazenda na localidade de Acará, onde gozava de grande prestígio.

Juntamente com outros elementos influentes, os insurgentes tramaram a derrubada do Presidente. Reuniram armas e munições e arregimentaram adeptos para a revolução, destacando-se Eduardo Francisco Nogueira (o Angelim) e os irmãos Vinagre – Francisco Pedro (Tenente do 1º Batalhão da Guarda Nacional), Antônio, Raimundo, Manoel e José. O movimento alastrou-se pelas redondezas e o governo provincial, preocupado com os boatos, determinou a organização de uma expedição militar para pacificar o vale de Acará.

A 19 de outubro de 1834, o Major José Nabuco de Araújo iniciou o deslocamento da força, embarcando em navio da Esquadra. O destacamento atingiu a fazenda Vila Nova e antes da chegada dos reforços o Presidente foi surpreendido, na madrugada de 22, por um grupo de revoltosos chefiados por Francisco Pedro Vinagre e Angelim que assassinaram o major e três homens.

O insucesso e os boatos de que os revoltosos se dirigiam para a capital fizeram com que o governo aprestasse a defesa da cidade, determinando ao Coronel Sebastião de Melo Marinho Falcão, comandante da Guarda Nacional, que enfrentasse os sediciosos. Estes, ao comando de Malcher, dos irmãos Vinagre, de Angelim e outros, ultimavam a arregimentação dos caboclos para marcharem todos sobre a capital, a fim de depor as autoridades provinciais.

Organizou-se nova expedição de forças legais sob o comando de Marinho Falcão, com grandes dificuldades pois os guardas nacionais insubordinaram-se e negaram-se a integrar a coluna. Contornados os empecilhos, a expedição partiu para a região e, depois de sofrer uma emboscada em que morreu o comandante, atingiu a fazenda Acará-açu, abandonada pelos correligionários de Malcher.

O comandante da expedição naval, Capitão-de-Fragata James Inglis, assumiu a direção das operações. Mandou atear fogo às construções vazias e determinou que as patrulhas vasculhassem a região, sendo presos Malcher, Raimundo Vinagre e outros. Manuel Vinagre foi morto. O Cônego Batista Campos permaneceu foragido, acobertado pela população e pelas autoridades locais, vindo a falecer, de enfermidade, a 31 de dezembro do mesmo ano.

Apreensivo com a segurança de Belém, o governo provincial decretou o recrutamento de mais um contingente de guardas nacionais, adquiriu material bélico, reformou as fortificações e fez recolher o armamento em poder da população.

Belém em poder dos Cabanos

A chama da rebelião, no entanto, não se apagara. Apesar de morto o Cônego Batista Campos, os seguidores não interromperam o aliciamento de partidários, particularmente entre os guardas nacionais e entre os cabanos, que eram pessoas humildes, assim chamadas em virtude das choupanas rústicas que habitavam.

O governo local não acompanhou de perto a evolução do movimento, que contava com a participação de militares. A 7 de janeiro de 1835, os rebeldes invadiram Belém, chefiados por Antônio Vinagre e por João Miguel de Sousa Aranha, e dirigiram-se ao quartel do Batalhão de Caçadores, ao quartel da tropa de artilharia e ao Palácio do Governo. Os revoltosos assassinaram o Comandante das Armas Major Joaquim Silva Santiago, o Presidente Lobo de Sousa (morto pelo cabano Domingos Onça) e o Comandante da Força Naval James Inglis.

Os cabanos, vitoriosos, retiraram Malcher da prisão e o aclamaram Presidente da Província. Ofuscado pelo mando, Malcher entrou em conflito com os irmãos Vinagre e Nogueira, ocorrendo entre eles luta armada às 11 horas do dia 19 de fevereiro de 1835, da qual saíram perdedores os partidários de Malcher. Este conseguiu refugiar-se a bordo da brigue Cacique e persuadir a guarnição a atirar contra a cidade.

Diante da resistência dos que se encontravam em terra, resolveu-se negociar a paz. Ficou acertado que Francisco Pedro Vinagre assumiria a Presidência da Província, sendo em seguida reconhecido pela Câmara Municipal. A seguir, combinou-se a transferência de Malcher, a bordo do Cacique, para a Fortaleza da Barra. Nesse percurso o cabano Quintiliano Barbosa matou-o com um tiro no peito.

Francisco Pedro Vinagre estabeleceu, de imediato, medidas capazes de fortalecer o seu dispositivo, aumentou o número de guardas permanentes para três companhias e designou elementos de confiança para o comando da força. Tomou logo providências para que as tropas fossem pagas e para que os cabanos fossem desarmados. A 16 de março deu conhecimento à Regência sobre os acontecimentos em Belém.

A guarnição da Marinha manteve-se em expectativa, já que Vinagre inspirava sérias preocupações. A oficialidade da Armada dirigiu-se ao Presidente do Maranhão, dando ciência da evolução dos acontecimentos no Pará.

Vinagre tentou com insistência desarmar os navios de guerra, mas foi sempre repelido pelos oficiais, que aguardavam em seus postos as providências dos escalões superiores para o restabelecimento da ordem pública.

A solicitação dos oficiais ecoou de forma positiva no Maranhão. O Presidente da Província organizou uma expedição naval sob o comando do Capitão-Tenente Pedro da Cunha, que partiu a 12 de abril para Belém. Ela foi calorosamente recebida e o seu comandante logo conseguiu o adequado aparelhamento de todos os vasos de guerra.

Tentativas de Pedro da Cunha para pacificar a Província

Chegando ao Pará, Pedro da Cunha iniciou gestões junto ao chefe cabano para a pacificação da Província e a reimplantação da lei e da ordem. Por reconhecer, talvez, a inferioridade e inadequação das forças para uma ação imediata, procurou entender-se com os rebeldes através de correspondência, por vezes cortês, por vezes amarga.

Com o passar do tempo, Francisco Pedro Vinagre verificou que os que o cercavam não estavam dispostos a entregar o governo ao substituto legal, o deputado mais votado, Dr. Ângelo Custódio Correia. Se de um lado o Presidente cabano desejava assegurar a defesa de Belém, de outro o Capitão Pedro da Cunha buscava o apoio da população, que começou a procurar refúgio nos navios de guerra. Foram para lá até mesmo oficiais da Força Terrestre.

Contando com o apoio da Esquadra, de um pequeno número de elementos do Exército, dos guardas nacionais e de muitos civis, o Dr. Ângelo Custódio tentou o desembarque para tomar a capital. O Tenente-Coronel João Henrique de Matos foi designado para a missão, mas foi contrário à sua execução, depois de verificar os meios em pessoal e em material com que poderia contar.

Foi então convocado um conselho de guerra, que resolveu indicar o Major João Roberto Aires Carneiro para comandar a operação, no dia 12. Carneiro não obteve sucesso. A tropa foi repelida com grandes perdas em pessoal e material, além de sérias avarias nos navios.

Vitória efêmera das forças legais

Os acontecimentos no Pará ressoaram na capital do Império e o Ministro da Guerra José Félix Pereira Pinto Burgos foi criticado no Parlamento por causa da situação das forças terrestres na área. Na verdade, as dificuldades eram de grande monta. Impunha-se reorganizar e reequipar o Exército de forma a obter disciplina e eficiência, tornando-o apto a manter a ordem interna e a integridade nacional.

As autoridades tinham problemas em toda parte e pareciam relegar a segundo plano o caso da longínqua Província que dia a dia mergulhava mais fundo no caos, levada de um lado pela falta de visão dos governantes centrais e de outro pelas ambições políticas locais.

O Marechal Manuel Jorge Rodrigues foi nomeado Presidente da Província e Comandante das Armas a 10 de abril de 1835. Embarcou a bordo da fragata Campista, comandada pelo Chefe-de-Divisão John Taylor, incumbido de chefiar as forças navais; levava um contingente de 50 homens com material bélico.

As novas autoridades chegaram a Belém em 9 de junho e grande número de pessoas, inclusive cabanos, apressou-se em cumprimentá-los a bordo. Vinagre, premido pelas circunstâncias, manifestou o interesse de transmitir o cargo, alegando retê-lo a contragosto. Realmente parecia disposto a renunciar, apesar da resistência dos que o cercavam, temerosos de represálias do Presidente, que era português de nascimento.

Finalmente a 25 de junho, após várias conferências, o Presidente recebeu o governo e a cidade entrou em festa. De imediato foram tomadas providências para a pacificação. Substituíram-se as tropas cabanas por forças legais nas diversas unidades.

A situação dos corpos de tropa era precária. A munição e o armamento em poder dos cabanos não foram restituídos, conforme havia sido combinado, mas sim levados clandestinamente para o interior. O armamento devolvido, em pequena quantidade, estava imprestável e a munição era muito reduzida. As forças legais dispunham de 500 a mil homens, incluindo a força naval, computados os 17 soldados do 5º Corpo de Artilharia, os 45 do 4º BC e os 18 do 5º BC, incorporados na substituição de governo. Os cabanos ficaram com aproximadamente 3 mil armas, inclusive canhões. A fim de atender às necessidades urgentes de segurança criou-se um corpo de voluntários, que foi denominado Voluntários de D. Pedro II.

Retomada de Belém

As tentativas do Presidente de levar ordem aos cabanos e integrá-los à família provincial não lograram êxito. Antônio Vinagre, à frente de numeroso grupo de cabanos, tomou o rumo do sertão; possuíam armas e munições. Concebeu o plano de invadir o município de Vigia e o executou de surpresa, sacrificando muitos inocentes. Os vereadores e outros principais do município refugiaram-se no Trem de Guerra (depósito).

Senhor da situação, Antônio Vinagre exigiu a rendição, que aceitaram mediante promessa de respeito às suas vidas. Tão logo puseram-se fora do refúgio, uma descarga dos cabanos os liquidou. O sacrifício dos inocentes revoltou a opinião pública e o governo ordenou a prisão de Francisco Pedro Vinagre e de outros chefes cabanos que permaneciam despreocupados na capital. As severas medidas irritaram os rebelados, e os chefes que escaparam às medidas punitivas – Antônio Vinagre, Eduardo Nogueira (Angelim), e Geraldo Nogueira, irmão de Angelim e conhecido como Gavião graças a seu temperamento feroz, temido até pelos próprios cabanos – determinaram represálias e a retomada de Belém.

Novamente a cidade transformou-se em praça de guerra. Os poucos recursos disponíveis impediram uma ação ofensiva capaz de exterminar os grupos sediciosos e operar em conjunto com a força naval, no interior da Província.

No início de agosto de 1835, Antônio Vinagre intimou o Marechal Manuel Jorge Rodrigues a libertar seu irmão e os demais cabanos, sob pena de invadir a cidade com 3 mil homens. A 14 de agosto a promessa foi cumprida. Os cabanos organizaram-se em três colunas e dirigiram-se à capital.

No fim do primeiro dia de combate, os rebeldes tomaram parte da cidade, tendo morrido Antônio Vinagre. Destacou-se na luta o Capitão Joaquim Rodrigues de Andrade, que defendeu com bravura o Arsenal de Guerra. A 22 de agosto, a situação estava insustentável devido às perdas sofridas pelas forças legais que estavam praticamente sitiadas.

Um conselho de guerra apresentou a sugestão de que o Presidente devia retirar-se com a tropa e com alguns civis para bordo da Esquadra. Após relutar, o Marechal acabou concordando e, na madrugada do dia seguinte, realizou-se a operação, com sucesso. O governo estabeleceu-se na ilha de Tatuoca, iniciando-se o bloqueio dos portos.

Eduardo Nogueira, o Angelim, de apenas 21 anos, a 26 de agosto foi aclamado terceiro Presidente cabano e começou desde logo a enfrentar sérias dificuldades para manter a disciplina: campeava a desordem e os saques eram frequentes. Em setembro, o governo central tomou várias providências para facilitar a ação das autoridades civis e militares da Província. As tropas foram reorganizadas e começaram a intranquilizar os cabanos que enfrentavam dias difíceis devido à incapacidade dos chefes, ao bloqueio naval e aos graves desentendimentos dentro de seus quadros.

Reforços, finalmente

Os primeiros contingentes expressivos para combater os sediciosos chegaram em dezembro de 1835. Eram dois batalhões de caçadores e uma companhia de artilharia sob o comando do Major Joaquim José de Sousa. Traziam também gêneros e material bélico, em boa quantidade. Além desses meios, uma coluna de 100 homens enviada do Ceará começou a agir na região de Turiaçu. Em Mazagão também se preparou uma expedição de 400 homens sob o comando do Capitão João da Nóbrega. Em janeiro de 1836 juntou-se a tropa do Major Monterojo, estruturada no ano anterior, em Macapá, com um contingente de 120 milicianos.

Dispondo de tropas preparadas para operações terrestres e contando com o auxílio da força naval, o Marechal Manuel Jorge Rodrigues encetou vitoriosas incursões contra os focos cabanos, no interior. Os rebeldes foram vencidos em Chapéu Virado, Colares, Vigia, Curuçá e Vieira Vale.

General Andréa

Em novembro de 1835, o governo central nomeou o Brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa e o Capitão-de-Fragata Frederico Mariaht em substituição ao Marechal Rodrigues e ao comandante John Taylor, respectivamente. Os novos chefes receberam reforços em pessoal e mais alguns vasos de guerra e assumiram suas funções a 9 de abril. Trazendo eficiente equipe, Soares de Andréa iniciou a reorganização dos efetivos de que dispunha, 1.500 homens, dos quais aproximadamente 500 se achavam guarnecendo as posições de onde os cabanos haviam sido desalojados.

O novo Comandante das Armas determinou o máximo sigilo na preparação da tropa, evitando qualquer ligação com elementos locais. Prosseguiu com as expedições aos diferentes pontos de reunião dos amotinados, conseguindo obter várias vitórias, e estabeleceu operações conjuntas com a Esquadra, a partir dos limites com o Maranhão. Foram retomadas as vilas de Vizeu, Bom Intento, São Domingos e outras localidades.

Isolados e enfrentando grandes dificuldades em Belém, sem dispor de alimentos e munições, com sérias divergências entre os subordinados, Angelim e outros chefes decidiram oficiar ao Brigadeiro Andréa propondo anistia para todos os cabanos, inclusive os presos. Uma carta do bispo da cidade reforçou a solicitação.

Andréa, ciente da fraqueza, aceitou o diálogo, afirmando, no entanto, não ter competência para tomar tais medidas, prometendo, porém, propô-las à Assembleia Geral. Acrescentou que cumpria ordens rigorosas do governo para pacificar a Província. Sugeriu aos rebeldes que abandonassem a cidade e se estabelecessem em local predeterminado, até a decisão da causa.

Em entendimentos subsequentes escolheu a fazenda do Carapiru para a permanência provisória dos cabanos, responsabilizando-se por deixá-los passar levando o que bem entendessem, devendo apenas o chefe apresentar a relação das pessoas que o acompanhavam e a data do movimento. O local desagradou aos cabanos, pois previram as dificuldades que ali teriam e as vantagens que a tropa legalista obteria sobre eles.

Andréa, por outro lado, manteve-se firme, informando que dessa forma as coisas permaneceriam como antes. A ameaça de os revoltosos incendiarem Belém não mudou sua posição de intransigência, fato que levou o pânico aos bandos rebeldes. Estes lançaram então uma proclamação determinando o abandono da capital e a reunião no interior, mas prometendo voltar a sitiar Belém caso não se aprovasse a anistia. Foi repelida uma nova exigência feita a Andréa, afirmando o Brigadeiro que a retirada de Belém deveria ser tratada com mais pormenores. A par disso preparou-se a operação de retomada da cidade pelas forças legais.

Belém definitivamente tomada

Decididos a abandonar a cidade, os rebeldes abriram fogo contra um navio em Pedreira, na madrugada de 13. Determinou-se então o desembarque das forças legais, com o apoio de intenso fogo naval. Os insurretos, utilizando um sem-número de pequenas embarcações dirigiram-se em tumulto para seus locais costumeiros de abrigo, perseguidos pelas embarcações da Marinha. O chefe Angelim refugiou-se no vale do rio Acará. As forças legais iniciaram a limpeza da cidade e a reorganização da vida administrativa da Província.

Árdua perseguição aos cabanos

A retomada de Belém trouxe novo ânimo às autoridades governamentais que estavam empenhadas na operação mais demorada – livrar a população dos saques de grupos rebeldes que infestavam o interior, inclusive Marajó. No interior, o cabano sentia-se à vontade e, muitas vezes, contava com o auxílio do povo, por coação ou por identidade de propósitos. Somavam-se a este fato as condições hostis do meio físico que dificultavam a operação das unidades legais.

Conhecedor dos problemas da região, Andréa solicitou ao governo central os meios necessários ao restabelecimento da normalidade na Província, buscando com providências acertadas promover a prosperidade local. Com tropas insuficientes, em número e qualidade, com equipamento e armamento deficiente e necessitando de barcos a vapor para aumentar a mobilidade das forças, mesmo assim lançou-se contra os derradeiros focos subversivos.

Iniciou o reconhecimento e a busca de informações sobre as concentrações rebeldes, sabendo assim que o principal grupo, comandado por Angelim, se estabelecera em Turi, às margens do Acará; em Marajó, bem como em Breves, em Almeirim e em outras localidades do Baixo Amazonas os guerrilheiros haviam sido batidos.

Organizaram-se várias expedições que obtiveram sucesso, como em Moju e Boca do Acará, por exemplo, sem, contudo, conseguir eliminar Angelim e o numeroso grupo. O lento desenrolar destas operações preocupou o governo provincial, levando-o a reclamar junto ao Ministro da Guerra o estabelecimento de prefeituras militares, de comandâncias e de subcomandâncias em várias localidades (como Rio Negro, Santarém e outras) e o envio de oficiais superiores para a Província. Em agosto, os insurretos foram derrotados em Marajó, novamente, e na vila do Rio Negro, em operações combinadas com a Esquadra. A vila de Oeiras foi retomada.

Prisão de Angelim

Em fins de agosto e no princípio de setembro chegaram informações sobre o grupo de Angelim, homiziado em Acará e reforçado com elementos de Félix Gonçalves e Manuel Maria. Seguindo instruções do Presidente, as forças legais montaram uma operação conjunta para exterminar de vez os sediciosos. Cuidadosamente planejado e executado, o envolvimento dos cabanos ocorreu no vale do rio Pequeno, nas proximidades do lago Porto Real, onde Angelim e outros chefes foram aprisionados, a 20 de outubro de 1836. A operação infligiu grandes perdas ao movimento, sendo que muitos de seus membros desertaram.

Prolongada pacificação

As operações de limpeza continuaram. Em dezembro Santarém foi retomada. Novas preocupações passaram a afligir as autoridades provinciais em 1836 – o apoio emprestado aos revoltosos pelos franceses. De fato, como a França reivindicava grande parte do território setentrional da Província do Grão-Pará, uma possível sucessão só poderia favorecer as pretensões francesas. A Cabanagem, por isso, representou um sério perigo para a integridade nacional.

No decorrer dos anos de 1837 e 38 prosseguiram as operações contra os derradeiros focos rebeldes, em plena desintegração. O Brigadeiro Andréa, em abril de 1839 transmitiu o cargo ao novo Presidente nomeado, Dr. Bernardo Sousa Franco, paraense filiado à corrente liberal e que procurou obter a conciliação, embora prosseguissem as operações militares. Apesar de conseguir anistia para os sediciosos, estes continuaram a agitar o interior da Província.

Em fevereiro de 1840 assumiu a presidência o Dr. João Antônio de Miranda. Dotado de espírito conciliador, conseguiu desativar inúmeros focos, incorporando os cabanos à comunidade paraense e incentivando as atividades econômicas.

O início do governo pessoal de D. Pedro II abriu uma era de paz e prosperidade para a nação. O Grão-Pará estava inteiramente pacificado, graças aos esforços das forças legais.

21 comentários sobre “O exército e a cabanagem

  1. ricardoconduru 10 de outubro de 2021 / 23:05

    BLOG CABANAGEM REDESCOBERTA

    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Taquerinha e Bararoá, os Bárbaros

    Jornal “A Pátria Paraense”, nº 85, de 7 de outubro de 1894, folha 2, publica trechos do livro de Bento Aranha “adaptado à inteligência infantil”, do qual destacamos o trecho que trata da Cabanagem na região compreendida atualmente pelo Estado do Amazonas, em que o autor cita as atrocidades praticadas por Taqueirinha e Bararoá contra os rebeldes.

    A ESCOLA DO POVO

    PRIMEIRAS LIÇÕES

    PRIMEIRO LIVRO DE GEOGRAFIA

    Método de Smith

    Tradução do seu primeiro livro, bastante aumentado e adaptado à inteligência infantil e ao uso das escolas do Brasil, especialmente as do Pará, Amazonas, Mato Grosso e Goiás.

    POR BENTO ARANHA

    Lição CCCXXXVI

    – Quando se sentiu na região compreendida atualmente pelo estado do Amazonas o efeito da cabanagem de 1835 do Pará?

    – Em 1837 e 1839, durante os quais, Taqueirinha e Bararoá praticaram as mais horrorosas, bárbaras e canibais ações em nome da legalidade contra os rebeldes, foram mais humanos do que agora, depois da proclamação da república, tem sido em toda a nação, com autorização do vice-presidente do Rio Grande do Sul, Pernambuco e Amazonas com a do respectivo governador, para com os adversários da má política deles.

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  2. ricardoconduru 11 de outubro de 2021 / 15:19

    BLOG CABANAGEM REDESCOBERTA

    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Falecimento do Coronel Pedro Bitencourt em Cametá em 1885

    Jornal “O Liberal do Pará”, nº 209, de 17 de setembro de 1885, folha 3, publica nota sobre o falecimento do coronel Pedro Miguel de Moraes Bitencourt em Cametá, combatente da causa da legalidade nos tempos da cabanagem.

    Falecimento. – Faleceu em Cametá em idade avançada e alquebrado de forças o coronel Pedro Miguel de Moraes Bitencourt, coletor aposentado, liberal e cidadão estimado.

    Na triste quadra da cabanagem prestou relevantíssimos serviços à causa da legalidade.

    Membro de uma família antiga e ilustre, foi genro do dr. João Maria de Moraes, começando a declinar a olhos vistos quando perdeu a esposa, que tanto idolatrava.

    Seus últimos dias foram amargurados por uma questão de interesse, provocada por sua sogra.

    Apesar de tantos dissabores fechou a sua longa existência dando a liberdade a todos os seus escravos.

    A toda a sua família nossas sinceras condolências.

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  3. ricardoconduru 11 de outubro de 2021 / 15:23

    BLOG CABANAGEM REDESCOBERTA

    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Falecimento do Capitão José Maria de Oliveira em Cametá em 1886

    Jornal “A Constituição: Órgão do Partido Conservador”, de Belém do Pará, nº 220, de 26 de setembro de 1886, folha 1, publica sobre o falecimento em Cametá do capitão José Maria de Oliveira, que havia prestado serviços à causa da legalidade durante a cabanagem.

    Falecimento

    Na cidade de Cametá, onde se achava a passeio, faleceu repentinamente na avançada idade de 83 anos, o nosso dedicado e prestimoso amigo, chefe em Almeirim, capitão José Maria de Oliveira, abastado e importante fazendeiro naquela localidade.

    O ilustre finado era descendente da distinta família Rodrigues Vieira, de Cametá, e prestou relevantes serviços à causa da legalidade na revolução denominada cabanagem.

    Damos a s. Exma. Família e particularmente aos nossos distintos amigos Exmo. Barão de Gurupá e Manoel da Cunha Flexa, promotor público da comarca de Gurupá, os nossos sentidos pêsames.

    Paz a sua alma.

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  4. ricardoconduru 12 de outubro de 2021 / 13:22

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Crianças acusadas de chefiar rebelião são enviadas presas para Portugal

    Jornal “Diário do Governo”, de Portugal, nº 30, de 5 de fevereiro de 1822, folha 4, informa sobre a prisão de três crianças do Grão Pará, acusadas de serem chefes de rebelião.

    CORTES – Sessão 294ª. – 4 de fevereiro

    (Presidência do Sr. Serpa Machado)

    (…)

    O Sr. Ferreira da Silva fez uma indicação para que se diga ao governo, que faça soltar três crianças, presas no Castelo desta Cidade, e vindas do Grão Pará com a culpa de serem chefes de rebelião naquela província. Depois de breve debate, se decidiu que se remetesse essa indicação ao governo, a fim de a tomar em consideração, fazendo castigar os culpados da arbitrária prisão destes desgraçados, no caso que os haja.

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  5. ricardoconduru 12 de outubro de 2021 / 20:17

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Questionamento sobre a prisão de Felipe Patroni em 1822

    Jornal “O Paraense”, nº 4, de de 1 de junho de 1822, folha 4, púbica carta do leitor indagando ao redator sobre a prisão de Felipe Patroni, ocorrida em 25 de maio de 1822.

    Sr. Redator,

    Que é isto? Patroni preso!…Ah! Quem o pensara? E preso por ser o amigo da pátria, o defensor dos seus compatriotas. Eu bem adivinhei isso mesmo; eu bem previ que Patroni, em lugar de ser premiado, havia de ser punido. Ora, que a sua perseguição fosse em outro país, poder-se-ia relevar; mas que seja perseguido na sua própria província, a bem da qual ele se sacrificou, ele perdeu seus interesses, ele sofreu mil incômodos… Paraenses, eis o prêmio dos esforços, que a vosso benefício fez o vosso amigo!

    O que porém há mais de notável é que Patroni não só seja preso, mas até o seja ignominiosamente. Patroni estava muito sossegado em sua casa. Eis lhe aparece no dia 25 de maio o escrivão Watrin com toda a cáfila dos quadrilheiros da ouvidoria e dos sargentos. Oh! Roubaria Patroni alguém nas estradas? Que é da chamada constituição? No tempo antigo não se tratava com ignomínia um simples cidadão; e hoje prende-se com ignomínia um bacharel em duas faculdades, cidadão honrado, zeloso do bem da sua pátria, e que por causa dela é que está criminado? Que é isto? Senhor redator, queira explicar-me este mistério, que eu não entendo.

    Seu leitor.

    O amigo da verdade.

    Sr. correspondente,

    O que Patroni suporta é o prêmio dos serviços que ele tem feito ao Pará. Isto só lhe respondem.

    Seus sinceros e apaixonados.

    Os redatores.

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  6. ricardoconduru 13 de outubro de 2021 / 22:22

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Reconhecimento de Felipe Patroni aos amigos em 1822

    Jornal “O Paraense”, Suplemento ao nº 5, de 5 de junho de 1822, publica o reconhecimento de Felipe Patroni aos amigos pelo apoio dado a ele diante das injustiças sofridas.

    Filippe Alberto Patroni Martins Maciel Parente, sensível ao interesse que por ele tem tomado seus amigos que sentem vivamente a injustiça com ele praticada, antes de lhe dar o último abraço, pois tem de partir cedo para Portugal, onde se deverá demorar por algum tempo notável, faz público o seu reconhecimento para com todos eles em geral, e particularmente agradece aos Ilmos. Srs. Dionísio de Faria Maciel, seu tio, Manoel Caetano da Silva, Miguel Joaquim de Cerqueira, João Batista Gonçalves Campos e Pedro Rodrigues, aos quais erige este monumento de eterna gratidão.

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  7. ricardoconduru 14 de outubro de 2021 / 22:34

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    Patroni deixa “O Paraense” nas mãos de pessoas assaz inteligentes

    Jornal “O Paraense”, nº 9, de 19 de junho de 1822, publica nota redigida por Felipe Patroni informando de sua partida para Lisboa, deixando o periódico Paraense nas mãos de pessoas assaz inteligentes.

    Patroni faz saber ao respeitável público, que por dever partir cedo para Lisboa, não redige há 15 dias o periódico Paraense: sua redação entretanto fica incumbida à pessoas assaz inteligentes, e que lhe prometem, e com certeza, de que cabalmente corresponderá ao sensato público sua diligência neste serviço.

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  8. ricardoconduru 15 de outubro de 2021 / 19:48

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    O escravo doado por Felipe Patroni a José Bernanrdo Santarém.

    Jornal do Pará, nº 247, de 30 de outubro de 1867, folha 2, publica nota da secretaria de polícia informado sobre a existência na prisão de um escravo de nome Domingos, que pertenceu a Felipe Patroni e que havia sido doado a José Bernardo Santarém.

    SECRETARIA DE POLÍCIA

    Por esta repartição de faz público, que existe na cadeia desta cidade um crioulo de nome Domingos, que diz ter sido escravo do finado tenente da armada, José Bernardo Santarém, por doação que lhe fizera o falecido Felipe Alberto Patroni Martins Maciel Parente; quem portanto se julgar em direito ao mesmo, reclame-o no prazo de 15 dias, exibindo títulos legítimos. Secretaria de polícia do Pará, 26 de outubro de 1867.

    O secretário.

    B. de Sena Lameira

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  9. ricardoconduru 16 de outubro de 2021 / 23:16

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    Os Balões Patriotas

    Diário de Belém, nº 170, de 1º de agosto de 1882, folha 1, publica anúncio sobre a venda de Balões para iluminação com os nomes dos patriotas da liberdade, entre eles Batista Campos e Patroni.

    BALÕES PATRIOTAS

    Para iluminação, com os nomes dos patriotas da liberdade e da data gloriosa, a saber:

    Batista Campos,

    Boaventura da Silva,

    Romualdo Antônio de Seixas,

    João Balby,

    Tenreiro Aranha,

    Patroni, e

    15 de agosto.

    Grande sortimento na Livraria Popular, de TAVEIRA & SERRA, Rua dos Mercadores, canto da travessa 7 de setembro.

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  10. ricardoconduru 17 de outubro de 2021 / 22:46

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Patroni queria ser o Penn do Pará

    “Diário de Notícias”, do Pará, nº 71, de 1884, folha 3, Publica nota do Diário do Grão-Pará sobre a abolição da escravatura no Ceará, quando então faz referência a Felipe Patroni, que em 1821, nas cortes portuguesas, exclamava querer ser o Penn do Pará “que manteve os direitos da humanidade”

    (…)

    O “Diário do Grão-Pará”, sincero e convencido atleta da causa abolicionista, que é o artigo primeiro de seu programa, saúda entusiasticamente a província do Ceará, fazendo os mais ardentes votos para que, já que não lhe é dado ser a primeira seja a Amazônia a segunda constelação nacional a redimir os escravos que nela habitam, e veja realizada a nobre aspiração que Patroni, quando em 1821 exclamava nas cortes portuguesas:

    “Delawere é o rio que banha o estado, onde o grande Penn (*) manteve os direitos da humanidade, não consentindo lá a escravidão; ah! Quem me dera ser o Penn do Pará.”

    (*)William Penn (1644 – 1718) foi um escritor e pensador religioso inglês (Nota do Blog).

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  11. ricardoconduru 19 de outubro de 2021 / 23:12

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Filho de Francisco Vinagre é nomeado suplente de subdelegado em 1878

    Jornal O Liberal do Pará, número 23 de 19 de março de 1878, folha 1, publica sobre a nomeação do filho de Francisco Vinagre como suplentes de sudelegado em Itapicuru.

    Itapicuru – Foram nomeados: subdelegado José Martins Pereira, 1º, 2º e 3° suplentes João Francisco Vinagre, Nuno José Ferreira de Mendonça e alferes Inácio de Souza Tavares.

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  12. ricardoconduru 20 de outubro de 2021 / 21:43

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Filho de Francisco Vinagre é exonerado do cargo de suplente de subdelegado

    Jornal “O Liberal do Pará”, número 64, de 19 de março de 1880, folha 1.

    PARTE OFICIAL

    EXPEDIENTE DO GOVERNO

    Dia 3 de março de 1880.

    PORTARIA

    O presidente da província, tendo em vista a proposta feita pelo dr. Chefe de Polícia em ofício de ontem, sob o número 110, resolve exonerar os cidadãos João Francisco Vinagre e Luiz Francisco da Cunha dos cargos este de subdelegado de polícia de S. Domingos da Boa Vista e aquele de 1º suplente do subdelegado de Itapicuru, e nomear: para 1º suplente de Itapicuru o cidadão Bento.

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  13. ricardoconduru 21 de outubro de 2021 / 22:31

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Filho de Francisco Vingre compõe o Partido Republicano em 1893

    Jornal A República, de Belém do Pará, número 631, de 28 de julho de 1893, publica a relação dos membros do Partido Republicano do Distrito de Itapicuru, entre eles, João, o filho de Francisco Vinagre.

    Partido Republicano de Itapicuru.

    Acha-se aprovada a reorganização do diretório do partido republicano do distrito de Itapicuru, ali procedida em 28 de março último.

    Felicitamos os nossos correligionarios de Itapicuru pela acertada escolha que fizeram, confiando a direção do partido aos nossos dedicados amigos que ali gozam de legítima influência.

    O diretório está assim composto:

    Presidente: Francisco José de Souza Júnior.

    Vice-presidente – Inácio Pedro Ferreira.

    Secretaria – Antônio Francisco de Souza.

    Membros: José Pedro Pastana, Mariano José Cardias, João Francisco Vinagre, José Antônio Mendes. Delegado perante o congresso – Joaquim A. da Paixão.

    Parabéns ao digno eleitorado de Itapicuru.

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  14. ricardoconduru 22 de outubro de 2021 / 23:03

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    O Alferes Manoel da Silva Ramos

    Jornal “Estrella do Amazonas”, de Manaus, nº 261, de 16 de janeiro de 1858, folha 4, publica nota assinada por “O Justiceiro”, sobre o porquê de Manoel da Silva Ramos permanecer ainda no posto de Alferes, sendo que por vários anos prestou relevantes serviços, inclusive na província do Pará na época da Cabanagem.

    PERGUNTA INOCENTE

    Qual a razão por que desde a organização nesta capital do Batalhão nº 1 de Caçadores da Guarda Nacional serve Manoel da Silva Ramos no posto de Alferes? Este senhor prestou relevantes serviços à província do Pará já concorrendo voluntariamente por ocasião da calamitosa época da cabanagem, como servindo por muito tempo de sargento ajudante do batalhão policial daquela capital; e nesta província não tem prestado poucos; ignoramos o porquê ainda conserva-se o senhor Ramos no posto de Alferes, sendo que os Senhores Nina, Brandão, Braga etc., etc. sem mais serviços ou iguais por aquele prestados, já estão Tenentes e Capitães com preterição dos seus direitos. Consta-nos que agora foi proposto Sr. Alcântara para Tenente; porém, confiamos no caráter justiceiro de S. Exa., o Sr. Presidente da província(*), que não consentirá em mais esta injustiça.

    O Justiceiro.

    (*)Trata-se de Francisco José Furtado, que presidiu a Província do Amazonas de novembro de 1857 a maio de 1859 (Nota do Blog).

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  15. ricardoconduru 23 de outubro de 2021 / 23:01

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Manoel Urbano, o obscuro

    “Jornal do Commercio”, do Amazonas, nº 2.258, de 17 de julho de 1910, folha 1, publica texto de Bento Aranha sobre a figura de Manoel Urbano da Encarnação, com seus feitos pelas províncias do Grão-Pará e Amazonas, incluindo sua participação na Cabanagem ao lado de forças legalistas. No texto, Bento Aranha assinala ainda que a cabanagem se estendeu até as fronteiras da Bolívia, Venezuela e Peru.

    Manoel Urbano

    Nesta data, a 17 de julho do ano de 1897, flagelado pela varíola que então grassava com caráter epidêmico nesta capital, terminou seus dias de existência Manoel Urbano da Encarnação, obscuro amazonense por nascimento e raça, mas glorioso brasileiro por serviços relevantes prestados com honradez, desprendimento e abnegado patriotismo à sua terra natal. No texto, Bento Aranha assinala que a cabanagem se estendeu até as fronteiras da Bolívia, Venezuela e Peru.

    Nasceu nesta vasta região do maravilhoso vale do Amazonas no ano de 1808, sendo dotado de nobilíssimas e recomendáveis qualidades, pelas quais conseguia impor-se à admiração e respeito dos sábios e grandes homens que de toda a parte do globo mundial vinham estudar, reconhecer e admirar a grandeza e os encantos do afamado rio-mar.

    Nos primeiros anos de sua mocidade, obscuríssimo, pobre e desprotegido dos homens, prestou à pátria relevantíssimos serviços, alistado às fileiras dos defensores da sua independência e da ordem pública, perturbada pela cabanagem desoladora e desbragadamente anárquica, que assolou toda a província do Grão-Pará até as suas fronteiras no Madeira com a Bolívia, no Rio Negro com a Venezuela e no Solimões com o Peru, pagando o precioso, mas caríssimo tributo de sangue, como verdadeiro patriota.

    Castelnau, Silva Coutinho, Costa Azevedo, Chandless, Tenreiro Aranha e seus sucessores na administração do Amazonas, até 1889, foram seus mais fervorosos admiradores, tendo-o por auxiliar nos estudos profundos que fizeram na sede hidrográfica e riquezas naturais do Alto Amazonas.

    Foi ele o incansável e poderoso auxiliar encarregado por Tenreiro Aranha, em 1852, da exploração do rio Purus, da sua navegabilidade e riquezas naturais, assim como de Chandless nas suas viagens de estudos e explorações do Andirá, Carumiá, Purus e Juruá, e de Silva Coutinho do Madeira e do Purus.

    Em 1884 ou 1885, salvando o erro da data histórica, a assembleia legislativa provincial, por unanimidade de seus eleitos, depois de terem estes feitos a apologia da relevância do serviço prestados por Manoel Urbano da Encarnação à terra do seu nascimento, desde os tempos de simples comarca, até depois de sua elevação à categoria de província, sem remuneração alguma dos primeiros governos do Grão-Pará e Amazonas, nem do Império, solicitou deste a concessão gratuita a ele como prêmio dos mesmos serviços, do pedaço de terra que ocupava no Purus, lugar que se denomina Canutama, devidamente medido e demarcado à custa da nação.

    Essa foi considerada a mais justa e patriótica homenagem do Amazonas, ao mais prestimoso quão obscuro, por nascimento, de todos os seus filhos, como um tributo de gratidão pelos reais serviços prestados ao desenvolvimento e progresso da província do Amazonas, que Tenreiro Aranha fundou.

    Depois da ascensão da república o despojaram de seu único patrimônio, dessa Canutama, único pedaço do Purus, que só a ele se deveu ter sido conhecida a sua inexorável riqueza e importância industrial, comercial e da navegabilidade, para ser aí criado um município e logo em seguida uma comarca, cujos juízes, esquecidos da missão que lhes cabia de distribuir entre os seus jurisdicionados verdadeira justiça, a quem quer que dela tivesse sede e direito, o deixaram ficar espoliado de sua propriedade, reduzido à miséria, e condenado vergonhosamente pela pátria, sobretudo pela sua própria terra natal.

    Está sepultado no cemitério da colônia de S. Raimundo, arrabalde desta capital, sem ter uma lápide que o relembre à mocidade de amazonense, como um exemplo de virtudes cívicas, digno de ser imitado.

    O Amazonas deve a Manoel Urbano uma grande parte da fama dos inexoráveis tesouros de seus ricos e abundantes produtos animais, vegetais e minerais, que se há dilatado por todos os recantos do mundo.

    Bento Aranha.

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  16. ricardoconduru 24 de outubro de 2021 / 20:28

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    A morte do último cabano em 1912 aos 120 anos

    “Jornal do Commercio”, do Amazonas, nº 2.846, de 22 de março de 1912, folha 1, publica sobre a morte do indígena Cristovam da Gama com a idade de 120 anos, em Parintins, no Amazonas. O mesmo afirmava que “tomou parte” da cabanagem. Entende-se com isso que participou ao lado dos cabanos, e não contra eles. Sendo verdade, Cristovam seria o último cabano a partir.

    Longevidade

    Falece um macróbio em Parintins. – O elixir da longa vida?

    De um nosso companheiro a serviço do jornal em diversos lugares do interior do Estado recebemos a notícia de que falecera no lugar denominado Ramos, em Parintins, o lavrador Cristovam da Gama, natural do Pará e contando 120 anos de idade.

    O fato deu-se no dia 11 do corrente.

    Cristovam Gama era oriundo de uma tribo indígena habitante no estado vizinho e tomou parte, segundo referia sempre, na célebre revolução de 1835, conhecida vulgarmente por cabanagem.

    Esse macróbio que parece haver tomado farta dose de elixir da longa vida, celebrava ainda as suas proezas de moço, contando-as a quem manifestava interesse em sabê-las.

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  17. ricardoconduru 25 de outubro de 2021 / 09:37

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Câmara de Manaus oficia a de Barcelos sobre a cabanagem em 1835

    Jornal do Commercio, do Amazonas, nº 2.167, de 13 de abril de 1910, folha 2, publica nota sobre o ocorrido em 13 de abril de 1835, quando a câmara municipal de Manaus oficiou a de Barcelos sobre ocorrências da cabanagem em Belém e baixo Amazonas.

    GRÃOS HISTÓRICOS

    13 de abril

    (…)

    1835 – Sobre as ocorrências da cabanagem em Belém e baixo Amazonas, a câmara municipal de Manaus oficia a de Barcelos.

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  18. ricardoconduru 26 de outubro de 2021 / 16:20

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    Boaventura Bentes pacifica a tropa em Manaus em 1832

    Jornal do Commercio, do Amazonas, nº 2.167, de 13 de abril de 1910, folha 2, publica nota sobre o ocorrido em 13 de abril de 1832, sobre a pacificação da revolta da tropa em Manaus.

    GRÃOS HISTÓRICOS

    13 de abril

    (…)

    1832 – Pacificação da revolta da tropa que se havia rebelado na véspera, no quartel federal em Manaus, pelo tenente Boaventura Ferreira Bentes.

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  19. ricardoconduru 27 de outubro de 2021 / 21:37

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    O parente distante do Brigadeiro Soares de Andrea

    Jornal do Commercio, do Amazonas, número 19.871, de 6 de agosto de 1968, publica nota social sobre parente distante do Brigadeiro Soares de Andréa, que assumiu a Presidência do Pará em 1836, e responsável pela grande repressão aos cabanos.

    24 Horas na Sociedade.

    CONVIVÊNCIA SOCIAL

    (…)

    5 – E o Instituto Geográfico e Histórico recebeu a honrosa visita do eminente jurista carioca, Dr. José Andréa, assessor do Ministro do Interior. O ilustre visitante foi recebido pelo padre Nonato Pinheiro orador oficial do IGHA, que lhe mostrou as dependências e as valiosas coleções da casa. O Dr. Andréa é filho de amazonense, e seu trisavó era irmão do Brigadeiro Soares Andréa, pacificador da cabanagem. No livro de impressões do IGHA o assessor do ministro Albuquerque Lima deixou um honroso termo.

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  20. ricardoconduru 28 de outubro de 2021 / 21:23

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    Ossadas humanas do tempo da Cabanagem

    Jornal Gazeta do Norte, do Ceará, número 26, de 1 de fevereiro de 1882, reproduz texto do jornal Diário do Grão-Pará, sobre ossadas humanas encontradas em uma vala aberta para canalização de gás.

    Sob o epígrafe Ossadas Humanas diz o Diário do Grão-Pará: ” Junto ao edifício da cadeia pública, em uma vala que se está abrindo para a canalização do gás, que o Sr. Dr. Chefe de Polícia fez examinar pelos senhores doutores Cândido Bastos Moraes Bitencourt e Aprigio Andrade.

    Os facultativos verificaram que é ossada humana e pertence a três esqueletos inumados, aproximadamente há meio seculo; talvez desde os lutuosos dias da Cabanagem.

    Transladaram as ossadas para cemitério público.”

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  21. ricardoconduru 30 de outubro de 2021 / 11:07

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    Os fatos esquecidos da nossa história – Por Ricardo Condurú

    A morte do legalista Serafim dos Anjos com 117 anos em Colares

    Jornal “O Paiz”, do Rio de Janeiro, nº 5227, de 27 de janeiro de 1899, folha 1, reproduz nota do jornal paraense Folha do Norte sobre a morte de Serafim dos Anjos no município de Colares, com 117 anos, antigo legalista que pegou em armas para combater a cabanagem.

    Nos primeiros dias deste mês, faleceu em Colares, estado do Pará, Serafim dos Anjos, com 117 anos.

    “Até bem pouco tempo, diz a Folha do Norte, calafetava canoas, executando também o ofício de marceneiro.

    Até o último momento conservou íntegra as faculdades mentais.

    O velho Sefarim era uma crônica viva dos acontecimentos que aqui se deram antes e depois da independência.

    Durante a revolução de 1835 (cabanagem) pegou em armas em defesa da legalidade”.

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